Wednesday, December 28, 2005

Gostos Adquiridos - Peter Mayle

Sobre o quê: Peter Mayle é um redator publicitário londrino que abandou a vida dura das agências para se dedicar a descobrir as delícias de morar na Provence, interior da França. Desde então, ele nos presenteia com histórias dessa nova vida. Em Gostos Adquiridos, a dura missão do autor é revelar aos pobres mortais os hábitos e manias dos milionários.

Crítica: Sem querer puxar a sardinha para a minha brasinha, redatores publicitários podem não ser os melhores escritores do mundo, mas ninguém melhor para fazer um texto falando bem, ou seja, vendendo alguma coisa. E que texto delicioso tem Peter Mayle! Não sei que gosto têm trufas nem 99% dos alimentos e bebidas que ele descreve nos seus livros, mas acho que não quero saber, quero pensar que tudo é tão suculento, suculento mesmo, quanto esse texto tão gostoso.
Se o autor já era ótimo falando de coisas que a gente não sabe se são boas ou não, dá pra imaginar o que acontece quando ele resolve falar de coisas que a gente sabe que são maravilhosas apesar de nunca ter experimentado. Exemplo: passear de limusine em Nova Iorque, sair de jato pela Europa para escolher em que restaurante vai almoçar, fazer sapatos sob medida escolhendo todos os detalhes. Até quem nunca sonhou em ser milionário, se é que essa alma existe, tem vontade de sair correndo para fazer uma fezinha na loto depois de alguns capítulos. Mas não pense que Peter Mayle faz uma ode ao dinheiro e ao materialismo, ele mostra muito bem que nem tudo são flores na vida de um milionário. Pode acontecer, como ele relata, de um milionário pegar seu jornal matinal para ler e descobrir que ele não foi passado corretamente. Está enrugado! E pode acontecer de ser na página favorita dele! Que horror!Usando esse tipo de ironia, na verdade o autor nos mostra a tendência de todo milionário, e de todo mundo que tem mais do que precisa, de fazer imensas tempestades em pequenos copos de água. Atire a primeira colherzinha de prata quem nunca se revoltou com um cafezinho previamente açurado no qual se pretendia colocar adoçante ou nada mesmo. Somos todos uns fúteis bobocas. Só que uns tem mais dinheiro, muito mais dinheiro e por isso podem ser ainda mais fúteis e mais bobocas. Além disso, Peter nos mostra, que esse dinheiro, contrariando o dito popular, pode sim trazer felicidade, basta saber usar. Por isso, Gostos Adquiridos também poderia se chamar Manual do Milionário, para pessoa saber o que fazer com seu dinheiro em vez de ficar só reclamando dos jornais enrugados.
É uma leitura fascinante. Leve. Acompanha um drink na praia ou na piscina ou no sofá mesmo do mesmo jeito que um prato de petiscos, você vai consumindo e quando vê já acabou. Passou saborosamente e você nem sentiu. Assim como seria fácil devorar vários pratos de petiscos com vários drinks, seria fácil fazer o mesmo com vários livros como esse. Que tratam de assuntos tão pulsantes quanto a escolha de uma camisa na alfaitaria mais luxuosa de Londres. O livro tem cada sugestão maravilhosa para um rico indeciso passar seus dias. Provavelmente, você não terá dinheiro pra experimentar nenhuma delas, mas com certeza vai usar sua imaginação pra isso, viu? Ë a literatura fazendo seu cérebro trabalhar, pelo menos até seu cérebro ganhar tanto dinheiro que possa tirar férias.
Claro que se Peter Mayle fosse mulher, como a crítica que vos fala, ele ainda encontraria uma incrível gama de opções nos salões de beleza e spas de relaxamento ( os meus preferidos): maassagens indianas, pedras quentes, scrubs, banhos de cleóprata...ah se eu começar a falar não páro mais. Daria um livro. Quem sabe o editor do Peter Mayle não se interessa? É um trabalho duro, mas, se alguém tem que fazer, eu faço. O pobre Peter já deve estar cansado dessa vida de vinhos raros e paparicos. Urge que ele arrume uma ajudante. Já. E para finalizar a crítica, resta a nos mortais saber que um dos grandes prazeres da vida não custa tão caro. Ler um bom livro. Exatamente como esse.
Gisela Cesario

A guerra dos vegetais - FILME

Sobre o quê: Numa cidade cuja principal atividade é o cultivo de vegetais, acontece todo ano a grande competição para eleger o maior vegetal de todos. Este ano, porém, a competição está ameaçada por um predador desconhecido que destrói as plantanções. Somente o exterminador de predadores e seu fiel cão podem salvar a cidade e a competição.

Crítica: Calma, você não enlouqueceu. Pode também ser que o nome do filme seja a guerra dos legumes, não lembro mais. Mas isso não importa. Legumes, vegetais, resolvi botar críticas, ou melhor, resenhas de filmes, aqui também. Vou estrear com a Guerra dos Legumes, dos Vegetais ou a Revolta, sei lá. Tá achando rídiculo? Então vai assisitir o horário político para ver se você vota sim ou não pelo desarmamento. Pronto, continuando, a Guerra dos Vegetais, vamos chamá-lo assim para não fazer mais confusão, é um filme bem adulto. Darei exemplos ao longo da resenha, mas posso adiantar que fui a pessoa que mais riu no filme. Tudo bem que a platéia do cinema era formada por mim, duas babás e cinco crianças. As crianças não entendiam as piadas, nem era possível, não eram piadas infantis, eram para um adulto bobo ou bem humorado, meu caso. Vou chegar no exemplo: tem uma hora que o cachorro está dirigindo (vejam bem, é um desenho, o cachorro dirige, mas não fala, claro, cachorro não fala!) e, dirigindo, passa por um monte de obstáculos típicos de desenho animado, derruba muros, bate em postes etc, mas, qando o carro pára, o cão está puto ( desculpem mas se eu dissesse com raiva podiam entender que ele estava doente), bom, está puto e dá um soco no volante, aí, só aí, depois de tanto acidente, o air bag explode na cara dele. Nem precisa dizer que só eu ri, as babás não tinham carro e as crianças não sabiam o que era air bag. Tem outros exemplos. Mas não vou entregar de bandeja. Tá bom: só mais um, outra hora o cachorro pega um carrinho de brinquedo, desses que a criança sobe e fica botando moedas para o carrinho funcionar, comum em shoppings. O cachorro pega um carro desses e sai voando, perseguido pelo cachorro adversário, aí a luzinha acende, o carro precisa de mais moedas, os dois cachorros se olham, o adversário procura, procura, procura e finalmente acha uma moeda no bolso (bolso, isso mesmo), dá ao cachorro que está dirigindo e eles continuam a perseguição. Fala aí...Não é um filme adulto?
Antigamente as pessoas adultas iam ao cinema assitir ao novo filme do pato Donald ou tom e jerry, hoje se acha que desenho é coisa de criança. Quem inventou essa imbecilidade? Então quer dizer que Jim Carrey é adulto? Eu acho o pato Donald mais sério. Peraí, eu adoro o Jim Carrey, só que acho mais fácil ele ser infantil que a guerra dos vegetais ou procurando nemo.
Nesses desenhos, há situações que só são engraçadas para adultos mesmo, sátiras de um cotiadiano que não é o cotidiando de uma criança, até porque criança não tem cotidiano, cada dia uma aventura.
Não me incomodei com o barulho que as cinco crianças fizeram na sessao de 15 horas do cinema, achei bonitinho que elas também estivessem gostando do filme. Eles gostavam de uma outra forma, como gostariam de um desenho do he-man. E talvez isso seja o maior encanto. Nem tão adulto como um south park, nem tão criança como um power rangers. Apenas muito do cacete. Muito engraçado.
Não tenha vergonha. Funde um fã cluble, defenda essa idéia. Mas se não der, arraste seu sobrinho e cole um silver tape na boca da gracinha. Ele vai adorar. E você, com certeza, vai adorar mais ainda.
Gisela Cesario

Friday, December 23, 2005

Cuba e a Noite - Pico Iyer

Sobre o quê: Em uma de suas muitas visitas a Cuba, um fotógrafo americano se apaixona por uma cubana, mas a situação política do país não permite que eles tenham um romance normal. Isso faz com que ele fique sempre em dúvida se a cubana quer realmente casar com ele ou apenas fugir de Cuba.

Crítica: Existem coisas às quais a gente só dá valor quando perde. Pessoas de quem a gente só percebe que gosta depois que vão embora. E livros que a gente sente mais vontade de ler depois do final. Talvez porque só o final, só as últimas palavras revelem a beleza do que passou e você não viu. E agora, com essa beleza nos olhos, o leitor se sente pronto a ler tudo de novo, dessa vez imbuído do espírito do final. Foi isso que fiz com Cuba e a Noite. Só que talvez tenha esperado tempo demais. Foram anos entre o final e o recomeço. O espírito se perdeu. Comecei a reler desinteressada, desconfiada de mim mesmo e do livro.
Não vou negar que, nas primeiras páginas, a história parece pegar no tranco. A visão do autor parece americana demais, a visão da cubana parece americana demais, tudo parece americano demais, cheguei a pensar que eu não entendia nada de política quando era mais nova e gostei desse livro. Mas, vencendo os buracos do caminho, descobri que esse negócio de americano demais estava mais na minha cabeça que na história. Estamos todos com um pé atrás com os USA desde a guerra do Iraque, mas não vamos punir Cuba e a Noite por isso. Enquanto Richard, o fotógrafo, vai se deixando conquistar pela cubana e pelas contradições desse país que nos lembra o nosso Brasil, a gente vai se deixando conquistar pela história, pelos personagens que já não parecem nem cubanos nem americanos e começam a lembrar nossos conhecidos. Mães preocupadas, gente que sempre dá um jeitinho em tudo, policiais não muito honestos e aquelas pessoas incríveis que sempre conseguem transformar a pior das situações em uma festa. É impossível não ficar deliciosamente embriagado, não só com rum, mas com os desejos revolucionários, as praias, as poesias de Martí...
E é aí, justamente quando tudo começa a ficar quase estranhamente perfeito, aí é que vem o momento: o livro acaba e eu fico do mesmo jeito que da primeira vez. Com vontade de ler de novo. Agora já sabendo o quanto de sensibilidade, pureza e beleza existe nesse romance. Mas eu tenho outras coisas a fazer na vida. Não posso passar a existência relendo Cuba e a Noite. Só que tenho certeza, algum dia no futuro vou passar por uma prateleira, que pode ser até a minha aqui de casa e ele vai me chamar outra vez. E outra vez eu vou reler pra me lembrar do que eu tinha gostado tanto. E outra vez só vou descobrir no final. E outra vez vou querer reler. Cuba e a noite é a vida. Feita de encontros importantes que a gente só dá importância quando se tornam despedidas.
Gisela Cesario

Sunday, December 04, 2005

O segredo de Emma Corrignan - Sophie Kinsella

Sobre o quê – Emma é uma garota inglesa comum, pesa mais do que as pessoas imaginam, sabe menos do que o patrão imagina etc. Um dia, numa viagem de avião onde ela pensa que vai morrer, resolve contar todos os seus segredos ao cara sentado ao seu lado, o que ela não sabe é que esse cara é o dono da empresa em que ela trabalha.

Crítica – Escrever por inspiração e escrever sob encomenda sempre foram tidos como coisas opostas, um é o ápice da nobreza, a autêntica manifestação da arte nas pontas dos dedos de um ser abençoado chamado escritor. Outro é uma necessidade financeira, olhado com desdém e que jamais deveria ser comparado com arte. Por que estou dizendo isso? Porque Sophie Kinsella não conhece essa barreira. Ela simplesmente ignora essas definições. Por isso, seu primeiro livro, provável fruto de simples inspiração, é simplesmente tão genial quanto o segundo que é tão genial quanto o terceiro que é, PASMEM, tão absolutamente genial quanto “O segredo de Emma Corrignan”. Como ela faz isso? Não sei. Isso deve ser o segredo de Sophie Kinsela. Depois do sucesso de “Os delírios de consumo de Becky bloom” ninguém esperava uma coisa igual da autora, nem eu. O segundo me surpreendeu, o terceiro idem, mas o quarto, no qual ela abandona a sua personagem consumista e parte para outra, o quarto me deixou aterrorizada. Sophie tem poderes sobrenaturais. As palavras dessa autora nos enfeitiçam de uma forma que 300 ou 400 páginas de repente parecem um bilhete. De repente, nada mais importa, nem a sua própria vida, só faz diferença saber qual será a próxima confusão do romance. É incrível como ela consegue manter um suspense permanente, mais concreto e perene que a maioria dos livros policiais, uma situação totalmente inusitada vai se sucedendo a outra até o final da história. E o leitor se pega querendo saber só como vai terminar determinada confusão e depois vai tratar da sua própria vida, mas quando vê, a confusão não termina nunca e quando mais confusão, mais a gente gosta, mais páginas a gente quer o livro tenha. Vou confessar. Nas últimas 50 páginas dos livros de Sophie, eu tento diminuir o ritmo, como um praticante de sexo tântrico literário, tento aumentar a distância entre eu e o final. Sei que a última linha vai me provocar um enorme vazio, uma solidão gigantesca, uma sensação de abandono completo. Terminar um livro dela é como ser expulsa do útero materno, passa-se de um mundo de sonho a nossa realidade inóspita. Só uma coisa nos consola. Sophie é muito, muito jovem. Se Deus quiser e nos rezarmos bastante, ela ainda há de escrever muito.

Gisela Cesario

Tuesday, November 15, 2005

O espião que saiu do frio - John Le Carré

Sobre o quê: Tendo como cenário a Alemanha dividida pelo muro de Berlim, um espião inglês desempenha uma complicada missão em vários países da europa. Seu nome é Alec Leamas e um dos maiores desafios de sua missão é viver diferentes personagens sem se transformar em um deles.

Crítica: Primeiro de tudo, há que se dizer que é um livro complicado. Claro, toda história que tem como pano de fundo a Alemanha, Rússia ou qualquer outro país onde mais de três consoantes juntas podem ser usadas numa palavra, exige, no mínimo, uma dose de atenção maior do leitor. As organizações têm nomes impronunciáveis, as cidades idem, mas a genialidade e o sentimento de Jonh Lê Carré nos dão forças. É tão importante saber o que se passa na confusa mente do nosso agente secreto que encaramos os nomes dos lugares mais estapafúrdios como se fossem souzas e silvas. E tome Abteilung...Na verdade, tanta complicação esconde a história mais simples da humanidade. Um cara durão, capaz de beber até não cair, capaz de apanhar até não desmaiar, capaz de mentir até não se contradizer é pego numa grande armadilha. Não pela organização rival, mas pelo seu próprio coração. Toda sua força e experiência como agente secreto não são suficientes para evitar que ele se apaixone por um bibliotecária carinhosa e pura e dócil, como todas as mulheres merecedoras de um grande amor devem ser, que, só para não perder o rumo complicado da história, é participante do partido comunista. Uma presa fácil para as organizações criminosas que se digladiam pelo poder através de seus agentes secretos. Parece cansativo e é. O livro é uma maratona com obstáculos, mas atravessei todos eles com a esperança de ser a leitora também de uma linda história de amor. O final não é feliz. É cinza como imaginamos que a vida entre as duas alemanhas num dia frio deve ser. É escuro como a noite que esconde os espiões. É amargo como a vida de quem nunca pode assumir uma identidade normal. E, talvez por tudo isso, mereça ainda mais ser uma história de amor. Não daquelas com finais felizes. Mas daquelas com finais reais.

P. S. – Coincidências - Uma: No mesmo período, assisti ao “Jardineiro Fiel” , e descobri que era também de Jonh Lê Carré, Outra: No dia seguinte, assisti “Das coisas belas e sujas” e re-assisti “Alta Fidelidade”, e descobri que os dois são do mesmo diretor, Stephen Frears. A vida vem realmente aos pares, e não é só de havaiana...entendam isso como quiserem.

Gisela Cesario

Wednesday, November 09, 2005

Mandrake - a bíblia e a bengala – Rubem Fonseca

Sobre o quê: Mandrake é um advogado criminal que já apareceu em dois livros: “E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto” e “A grande arte”. Agora o autor nos aproxima da vida pessoal e profissional e de Mandrake, contando suas diversas aventuras de detetive.

Crítica: Me perdoem se eu estiver errada (perdoem também esse começo ), continuo, mas esse livro não era para ser um romance, quer dizer, uma história só? Li na contracapa: “nova aventura de mistério e suspense”. Uma relação tão estreita quanto a de um livro com o leitor não pode começar com uma mentira. Senão a primeira coisa que o leitor sente é decepção. Sou fã de carteirinha do Rubem Fonseca, mas foi isso que senti quando percebi que o livro é quase um livro de contos, como as aventuras de Ed Mort. Claro que isso não desmerece em nada o livro, mas quem compra uma banana quer uma banana, por mais que goste de maçãs. Fruta por fruta, o livro também não é um abacaxi, mas precisava registrar esse fato que teria mudado minhas expectativas e conseqüentemente minhas opiniões, que é melhor eu dizer logo quais são. Vamos lá. Ninguém abre um livro do Rubem Fonseca sem um grande tesão. Como também sou fã de romances policiais, estava maravilhada com o fato de um de meus autores preferidos ter escrito um e mais maravilhada porque ele estava nas minhas mãos, pronto para ser devorado. Fui devorando até o meio quando percebi que havia uma grande divisão entre a bíblia e a bengala. São duas histórias distintas que tem o personagem principal, Mandrake, e alguns outros em comum, mas são duas e não uma como se induz o leitor a pensar. Se você compra um livro cujo nome é Romeu e Julieta, você não acha que primeiro vai ler a história do Romeu, depois a da Julieta, e, no meio da última, algumas outras. Isso doeu. E doeu mais porque é o Rubem Fonseca. Respirei fundo e me conformei. Não foi difícil porque o Mandrake é o personagem mais Rubem Fonseca de Rubem Fonseca, engraçado, cínico, amoral, o detetive por quem se apaixona todo aquele que ama histórias policiais. As do Mandrake são divertidas, mas (infelizmente) não têm a estrutura que um policial classe “A” deve ter. Principalmente a da bengala, onde há falhas que bons detetives de história de detetives certamente vão encontrar. Quer um conselho? Fique com a vida do Mandrake e esqueça os mistérios. Ele é o lado Rubem Fonseca do livro. Quer outro? Espere o próximo livro do autor e torça para que esse seja inteiramente Rubem Fonseca.

Gisela Cesario

Friday, September 02, 2005

Júlio Sumiu - Beto Silva

Sobre o quê: Um adolescente de classe média alta desaparece de sua casa. A mãe e o pai entram em desespero imaginando os horrores de um sequestro. O irmão está mais precocupado em se aproveitar da situação e toda a família acaba envolvida com traficantes e com a polícia de forma absolutamente hilária.

Crítica: Seu casseta escreveu um livro do casseta. Até Júlio Sumiu só Chico Buarque (com Budapeste) tinha me feito ter vontade de reler um livro que eu acabei de ler. Sério. Tive que me segurar para não passar mais uma semana relendo Júlio Sumiu. Um suspense onde todas as peças se encaixam direitinho e mesmo usando a minha super peneira não vi ficar nada que não tivesse uma boa e verossímel explicação. Mas o melhor é o riso. Na capa do livro, está escrito suspense com humor. Devia ser suspense hilário. Passei por maluca várias vezes lendo Júlio Sumiu e rindo sozinha. Beto Silva mostra, que além de um corpinho sarado, tem uma mente mais brilhante que talher em comercial de bombril. Observador atento de todas as manias da nossa sociedade, o autor reconstrói, com requinte de perfeição, a vida de uma familia de classe media da zona sul carioca, o ambiente de uma delegacia, a rotina do tráfico de drogas, a impunidade. E o mais interessante é ver que o humor não atrapalha nada disso. Muito pelo contrário. O humor faz parte do nosso caos, sem humor essa realidade não poderia ser tao bem retratada. É triste fugir de bala perdida, morar na favela, conviver com práticas ilegais, mas é isso que a gente faz no Rio de Janeiro ou em qualquer grande cidade do Brasil. E faz rindo, como no livro do Beto Silva. Se eu fosse um sociólogo, diria que esse livro poderia ser uma tese do comportamento do cidadão diante do caos, olhando-se com frieza, não há situação alguma na história que seja engracada. Um possível sequestro, um envolvimento com traficantes, a dor de uma mãe que pensa ter perdido o filho, a corrupção da polícia. São fatos tristíssimos, podia ser uma novela mexicana. Mas é o texto mais engracado que eu li nos ultimos tempos. Talvez seja isso que a gente faça todos os dias. Focando na graça da desgraça. Afinal, se a vida te deu um limão, arrume mais dois e faca malabarismo no sinal. Felicidade está aí mesmo, para quem assiste menos Jornal Nacional e mais Casseta e Planeta. É possível ser alegre, feliz e sambar no meio de tanta loucura. Se você duvida, faça esse favor a você mesmo. Leia Júlio Sumiu. E como eu não podia terminar de outra forma, vou ter que dizer isso. É do casseta.

Gisela Cesario

Saturday, August 13, 2005

Um bom ano - Peter Mayle

Sobre o quê- Um executivo do mercado financeiro é subitamente demitido e, no mesmo dia, descobre que ganhou uma herança do tio. Uma propriedade na França, onde ele costumava passar as férias. O lugar é enorme, fica no charmoso interior francês e tem até uma produção independente de vinhos. Ele viaja sonhando em mudar de vida, conhece várias pessoas e descobre um segredo muito importante.

Crítica – Desculpem o “sobre o quê” tão bobão, mas a história é essa mesma, e o segredo é mesmo importante para a história. A história é que não é importante para o fato de gostar ou não do livro. Ex- redator publicitário, Peter Mayle se especializou em escrever livros falando da boa vida dos franceses do interior. Começou com “ Um ano na Provence”, que realmente era incrível. Mas talvez fosse assim porque eu nunca tinha ouvido falar na Provence e tudo era novidade naquele livro. Os cenários eram maravilhosas, as descrições não eram chatas, todas milagrosamente feitas na hora certa, e havia alguma coisa naquela literatura que realmente fazia a gente se sentir na Provence. Venho buscando essa sensação em todos os outros livros de Peter Mayle, se não me engano esse é o quarto que leio. Até agora não descobri se é não acho nada demais porque comparo todos ao primeiro ou se não são nada demais mesmo. Em seu último romance, o autor nos leva a um passeio por uma pequenina cidade no interior da França, mostra os peculiares hábitos de seus habitantes, descreve com louvor o apetite deles, obviamente motivado pela comida e a bebida e também faz um misteriozinho. Esse ingrediente final ( com tanta comida no livro, ingrediente é palavra certa) é a única diferença desse livro para os demais. E é um mistério tão pequeno que nem o próprio autor parece dar valor a ele. Faz muito bem. Leitores de Peter Mayle gostam mesmo é de passear por vinícolas francesas, ler um texto bem humorado e de tão bom gosto quanto a comida descrita. Não é um livro que você não consegue largar, mas é um livro que você tem vontade de pegar para relaxar, meio como se faz com a sessão de quadrinhos do jornal, sem pretensão de seriedade mas com um certeza de qualidade. Muita gente chamaria de literatura fácil, mas quem não quer uma vida fácil e regada a vinho de vez em quando? Só faltava vir com o aviso “leia com moderação”.

Gisela Cesário

Monday, July 25, 2005

Assassinato na ABL

Sobre o quê: Uma mórbida coincidência dá início a uma história de assassinatos: um senador que acabara de escrever um livro sobre o envenenamento de todos os imortais é envenenado e morre no dia de sua posse na academia. Essa é a apenas a primeira da série de mortes que terá que ser desvendada pelo comissário Machado Machado, cujo pai era fã de Machado de Assis.

Crítica: É ótimo. Todo mundo devia ler. Pronto. Podia acabar a crítica por aqui mesmo, mas preciso chover no molhado. Bom, Jô Soares é engraçado. Alguém sabia disso? Mesmo quem já esqueceu aquele gordo do viva o gordo, se é que isso é possível, vai reencontra-lo lá nas páginas do seu assassinato na ABL. Alguns diálogos parecem ter saído de dentro do programa, você pode chegar a imaginar o cenário e os personagens fantasiados. Pero, sin perder la seriedad Del mysterio...Sim. Mais uma vez Jô nos mostrar que joga nas onze e ainda faz gol de cabeça. Sem a comédia, seria um ótimo livro de mistério, pois todos os ingredientes do policial perfeito estão lá: envolvimentos amorosos, noites mal dormidas, pistas indecifráveis, suspeitos prováveis, suspeitos possíveis e, claro, um final surpreendente e totalmente lógico. Agora, sem o mistério, seria um ótimo livro de humor, porque nosso detetive é o Jô, nosso suspeito é o Jô, os membros da ABL, as mulheres fatais, os motoristas, os mordomos, todos são o Jô, com o mesmo humor impagável. Mas mesmo sem o mistério e sem o humor, seria um ótimo livro de literatura porque nos faz viajar no tempo até 1920 com todos os detalhes. Se fosse um filme, seria um daqueles em que você fica procurando um erro no cenário e se surpreende com o cuidado da produção. Não faltam nem os anúncios de remédio para tosse no bonde. E como as palavras são o cenário de um livro, Jô nos cerca de termos charmosos e rebuscados, de um português que, apesar de pedir um Aurélio de vez em quando, nos envolve num encantamento histórico tão grande a ponto de lá pelo meio do livro estarmos passeando bem à vontade pelas ruas do início do século passado. Li uma crítica ruim a este livro e confesso que fiquei torcendo para que o autor da crítica estivesse errado, para que fosse inveja, sei lá. Comecei a ler com o pé atrás ( leio bem nessa posição) e fui até o fim assim, mas valeu a pena porque pude confirmar com todas as letras das belas e perfeitas palavras de Jô. Se alguém falou mal era inveja. Ou sei lá.

Gisela Cesário

Tuesday, July 19, 2005

Coleção Primavera-Verão – Judith Kant

Sobre o quê: Para o Lançamento da coleção Primavera -Verão de um novo estilista francês, foi criado um concurso entre as agências de modelos de NY, O que quase todos desconhecem é o fato de tudo ser um estratagema do patrocinador para entrar em contato com a filha que ele nunca conheceu, a dona da agência escolhida. Os preparativos para o grande desfile vão provocar uma reviravolta na vida das modelos, jornalistas e fotógrafos envolvidos.

Crítica: Quem nunca leu um livrinho da Sabrina comprado no jornaleiro atire o primeiro lenço de tafetá (logicamente, úmido de emoção). Coleção Primavera Verão nos traz de volta essa atmosfera sabrinesca. Para quem desconhece o gênero, eram uns romances bem água com açúcar que tinham passagens picantes onde se usavam expressões como “membro duro e intumescido”. No livro de Judith Kant ( escritora de Lúxuria – não li mas já dá pra advinhar), podem se encontrar uma série de membros duros, mamilos rosados, pernas bambas, etceteras molhados e por aí vai. Mas não é um livro pornográfico, ou é o que se chamaria de livro pornográfico para mulheres. Bom, pela capa eu percebi que se tratava da cada vez mais famosa “literatura feminina”, detesto o termo, mas explicarei minhas convicções ideológicas em outra oportunidade. As primeiras páginas me convenceram que se tratava de uma história bem humorada e cheia de frescuras que só as mulheres entendem, até aí ótimo, ia tudo muito brigdet Jones quando os personagens começaram repentinamente a respirar um ar de novela mexicano. Pessoas que mal se conheciam trocavam declarações apaixonadas, envoltas pela realidade que se dissolvia num limbo cor de rosa. Enfim, de uma hora para outra você tem a certeza que a trama da história deixa de ter importância e não se deve perder tempo levando alguma coisa a sério. O negócio é se divertir com os diálogos piegas e improváveis, se deixar levar pelo tesão do membro intumescido e quando não der mesmo, simplesmente ter um ataque de risos. Se fosse uma novela, seria Malhação. As modelos não fazem nada a não ser vestir coisas lindas, beber e se apaixonar. Tudo isso em Paris. Declarações de amor à beira do Rio Sena, noites de festas, sexo tórrido ( claro, tórrido), um intenso clima de vale tudo ( mulher com mulher, velho com moça, pobre com rico) e mucha, mucha fofoca. Por que gostamos de coisas assim? Não sei, mas mesmo sem nenhuma pretensão literária, Judith consegue nos divertir mais do que muita comédia bem escrita. Acho que todos nós temos, se não um lado negro, um lado roxo, com bolinhas cor de rosa cintilantes. Ah, e muitas purpurinas.

Gisela Cesario