Wednesday, December 28, 2005

Gostos Adquiridos - Peter Mayle

Sobre o quê: Peter Mayle é um redator publicitário londrino que abandou a vida dura das agências para se dedicar a descobrir as delícias de morar na Provence, interior da França. Desde então, ele nos presenteia com histórias dessa nova vida. Em Gostos Adquiridos, a dura missão do autor é revelar aos pobres mortais os hábitos e manias dos milionários.

Crítica: Sem querer puxar a sardinha para a minha brasinha, redatores publicitários podem não ser os melhores escritores do mundo, mas ninguém melhor para fazer um texto falando bem, ou seja, vendendo alguma coisa. E que texto delicioso tem Peter Mayle! Não sei que gosto têm trufas nem 99% dos alimentos e bebidas que ele descreve nos seus livros, mas acho que não quero saber, quero pensar que tudo é tão suculento, suculento mesmo, quanto esse texto tão gostoso.
Se o autor já era ótimo falando de coisas que a gente não sabe se são boas ou não, dá pra imaginar o que acontece quando ele resolve falar de coisas que a gente sabe que são maravilhosas apesar de nunca ter experimentado. Exemplo: passear de limusine em Nova Iorque, sair de jato pela Europa para escolher em que restaurante vai almoçar, fazer sapatos sob medida escolhendo todos os detalhes. Até quem nunca sonhou em ser milionário, se é que essa alma existe, tem vontade de sair correndo para fazer uma fezinha na loto depois de alguns capítulos. Mas não pense que Peter Mayle faz uma ode ao dinheiro e ao materialismo, ele mostra muito bem que nem tudo são flores na vida de um milionário. Pode acontecer, como ele relata, de um milionário pegar seu jornal matinal para ler e descobrir que ele não foi passado corretamente. Está enrugado! E pode acontecer de ser na página favorita dele! Que horror!Usando esse tipo de ironia, na verdade o autor nos mostra a tendência de todo milionário, e de todo mundo que tem mais do que precisa, de fazer imensas tempestades em pequenos copos de água. Atire a primeira colherzinha de prata quem nunca se revoltou com um cafezinho previamente açurado no qual se pretendia colocar adoçante ou nada mesmo. Somos todos uns fúteis bobocas. Só que uns tem mais dinheiro, muito mais dinheiro e por isso podem ser ainda mais fúteis e mais bobocas. Além disso, Peter nos mostra, que esse dinheiro, contrariando o dito popular, pode sim trazer felicidade, basta saber usar. Por isso, Gostos Adquiridos também poderia se chamar Manual do Milionário, para pessoa saber o que fazer com seu dinheiro em vez de ficar só reclamando dos jornais enrugados.
É uma leitura fascinante. Leve. Acompanha um drink na praia ou na piscina ou no sofá mesmo do mesmo jeito que um prato de petiscos, você vai consumindo e quando vê já acabou. Passou saborosamente e você nem sentiu. Assim como seria fácil devorar vários pratos de petiscos com vários drinks, seria fácil fazer o mesmo com vários livros como esse. Que tratam de assuntos tão pulsantes quanto a escolha de uma camisa na alfaitaria mais luxuosa de Londres. O livro tem cada sugestão maravilhosa para um rico indeciso passar seus dias. Provavelmente, você não terá dinheiro pra experimentar nenhuma delas, mas com certeza vai usar sua imaginação pra isso, viu? Ë a literatura fazendo seu cérebro trabalhar, pelo menos até seu cérebro ganhar tanto dinheiro que possa tirar férias.
Claro que se Peter Mayle fosse mulher, como a crítica que vos fala, ele ainda encontraria uma incrível gama de opções nos salões de beleza e spas de relaxamento ( os meus preferidos): maassagens indianas, pedras quentes, scrubs, banhos de cleóprata...ah se eu começar a falar não páro mais. Daria um livro. Quem sabe o editor do Peter Mayle não se interessa? É um trabalho duro, mas, se alguém tem que fazer, eu faço. O pobre Peter já deve estar cansado dessa vida de vinhos raros e paparicos. Urge que ele arrume uma ajudante. Já. E para finalizar a crítica, resta a nos mortais saber que um dos grandes prazeres da vida não custa tão caro. Ler um bom livro. Exatamente como esse.
Gisela Cesario

A guerra dos vegetais - FILME

Sobre o quê: Numa cidade cuja principal atividade é o cultivo de vegetais, acontece todo ano a grande competição para eleger o maior vegetal de todos. Este ano, porém, a competição está ameaçada por um predador desconhecido que destrói as plantanções. Somente o exterminador de predadores e seu fiel cão podem salvar a cidade e a competição.

Crítica: Calma, você não enlouqueceu. Pode também ser que o nome do filme seja a guerra dos legumes, não lembro mais. Mas isso não importa. Legumes, vegetais, resolvi botar críticas, ou melhor, resenhas de filmes, aqui também. Vou estrear com a Guerra dos Legumes, dos Vegetais ou a Revolta, sei lá. Tá achando rídiculo? Então vai assisitir o horário político para ver se você vota sim ou não pelo desarmamento. Pronto, continuando, a Guerra dos Vegetais, vamos chamá-lo assim para não fazer mais confusão, é um filme bem adulto. Darei exemplos ao longo da resenha, mas posso adiantar que fui a pessoa que mais riu no filme. Tudo bem que a platéia do cinema era formada por mim, duas babás e cinco crianças. As crianças não entendiam as piadas, nem era possível, não eram piadas infantis, eram para um adulto bobo ou bem humorado, meu caso. Vou chegar no exemplo: tem uma hora que o cachorro está dirigindo (vejam bem, é um desenho, o cachorro dirige, mas não fala, claro, cachorro não fala!) e, dirigindo, passa por um monte de obstáculos típicos de desenho animado, derruba muros, bate em postes etc, mas, qando o carro pára, o cão está puto ( desculpem mas se eu dissesse com raiva podiam entender que ele estava doente), bom, está puto e dá um soco no volante, aí, só aí, depois de tanto acidente, o air bag explode na cara dele. Nem precisa dizer que só eu ri, as babás não tinham carro e as crianças não sabiam o que era air bag. Tem outros exemplos. Mas não vou entregar de bandeja. Tá bom: só mais um, outra hora o cachorro pega um carrinho de brinquedo, desses que a criança sobe e fica botando moedas para o carrinho funcionar, comum em shoppings. O cachorro pega um carro desses e sai voando, perseguido pelo cachorro adversário, aí a luzinha acende, o carro precisa de mais moedas, os dois cachorros se olham, o adversário procura, procura, procura e finalmente acha uma moeda no bolso (bolso, isso mesmo), dá ao cachorro que está dirigindo e eles continuam a perseguição. Fala aí...Não é um filme adulto?
Antigamente as pessoas adultas iam ao cinema assitir ao novo filme do pato Donald ou tom e jerry, hoje se acha que desenho é coisa de criança. Quem inventou essa imbecilidade? Então quer dizer que Jim Carrey é adulto? Eu acho o pato Donald mais sério. Peraí, eu adoro o Jim Carrey, só que acho mais fácil ele ser infantil que a guerra dos vegetais ou procurando nemo.
Nesses desenhos, há situações que só são engraçadas para adultos mesmo, sátiras de um cotiadiano que não é o cotidiando de uma criança, até porque criança não tem cotidiano, cada dia uma aventura.
Não me incomodei com o barulho que as cinco crianças fizeram na sessao de 15 horas do cinema, achei bonitinho que elas também estivessem gostando do filme. Eles gostavam de uma outra forma, como gostariam de um desenho do he-man. E talvez isso seja o maior encanto. Nem tão adulto como um south park, nem tão criança como um power rangers. Apenas muito do cacete. Muito engraçado.
Não tenha vergonha. Funde um fã cluble, defenda essa idéia. Mas se não der, arraste seu sobrinho e cole um silver tape na boca da gracinha. Ele vai adorar. E você, com certeza, vai adorar mais ainda.
Gisela Cesario

Friday, December 23, 2005

Cuba e a Noite - Pico Iyer

Sobre o quê: Em uma de suas muitas visitas a Cuba, um fotógrafo americano se apaixona por uma cubana, mas a situação política do país não permite que eles tenham um romance normal. Isso faz com que ele fique sempre em dúvida se a cubana quer realmente casar com ele ou apenas fugir de Cuba.

Crítica: Existem coisas às quais a gente só dá valor quando perde. Pessoas de quem a gente só percebe que gosta depois que vão embora. E livros que a gente sente mais vontade de ler depois do final. Talvez porque só o final, só as últimas palavras revelem a beleza do que passou e você não viu. E agora, com essa beleza nos olhos, o leitor se sente pronto a ler tudo de novo, dessa vez imbuído do espírito do final. Foi isso que fiz com Cuba e a Noite. Só que talvez tenha esperado tempo demais. Foram anos entre o final e o recomeço. O espírito se perdeu. Comecei a reler desinteressada, desconfiada de mim mesmo e do livro.
Não vou negar que, nas primeiras páginas, a história parece pegar no tranco. A visão do autor parece americana demais, a visão da cubana parece americana demais, tudo parece americano demais, cheguei a pensar que eu não entendia nada de política quando era mais nova e gostei desse livro. Mas, vencendo os buracos do caminho, descobri que esse negócio de americano demais estava mais na minha cabeça que na história. Estamos todos com um pé atrás com os USA desde a guerra do Iraque, mas não vamos punir Cuba e a Noite por isso. Enquanto Richard, o fotógrafo, vai se deixando conquistar pela cubana e pelas contradições desse país que nos lembra o nosso Brasil, a gente vai se deixando conquistar pela história, pelos personagens que já não parecem nem cubanos nem americanos e começam a lembrar nossos conhecidos. Mães preocupadas, gente que sempre dá um jeitinho em tudo, policiais não muito honestos e aquelas pessoas incríveis que sempre conseguem transformar a pior das situações em uma festa. É impossível não ficar deliciosamente embriagado, não só com rum, mas com os desejos revolucionários, as praias, as poesias de Martí...
E é aí, justamente quando tudo começa a ficar quase estranhamente perfeito, aí é que vem o momento: o livro acaba e eu fico do mesmo jeito que da primeira vez. Com vontade de ler de novo. Agora já sabendo o quanto de sensibilidade, pureza e beleza existe nesse romance. Mas eu tenho outras coisas a fazer na vida. Não posso passar a existência relendo Cuba e a Noite. Só que tenho certeza, algum dia no futuro vou passar por uma prateleira, que pode ser até a minha aqui de casa e ele vai me chamar outra vez. E outra vez eu vou reler pra me lembrar do que eu tinha gostado tanto. E outra vez só vou descobrir no final. E outra vez vou querer reler. Cuba e a noite é a vida. Feita de encontros importantes que a gente só dá importância quando se tornam despedidas.
Gisela Cesario

Sunday, December 04, 2005

O segredo de Emma Corrignan - Sophie Kinsella

Sobre o quê – Emma é uma garota inglesa comum, pesa mais do que as pessoas imaginam, sabe menos do que o patrão imagina etc. Um dia, numa viagem de avião onde ela pensa que vai morrer, resolve contar todos os seus segredos ao cara sentado ao seu lado, o que ela não sabe é que esse cara é o dono da empresa em que ela trabalha.

Crítica – Escrever por inspiração e escrever sob encomenda sempre foram tidos como coisas opostas, um é o ápice da nobreza, a autêntica manifestação da arte nas pontas dos dedos de um ser abençoado chamado escritor. Outro é uma necessidade financeira, olhado com desdém e que jamais deveria ser comparado com arte. Por que estou dizendo isso? Porque Sophie Kinsella não conhece essa barreira. Ela simplesmente ignora essas definições. Por isso, seu primeiro livro, provável fruto de simples inspiração, é simplesmente tão genial quanto o segundo que é tão genial quanto o terceiro que é, PASMEM, tão absolutamente genial quanto “O segredo de Emma Corrignan”. Como ela faz isso? Não sei. Isso deve ser o segredo de Sophie Kinsela. Depois do sucesso de “Os delírios de consumo de Becky bloom” ninguém esperava uma coisa igual da autora, nem eu. O segundo me surpreendeu, o terceiro idem, mas o quarto, no qual ela abandona a sua personagem consumista e parte para outra, o quarto me deixou aterrorizada. Sophie tem poderes sobrenaturais. As palavras dessa autora nos enfeitiçam de uma forma que 300 ou 400 páginas de repente parecem um bilhete. De repente, nada mais importa, nem a sua própria vida, só faz diferença saber qual será a próxima confusão do romance. É incrível como ela consegue manter um suspense permanente, mais concreto e perene que a maioria dos livros policiais, uma situação totalmente inusitada vai se sucedendo a outra até o final da história. E o leitor se pega querendo saber só como vai terminar determinada confusão e depois vai tratar da sua própria vida, mas quando vê, a confusão não termina nunca e quando mais confusão, mais a gente gosta, mais páginas a gente quer o livro tenha. Vou confessar. Nas últimas 50 páginas dos livros de Sophie, eu tento diminuir o ritmo, como um praticante de sexo tântrico literário, tento aumentar a distância entre eu e o final. Sei que a última linha vai me provocar um enorme vazio, uma solidão gigantesca, uma sensação de abandono completo. Terminar um livro dela é como ser expulsa do útero materno, passa-se de um mundo de sonho a nossa realidade inóspita. Só uma coisa nos consola. Sophie é muito, muito jovem. Se Deus quiser e nos rezarmos bastante, ela ainda há de escrever muito.

Gisela Cesario