Wednesday, October 21, 2009

Bárbara não quer perdão – Antonio Más

Sobre o quê: Num aparente acerto de contas, um travesti que teve, na infância, seus pedidos ignorados pela polícia, volta à cena para complicar a vida do mesmo Delegado que não lhe atendeu. Só que agora o próprio travesti é o criminoso e a tarefa do delegado tornou-se muito mais complicada.

Crítica: Raramente as orelhas têm razão. Se eu fosse uma pessoa que faz piadas idiotas, eu diria que não se deve dar ouvidos às orelhas, mas não sou. Tanto é que a orelha de “Bárbara não quer perdão” fala bem claro que o leitor não será capaz de parar quando começar a ler. Bom, já vi essa frase tantas vezes que perdi a conta, mas dessa vez a orelha fala sério. Li em dois dias, não contínuos obviamente, mas poderia ter lido em um se meus intervalos de leitura fossem maiores que uma hora. E chega de tempo, né? Vamos à crítica, que não existe. É uma crítica tão boa que deve se chamar logo elogio.
Antonio Más, até então um autor desconhecido no meu ignorante mundo, acaba de se tornar um ídolo. Confesso que ajudou o fato de eu ter abandonado pelo meio dois suspenses de autores famosos da companhia das letras por pura falta de paciência de continuar. Claro que isso influiu pra eu escolher um autor que fala minha língua literalmente e que narra um romance passado na minha cidade, o rio de janeiro. Aparentemente, isso é meio caminho andado, mas já vi esse meio caminho ser desandado várias vezes, por isso, creio que o mérito desse autor sobreviveria ainda que ele estivesse escrevendo em finlandês sobre algo acontecido na republica tcheca.
A história se passa com uma agilidade incrível, daquele tipo que faz você virar as páginas tão rapidamente a ponto de quem está a sua volta pensar se você está realmente lendo ou apenas olhando. Só que, além da vontade de devorar, ele desperta ainda a vontade de saborear. Por isso, voltei algumas páginas, principalmente as finais, pra fazer um slow motion das manobras literárias de Antonio Más que mereciam ser apreciadas devagarzinho, estilo degustação.
É um suspense perfeito, onde ninguém é totalmente bonzinho ou totalmente mauzinho, todos os acontecimentos são verossímeis e os personagens, como em toda boa história, não são meros personagens. São gente de verdade. E o final é surpreendente inclusive pra quem, como eu, já espera um final surpreendente. Enfim, pra não dizer que é tudo impecável, a capa da minha edição é meio brega, irrelevante, já que pra mim as orelhas são mais importantes que as capas, apenas um registro para as futuras edições. Afinal, tenho certeza que não sou só eu que vou querer mais ou, pra fechar com um trocadilho tão bobo quanto o do início, todo mundo vai querer Más.

Gisela Cesario