Friday, April 09, 2010

O Olhar cingindo – Flavio Braga

Sobre o que: Um apresentador de um programa de tv sensacionalista luta pela audiência com um rival similar, mas a verdadeira briga parece ser quem atinge o mais baixo nível com atrações bizarras, uma enorme coincidência com a nossa realidade.

Crítica: Tenho andado preguiçosa para resenhas, se não me engano, já se passam 4 ou 5 livros desde a última, mas esse livro, de edição amarela, e a estranha palavra “cingido” no título me fizeram sentir obrigação de relatar a deliciosa experiência de ler Flavio Braga, autor até então desconhecido pela minha imensa ignorância.

Vamos ao livro: a proposta de mostrar a disputa entre dois canais de baixo nível é tão promissora que a gente quase sente que a autor vai escorregar e cair de cara num lugar comum ou numa chatice sem fim. Leitores experientes e realistas como eu sabem que nem sempre uma ótima idéia resulta num ótimo livro. Pois nesse caso resultou. O autor não só cumpre sua promessa como nos surpreende criando um personagem tão real que quase esperamos vê-lo ao ligar a tv.

Fredo Bastos, o tal apresentador-personagem, é um cara que você certamente conhece, você pode até ser um pouco Fredo Bastos. Ele é aquele cara que perdeu a noção, vestiu a camisa e a cueca da empresa, vendeu a alma, a mãe e a alma da mãe, tudo pelo sucesso, não só pelo dinheiro, mas pelo gostinho de se achar um ser de uma raça superior. E que ambiente seria mais adequado para se desenvolver um indivíduo dessa espécie do que a televisão?

“O Olhar cingido” tem gosto do big brother do big brother, ou seja, é a baixaria que está por trás da baixaria que passa na tv, portanto é real e infinitamente mais divertido. Mas o Fredo, como toda caricatura, tem seus momentos angustiados, tristes, até humanos. Momentos esses que dão à história o realismo de dor que toda comédia precisa.

Sei que tenho sido muito boazinha com meus autores, é que estou poupando as resenhas de livros ruins...(prometo ser cruel com o próximo), mas preciso dizer que o livro de Flavio Braga merecia um ibope altíssimo se tivesse sido adequadamente promovido.

Como ele próprio nos mostra, muitas vezes, os melhores programas não estão nos maiores canais nem nas prateleiras de mais vendidos.

Gisela Cesario