Wednesday, April 29, 2009

Leite Derramado - Chico Buarque

Sobre o quê: Em seu leito de morte, um ancião de 100 anos e alguma coisa faz uma retrospectiva da sua vida. O passado tem como cenário um rio de janeiro marcado por grandes acontecimentos políticos, intensamente refletidos na vida da sociedade.

Crítica: Depois de tanto tempo sem fazer uma resenha, talvez essa seja a mais inútil das voltas. Elogiar o livro do Chico Buarque. Contar a todos a grande novidade: não há novidades. O autor fez o de sempre, foi brilhante.

E me faz feliz estar aqui, chovendo no molhado, dizendo que o texto de Chico é mais que prosa ou poesia, é musical de tão ritmado. Talvez por isso, da mesma maneira que desejamos ouvir várias vezes uma música boa, dá vontade de ler e reler os livros do Chico Buarque, como se estivéssemos simplesmente apertando o play.

Se antes o autor fazia músicas que contavam histórias, agora escreve história que cantam músicas. Palavras que, de tão perfeitas, soam como aquelas melodias que ganham novos sentidos e mais beleza a cada reprodução.

Há algo cíclico nos textos do Chico, que sacia uma sede que o próprio texto só faz aumentar. Ou aumenta uma sede que só o próprio texto pode saciar.

Um artesão de palavras. Assim é o autor que novamente nos presenteia com uma obra de arte. A vida de Eulálio, o velho moribundo que nas páginas vira menino inocente, jovem irresponsável, adulto ganancioso, sem nunca deixar de ser um homem apaixonado. Na história de seu amor perdido, ele perde também o poder, o dinheiro e a juventude.

Há algo de melancolia no livro de Chico, uma constatação cabisbaixa que a vida não se satisfaz em nos tirar a forma do corpo, os fios de cabelo, o brilho da pele, a vida faz questão, às vezes, de, antes de ir embora, nos tirar a própria dignidade.

A morte é o destino trágico de todas as vidas que, mesmo assim ou por isso mesmo, não precisam ser tão previsíveis e lineares. Podemos começar, terminar, recomeçar, parar no meio, voltar para outro ponto, como a memória caprichosa do velho personagem, como o texto perfeito de Chico Buarque. Cíclico, melancólico e irresistível como o próprio ato de viver.

Gisela Cesario

3 comments:

Survivant said...

O livro é realmente fantástico. Adorei e sua resenha é fantástica.

CLÉRIA SALDANHA said...

Beleza de resenha, Gisela! Está bem à altura da obra magistral de nosso mestre FRANCISCO BUARQUE DE HOLLANDA, que, como você mesma destacou, é perfeito em tudo que faz.
Parabéns!
Cléria Saldanha

CLÉRIA SALDANHA said...

Gisela,

Posso colocar este seu texto (com o respectivo crédito, obviamente)em tópicos das comunidades "CHICO BUARQUE DO BRASIL" e "POLITEAMA", que criei em homenagem ao Chico?
Aguardo resposta para o e-mail: kerojus@yahoo.com.br
Abraços
Cléria Saldanha