Thursday, February 16, 2006

No sufoco – Chuck Palahniuk

Sobre o quê: Victor Mancini tem muitos problemas. É sexólatra, sua mãe está esclerosada e doente numa clínica que custa uma fortuna por mês, seu emprego é esquisito, mal remunerado e ele vive de aplicar o golpe do sufoco em restaurantes. Finge que está sufocando para ser salvo por alguém e depois pedir dinheiro. Como, por que se chega a isso é o assunto do livro.

Crítica: Percebi que Chuck tinha um texto bom pelas primeiras três linhas do livro, o velho truque do “não leia”, velho e eficiente, quem sabe escrever sabe disso.
Chuck começa bem, continua melhor, vai ficando incrível e quando você tem certeza que vai acontecer alguma coisa pra tornar aquele romance algo banal e ridículo, porque está prometendo demais pra ser verdade, ele surpreende, dando ao leitor ainda mais do que foi prometido. Além de emoção, realismo, humor, nosso autor ainda escreveu um belíssimo suspense.
Não sou louca de contar mais nenhuma palavra além disso, mas o livro é de uma inteligência admirável. Pra mim, admirável é exatamente a palavra, admiro como alguém consegue criar uma história complexa sem deixar nenhuma ponta solta, fazendo com que todos os pequenos diálogos, fatos e detalhes tenham sentido. Num romance perfeito, as coincidências não existem. Criei essa definição agora, mas quando se diz que “o acaso não existe” é apenas o desejo humano de que a vida seja perfeita, onde tudo está perfeitamente planejado não há espaço pra imprevistos. Queremos uma vida tão bem planejada quanto aquele filme do Spielberg onde o menino fala “eu vejo gente morta”. “No sufoco” é assim. Mais do que perfeito, porque perfeito seria somente o que satisfaz plenamente nossas expectativas e o livro vai muito além.
As palavras que me faltam estão todas lá, no texto do romance. No início, o estilo me soou meio confuso, mas depois, pareceu que aquele período de estranhamento havia sido necessário. Afinal, o leitor vai mergulhar num universo nada comum. Ser viciado em sexo não é comum, assim como não é comum ter sido criado por uma mãe louca que vivia sendo presa, e muito menos pode ser comum trabalhar numa aldeia que imita o ano de 1700 como se a pessoa estivesse parada no tempo enquanto turistas tiram foto, os amigos fumam maconha, o patrão é um insensível e enganar os outros parece ser a única maneira de sobreviver. Ora, até que isso tudo não é tão incomum assim. Quanto de absurdo existe no nosso dia a dia e já deixou de ser absurdo simplesmente por não ser novidade? Impossível não se identificar com alguma parte desse mundo sem sentido.
Mas quando você já tiver se acostumado a todas às loucuras do livro assim como já se acostumou com as loucuras da sua vida, quando você achar que chegou no ponto do nada mais te surpreende, essa história ainda vai te surpreender. Uma grande surpresa. O que mais a gente pode esperar da vida?
Como diz tão bem a mãe do menino no livro: "A única fronteira que ainda existe é o mundo dos intangíveis...idéias, histórias, música e arte."

Gisela Cesario

Thursday, February 09, 2006

CSI - Investigação da cena do crime ( Criminal Scene Investigation)

Sobre o quê: A eletrizante equipe do CSI se divide para desvendar dois crimes: os homens investigam o desaparecimento de uma dona de casa provavelmente esquartejada pelo marido. As mulheres investigam o estrangulamento de uma dançarina de boate.

Crítica: Muito bem, Sucker, mexa esse traseiro gordo... Quem já esqueceu de quando Caceta e Planeta debochavam da dupla de policiais americanos ( “fucker and sucker – uma dupla de dois tiras”) certamente poderá lembrar deles ao ler CSI. Tudo bem, essa era a proposta, não posso reclamar. É como alguém ir assistir a Máquina Mortífera e ficar revoltado com a violência. Por que eu fui ler esse livro? Talvez aquele mistério português do céu azul tenha me deixado tão poética que eu queria um pouco da simplicidade de um seriado americano, crime, pistas, assassino, final. Só que nada é tão simples assim. Pra começar, eu me recusava a acreditar que esse não era o livro que tinha dado origem à série da TV. Não sejam teimosos como eu. Acreditem. Não é. Todo mundo já viu um livro bom dar origem a um filme mais ou menos e a uma série mixuruca. Como nunca tive paciência para assisitir a um CSI inteiro na TV, achei que fosse isso, uma série mixuruca saída de uma boa idéia que estaria ali, naquele livro que eu tinha acabado de adquirir. Não. É o contrário. Literalmente. A série mixuruca deu origem a esse livro.
Ora, livros dão origem a filmes, filmes dão origem a seriados, não dá pra ir no sentido inverso.É como querer nascer velho e morrer bebê.
O autor fez seu dever de casa, escreveu um livro que nos dá a impressão de estar vendo cenas na tv, isso normalmente é um elogio, talvez literariamente seja um elogio, a forma é essa mesmo, o problema é o conteúdo. Policiais fanáticos por seu trabalho, que jamais querem ir para casar comer, dormir ou pegar alguém, brigas inversossímeis ( três policiais armadas contra um dançarina de biquini...), aquele retrato da justiça que faz a média do americano suburbano e com uma inteligência abaixo da média ir dormir tranquilo e se sentindo protegido. Bom, eu só consegui me sentir idiota. E o pior era que eu queria ter gostado. Queria ter adorado, até vi na revistinha da net quando passavam os episódios do CSI, eu ia adorar o livro e ia virar fã da série, mesmo ela sendo mais ou menos. Talvez um dia eu assista a um episódio inteiro só pra saber como é. Novamente, acreditem. Não pode ser pior que o livro.
Gisela Cesario

Monday, February 06, 2006

Um céu demasiado azul - Viegas

Sobre o quê: Desvendar o assassinato do filho de um importante membro do ministério. Com esse desafio, dois detetives amigos se reúnem e acabam fazendo um balanço das próprias vidas.

Crítica: Bom, no sobre o que me deu vontade de escrever “boa pergunta”.
Eu mesma me fiz essa pergunta várias vezes durante o romance. Com uma prosa bem envolvente, Viegas vai nos envolvendo pra não dizer nos enrolando e mistério que é bom, necas. Por ter um texto tão agradável, não chega a ser nenhum sacríficio ler as bem traçadas linhas desse autor, mas sobre o quê era mesmo que estávamos falando? É isso que acontece. A gente esquece o objetivo do livro se é que existe algum objetivo, se é que precisa existir algum objetivo num livro além do prazer de ler. Ou não. Um Céu Demasiado Azul é assim,ofuscante. O céu é tão azul que a beleza dessas descrições, das histórias paralelas ofusca o mal iluminado mistério. Sabe quando você entra num ônibus que dá tanta volta que te faz esquecer aonde estava indo? Dizer isso pode parecer meio vago, mas aí vai um dado concreto: os dois personagens principais somente se reencontram na página duzentos. Pelo amor de Deus, a história se baseia no reencontro deles ( leiam a orelha e comprovem!), é um pouco demais esperar até a página duzentos pra começar o que devia ter começado lá onde se começa um livro, nas primeiras páginas. A partir daí, o romance pára de entrar em todas as ruas que encontra e finalmente segue uma linha razoavelmente reta. Até senti algum interesse de saber o desfecho do suspense, quem era o assassino, porquê, esses detalhes que diferenciam um livro de mistério de outro. Só que já era tarde demais, várias vezes voltei as páginas para me lembrar o nome de um personagem, que era ele, por que estavam falando dele. Os nomes parecidos e o português de Portugal não ajudam muito. Alguns autores estrangeiros, normalmente os americanos, têm uma mania muito chata de colocar personagens com dois nomes como, por exemplo, Jack Smith, até aí tudo bem, mas tem horas que se diz Jack saiu, depois vem Smith voltou. Vaí aí um parentêse da minha opinião sobre esse hábito ( Repetir nome não é falta de vocabulário, é demonstração de clareza, o leitor deve ficar ansioso pra saber o final do livro e não de quem o autor está falando) Pronto, parêntese feito, volto ao céu azul de Viegas, onde a gente se perde e não se importa muito em se encontrar de volta, pois o caminho está tão bonito...Não é um romance empolgante, não é um suspense intrigante, mas mesmo assim, a gente tem vontade de continuar lendo, talvez por não acreditar que um texto tão bom simplesmente não vai dar em nada. Apesar dessa decepção, Viegas nos deixa um pouco poéticos e não posso deixar de lembrar daquele música: “Se eu quiser falar com Deus tenho que dar às costas, caminhar, decidido, pela estrada que ao findar vai dar em nada, nada, nada, nada do que eu pensava encontrar.”
Gisela Cesario