Monday, June 15, 2009

À caça de Harry Winston – Lauren Weisberg

Sobre o quê: Durante um jantar, três amigas fazem uma aposta que envolve mudanças radicais no modo em que cada uma se relaciona com homens.

Crítica: Quando você tem excelentes expectativas a respeito de um autor, duas coisas podem acontecer: uma enorme satisfação ou uma enorme decepção. Infelizmente, fiquei com a segunda. Não que a obra anterior da autora não tivesse dado sinais de que ela se tratava de um típico caso de best-seller de primeiro livro, mas também não era uma bobagem absoluta.
Pois bem, “À caça de Harry...” precisaria melhorar muito para se tornar uma bobagem absoluta. As bobagens absolutas são leves e não nos deixam com raiva ou da autora ou de nós mesmos ou de tudo ao mesmo tempo.
Enquanto lia as mal traçadas linhas de Lauren, me perguntei centenas de vezes a razão de ter escolhido um livro com um título tão idiota. A resposta, claro, era que não me dei ao trabalho de avaliar o livro antes de comprar, totalmente seduzida pela possibilidade de ler algo tão bom quanto “O Diabo veste prada”. Lógico que também apaguei do cérebro o quanto foi decepcionante ler o segundo romance de Lauren, “Todo mundo que vale a pena conhecer”. Pensei que, na pior das hipóteses, daria algumas gargalhadas. E olha que a orelha do livro nos dá uma pista a qual jamais deve ser ignorada - há uma personagem brasileira no livro - ninguém desconhece a idéia que a maioria dos americanos faz do Brasil, especialmente das mulheres, mesmo assim me orgulho de não ter preconceito quanto a autores americanos nem quanto à chamada literatura feminina, termo com o qual jamais concordei. Por isso, admito a surpresa quando vi que a personagem brasileira era caricática, pra dizer o mínimo, Uma linda mulher desocupada de 30 anos, filha de um rico empresário paulista e uma ex-modelo, estilo garota de Ipanema. Disse desocupada? Não é bem assim, ela até que se ocupa bastante em seduzir todos os homens que encontra pela frente e em ensinar às inocentes americanas essa irresistível arte que toda brasileira aprende desde pequena. Não se considere enjoado(a) só com isso, falta muito. Outra coisa que, segundo a autora, aprendemos desde pequenos é o espanhol, nossa segunda língua. É de se perguntar onde isso acontece, já que qualquer americano vê mais placas em espanhol numa volta de 15 minutos em Miami, NY ou Los Angeles do que um brasileiro veria se resolvesse atravessar o país inteiro. Lógico que espanhol e português podem ser parecidos para quem fala inglês ou alemão, mas daí a confundir quem fala uma coisa com quem fala outra, vai uma distância do Oiapoque ao Chuí. Páginas adiante, nossa autora mostra mesmo que faltou às aulas de geografia quando chama um cubano de sul americano ( provavelmente porque ele fala espanhol).
Erros crassos e ao mesmo tempo perdoáveis se a história fosse boazinha pelo menos. Acontece que as outras personagens, uma editora e uma chef de cozinha não são menos inverossímeis. Só para ilustrar: a primeira tem um caso com um homem casado, o qual provoca um rompimento por admitir ser casado, mas assim mesmo espera mais de seis meses para dizer à tal editora que casamento dele é irreal, uma farsa para conseguir um visto de trabalho para uma asiática. Sem comentários. Suas vidas passam ao longe pelo engraçado, encaminhando-se somente para o ridículo total. O ritmo da narrativa também não podia ser mais confuso, é um daqueles livros que nasceu querendo ser filme sem adaptações de roteiro, meses passam se atropelando de uma página para outra, fazendo o leitor cair no meio de uma cena que parece ter começado em algum lugar fora do romance. Enquanto isso, em outro capítulo, minutos se arrastam por dez, vinte páginas de descrições, lembranças e ponderações sobre a vida. Para completar, o final consegue ao mesmo tempo ser previsível e chegar de sopetão. De um segundo para o outro, soa a trombeta e todas as personagens encontram seus finais felizes, com ou sem príncipes encantados. E aqueles que acham que essa crítica está muito extensa devem apenas agradecer por eu não mencionar todos os escorregões que transformam esse romance em verdadeiro pastelão.
Como alguém que escreveu um livro tão bom como “O diabo veste prada” pode escrever um livro tão ruim é a pergunta que não quer calar. A resposta, imagino, deve ser o fato de o primeiro ter sido totalmente autobiográfico, enquanto o segundo e o terceiro foram obras de ficção.
Então, das duas uma, ou Lauren Weisberg está vivendo pouco ou está escrevendo demais. Na dúvida, melhor não ler.
Gisela Cesario