Tuesday, July 22, 2008

A interpretação do assassinato – Jed Rubenfeld

Sobre o quê: No início do século passado, Freud e Jung juntam-se a outros percussores da psicanálise para desvendar uma série de assassinatos em Nova Iorque.

Crítica: Quando um livro parece bom demais para ser verdade, a gente tenta não alimentar expectativas até pelo menos as últimas 5 páginas.
“A interpretação do assassinato”, no entanto, tem texto para derrubar as dúvidas do leitor mais desconfiado antes mesmo de se chegar ao meio.
Pensei que ainda que o final fosse um absurdo total, teria valido a pena. Explico: o autor tem uma qualidade rara: a capacidade absurda de unir forma e conteúdo. Não só a prosa é leve e deliciosa como também traz um enredo intrigante e cheio de curiosidades interessantíssimas do mundo da psicanálise. O assassinato em série, fio condutor da história, é investigado por um atrapalhado detetive e um azarado legista, mas a vítima sobrevivente é tratada pelo discípulo de Freud, o inventado personagem Younger, que também se apaixona pela analisada. Com uma trama dessas, nosso autor esbanja talento indo e vindo sem tropeções da comédia à profundidade de interpretações psicanalíticas e shakespearianas.
Como brinde extra para os leitores, há ainda a intimidade de Freud e Jung, seu conturbado relacionamento com os temas edipianos e a briga de ideologias com uma corrente de neurologistas. E tudo isso não é ficção, ou grande parte disso não é ficção, como descobrimos ao ler a última página, que, aliás, devia ser lido no início, ou todos correm o risco de, como eu, ter vontade de ler o livro de novo, agora dando mais importância às informações verídicas.
Fica a certeza de que, enquanto alguns livros são rabiscados e outros ordinariamente escritos, poucos são verdadeiramente construídos e arquitetados. É esse o caso de a interpretação do assassinato, onde o autor usa os materiais mais nobres do suspense para erguer uma cuidadosamente elevada estrutura textual. Mais do que uma obra literária. É uma obra de arte.

Gisela Cesario