Wednesday, June 06, 2007

Os amigos do crime perfeito – Andrés Trapiello

Sobre o quê: Um grupo de amigos aficcionados por romances policiais se reúne para filosofar sobre o crime perfeito. Isso até que um verdadeiro assassinato se encarregue de mostrar as diferenças entre a realidade de um crime e a filosofia das discussões deles.

Crítica: Graças a Deus acabou. Sei que isso não é a melhor maneira de começar uma crítica, mas o nome desse livro bem poderia ser “os inimigos do crime perfeito”. Antes de entrar no mérito que me leva a ser tão cruel, vamos dar os créditos justos e necessários ao autor.
Andrés Trapiello tem um ótimo texto, ao mesmo tempo ágil e suave. De outra maneira, sinceramente eu não teria conseguido chegar ao final do livro.
É como colocar um ótimo ator num filme sem roteiro, ele tenta em vão salvar uma história, mas a única emoção que consegue despertar é a pena pelo desperdício do seu talento.
As palavras do nosso autor gritam, choram, sussurram, usam de todos os artíficios, mas não conseguem fazer de “os amigos do crime perfeito” um livro bom. A história não existe, o foco muda constantemente, o leitor fica perdido sem saber em que acontecimentos prestar atenção. Há muita informação, e nenhuma delas parece ter alguma relação uma com a outra.
Paco Cortez, o personagem principal, é um escritor, ele resolve deixar de escrever e voltar pra sua mulher. E daí? Isso é relevante? Não se sabe. Sua mulher é filha de um policial corrupto e alcoolátra. Tá...Um dos participantes dos ACP ( Amigos do Crime Perfeito) é apaixonado por uma viciada em heroína cujo ex-marido vive aparecendo., E o tal do crime, fator, diria eu fundamental, a um romance policial, só acontece depois de umas 250, isso mesmo 250 páginas de nem sei o quê.
Mesmo após o crime, vemos que uma série de lebres foi levantada e permaneceu lá no alto, esquecidas lebres coitadinhas.
Ainda ajuda o leitor insone a evitar tranquilizantes, o fato de cada um dos participantes do ACP ter um pseudônimo. Paco por exemplo é Sam Spade, tem o sherlock hommes, o Nero Wolfe. Quer dizer que além de decorar um monte de histórias soltas e complexas, o pobre leitor ainda tem que lembrar de cerca de 10 nomes para 5 pessoas. Haja memória.
Claro que as coisas melhroram quando, por volta da página 300, alguma campainha toca e faz lembrar que aquilo é um romance policial, gente tem que morrer, gente tem ser investigada, motivos, assassinos, essas coisinhas básicos. Como aí faltam só umas 50 páginas para o fim do suplício, nosso autor sai correndo e consegue juntar algumas pontas daquelas histórias que estavam perdidas por aí. Pessolmente, minha vontade de ler a última linha e fazer outra coisa qualquer era tão grande que nem liguei muito.
Só um último aviso: se você deseja recomendar esse livro a alguém, não o faça a quem, como eu, é amiga de um crime perfeito.