Friday, September 07, 2012

Juliet Nua e Crua - Nick Hornby


Sobre o quê: A obsessão dos fãs por seus ídolos é o tema que embala essa jornada do autor à vida de um casal que não está junto por amor. O que realmente os mantém unidos é o trabalho que o marido desenvolve sobre a breve carreira de um cantor recluso. E para descobrir essa verdade, eles precisam pesquisar mais que discos antigos.

Crítica: Conheci Nick Hornby lendo "Alta Fidelidade", romance tão bom que continou incrível  ao virar filme. Tentei ler outros livros do autor, mas simplesmente me pareceram autobiográficos demais, como “Febre de bola”. Em “Juiet Nua e Crua”, que não sei quando foi escrito, reencontrei o Nick de “Alta Fidelidade”.

O distanciamento, que parece existir de maneira simples com a voz de um narrador ausente, ganha um papel maior ao longo da história, fazendo com que o leitor se sinta observando a vida de um casal e de um ex-ídolo de rock pela fresta de uma janela.

O marido é um daqueles fãs que, de tanto se dedicar a seu ídolo, transformou isso em profissão e se autodenomina um especialista na vida do ex-cantor de rock, uma estrela parecida com bob dylan e que teria terminado sua carreira de forma abrupta e, no mínimo esquisita, após uma ida ao banheiro em uma boate.

As milhares de divagações a respeito do que haveria acontecido no banheiro para que o cantor abandonasse sua carreira nos levam a perceber o quanto de loucura acomete quem resolve se dedicar a entender uma pessoa sem o mínimo amparo na realidade.

Sobre o fato, há uma passagem no livro em que o próprio cantor observa melancolicamente que ele se esforçou tanto para construir um grande trabalho musical e seu mais famoso feito  acabou sendo uma ida ao banheiro.

É essa ironia do autor, que nos fornece lentes para enxergar o o ridículo de toda realidade, o grande trunfo de "Juliet Nua e Crua".

Todos sabemos que a realidade não existe ou que existem muitas realidades, mas nenhum de nós está preparado para a surpresa que isso causa quando algo ou alguém que a gente considerava mítico se desfaz em ser humano diante dos nossos olhos.

Não é à toa que as revistas de fofocas de celebridades ganham tanto dinheiro com aquela seção idiota chamada “eles são como nós”, onde os famosos aparecem indo ao supermercado ou enchendo o tanque do carro. Óbvio que eles são como nós! Ou alguém imaginava que as atrizes acordassem maquiadas e de salto alto como bonecas barbie? No entanto, todo mundo fica surpreso quando descobre que seu ídolo é um ser humano.

No fundo, isso signifca que, por mais que você esforçe, ainda que você ganhe o big brother ou case com o príncipe da inglaterra, você continuará na sua condição de ser humano.

E ser humano significa ser inseguro, errar, botar tudo a perder, falhar não só uma, mas repetidas vezes. Trair quem se ama ou mesmo duvidar da existência do amor também são caracterísicas nossas que não podem ser exatamente definidas como virtudes.

E que chatice! Somos todos a mesma coisa! É exatamente isso que o casal do livro não quer descobrir a respeito do ídolo das antigas. Eles querem pensar que os amores do cara não foram casinhos sem importância e as idas ao banheiro tiveram um grande significado oculto.


O que eles acabam descobrindo é: talvez ser uma celebridade e só fazer coisas brilhantes pode ser muito mais chato que ser humano e ter atitudes absolutamente imprevisíveis.

Sim, é possível ser real e ser incrível ao mesmo tempo em que se é gente. E o amor verdadeiro pode se revelar muito mais devastador que o amor de um romeu e julieta de mentira.

Mas não pense que estou estragando a surpresa do livro. A única parte que estou contando é o que você já sabia. Nick Hornby sempre pode ser surpreendente.

Thursday, April 05, 2012

A outra namorada- Lucy Dawnson e Quem vai dormir com quem - Sophie Kinsella


Sobre o quê: Os títulos são autoexplicativos. “A outra namorada” trata da saga (é saga mesmo) de uma mulher que descobre que seu parceiro tem outra. "Quem vai dormir com quem" coloca dois casais numa situação imprevista justamente nas férias, sendo que a esposa de um já teve um caso com o marido da outra.

Crítica: No início do filme “Um crime perfeito”, o delicioso Clive Owen aparece sozinho na tela e se pergunta: “Por que eu fiz isso?”, depois ele se responde. “Porque eu posso.”

Essa introdução nonsense explica a razão de eu resolver fazer a crítica de dois livros simultaneamente, sem nem um parágrafo pra cada um. Estou fazendo isso porque eu posso. Porque, além de esse blog ser meu e eu poder fazer o que eu quiser, eles são tão parecidos que eu consegui ler os dois ao mesmo tempo, com apenas uma leve alteração de humor de um para o outro. Imagino que a avaliação vai ficar até melhor assim. Vamos ver.

O da Sophie Kinsella ( a autora da série dos "Delirios de Consumo") merece uma explicação. Eu também gostaria de saber por que ela assinou esse livro com outro nome e fez questão de colocar em baixo que era ela. Afinal, qual o nome real da Sophie Kinsela? Chico Buarque? O máximo que consegui imaginar foi a possibilidade de uma restrição contratual com a editora da série de sucesso, mas isso meio cai por terra depois que se admite um parêntese, onde se informa que aquela autora com nome nunca visto é a Sophie Kinsella.

Quando chegar ao meio de “Quem vai dormir com quem”, você vai descobrir que essa informação foi muito útil, porque ninguém podia imaginar a criadora da Becky Bloom e suas aventuras incessantes escrevendo aquele texto lenga-lenga. Lá pro final, há aquela sensação de se estar assistindo a uma novela mexicana, de longos diálogos, reflexões solitárias dos personagens e quase nenhum acontecimento. Um acelerar nas páginas, um pulo em alguns parágrafos e o leitor não perde nada, igualzinho a certas novelas em que não assistir um capítulo não faz a menor diferença.

Já em “A outra namorada” (Bom, estou fazendo um parágrafo separado para cada livro...), a pressa de virar as páginas no final não é resultado do tédio, mas da curiosidade. Até que a trama desse que parece ser o primeiro livro de Lucy Dawson soa comum, mas surpreende muito positivamente.

Não é uma simples traição no mundo de uma mulher ciumenta. Ela chega às últimas conseqüências, como era de se esperar. O diferente é que não são conseqüências trágicas, como assassinar a outra ou tentar o suicídio. São confusões bem hilárias. Não sei se foi o fato de ter o lido os dois juntos, mas esse livro sim parece ter sido escrito pela Sophie Kinsela. O ritmo é absurdamente acelerado, do tipo que faz o leitor ter vontade de ler no elevador, no sinal fechado, cada segundo é algo novo e excitante que a protagonista apronta em busca da verdade e do seu namorado.
Sim, porque nessa história, há várias questões. A outra existe? Eles têm um caso? É sério? Vale a pena ficar ou largar o cara? Por mais a sério que se leve tudo isso, o tom do livro, pelo menos até as últimas páginas, é de um humor muito gostoso. Porém, o que prometia ser uma bela surpresa, uma abordagem nova de um tema batido, vira uma feia decepção.

Pense na maneira que os americanos tratam o adultério. Lembre dos filmes “Beleza americana” ou “Atração fatal”. Você vai ter exatamente essa lição de moral no fim de “A outra namorada”. Não quero estragar nada, mas esse bordão de mocinho e bandido enlatado de “o crime não compensa” já nasceu estragado, não estou exatamente contando tudo, estou deixando espaço pra sua imaginação e pra você ler com seu próprios óculos. Tanto que vou mudar de assunto.

Então, voltando a “Quem vai dormir com quem”, acho que cheguei a uma definição apropriada. Imagine que a revista “Caras” ou a revista “Quem” virou um livro. Sem figuras! Meio chato, né? Pois é, esse livro não promete, não cumpre, não surpreende, não irrita e, claro, não agrada. Apenas a chama da esperança (esse termo é o clima do romance) de aquele texto ser da Sophie Kinsella obriga o leitor a prosseguir até o melancólico final.

Pensando bem, a razão do pseudônimo não deve ter sido um contrato, deve ter sido vergonha mesmo. Talvez fosse um arquivo morto no computador que ela escreveu quando tinha dezesseis anos e algum editor malvado obrigou a autora a publicar.

Isso basta, vou me poupar de comentar a capa de um deles. Prometi não falar mais de capas.

Finalmente, em primeiro lugar fica “A outra namorada”, em segundo lugar, “Quem vai dormir com quem”. Mas, com certeza, em algum outro lugar, vamos encontrar um livro melhor do que esses dois.

Gisela Cesario.

Tuesday, March 20, 2012

A mulher de preto- Susan Hill



Sobre o quê: Numa noite de natal, em alguma linda e aconchegante cidadezinha da Inglaterra, uma família se propõe a fazer uma brincadeira aparentemente comum em lugares como esse. Reúnem-se em volta da lareira e começam a contar história de fantasmas. O único que não gosta da brincadeira é o homem da casa, e o motivo tem a ver com uma estranha mulher de preto.

Crítica: Um dos primeiros mandamentos da vida, possivelmente após não matarás, é que não devemos julgar um livro pela capa. No entanto, mais difícil que não cobiçar o homem da próxima, é se abster desse tipo de julgamento.

Entender é fácil. No momento anterior ao segurar um livro, em que se pode pelo menos ler a orelha, o que se vê é a capa, claro. É a capa que atrai o leitor, junto com o título. Todo leitor julga primeiro pela capa, segundo pelo título, terceiro pela orelha e resumo, depois, se for uma pessoa consciente, lê algumas páginas antes de investir seu dinheirinho. É claro que outros fatores influem conhecer o autor ou o fato de o livro ter virado filme. Pronto, cheguei. Nesse dia, em que comprei “A mulher de preto” eu estava disposta a assistir o filme originado pelo livro, mas a sessão era num horário horrível e num cinema bem longe de mim.
De manhã, ainda com o jornal na mão, pensei que eu ia esperar o DVD. Depois, assunto devidamente esquecido, entro na Travessa, sempre ela, e está lá. “ A mulher de preto”. Agora chega a vez da capa. Não fosse tudo que eu já disse antes, a capa teria me feito desistir. Parece que essa edição foi feita na fábrica de livros para pessoas idiotas ou pré-adolescentes ou ambos. É preta, com jeito de folhetim, tem uns olhos azuis imensos de um homem, que nada dizem da história, e um aviso do tipo “cuidado, você vai se arrepiar”, junto aquelas frases estilo “ uma história eletrizante do início ao fim”. Ah, bom, porque se fosse eletrizante só até o meio...

Ok, isso não tem nada a ver com a história. A capa é uma grande injustiça à história e só corrobora o mandamento que diz “não julgarás o livro pela capa”. Fiel, ignorei as advertências ridículas e parti pra primeira página. Logo nas linhas iniciais, dá pra perceber o tom absolutamente altivo da autora, que nitidamente está se lixando pra quem fez, está fazendo ou fará a capa. No segundo parágrafo, um leitor razoavelmente experiente já pode deduzir que ali existe uma promessa de preciosidade disfarçada de bobagem.

O texto, apesar de bastante descritivo, contém apenas o material suficiente para ambientar o leitor e trazê-lo do verão carioca para o inverno numa distante vila de um distante país onde neva, venta e a neblina é intensa.

O resto é uma narração tão bem desenvolvida que não se percebe o limite entre uma coisa e outra, num momento você é abduzido para dentro do livro, depois começa a passear junto com o personagem principal e vivenciar todos os seus sentimentos.

A história se passa antes da metade do século passado, o que torna o frio mais frio ainda. Nosso personagem narrador é Arthur, um senhor de idade, no segundo e feliz casamento, com uma enorme família numa casa de campo daquelas em que se imagina um boneco de neve no quintal.

Ele está feliz, aquecido e é noite de natal. Todos se divertem, comem, bebem e decidem que nada deve ser perfeito. Por isso, resolvem contar histórias de fantasmas. Isso definitivamente termina com a calma do nosso narrador. Adeus noite feliz, olá noite assombrada. ( Acho que esse título tem tudo a ver com a capa.)

A brincadeira provoca uma viagem num tempo literalmente enterrado, quando o narrador, ainda um jovem advogado, vivendo numa Inglaterra provavelmente mais úmida e lúgrube, precisa analisar os papéis de uma cliente que acabou de morrer. O problema é a que essa senhora morava num lugar chamado “ A casa do brejo da enguia”. Juro que não foi o cara da capa que inventou isso.

Tudo soa assustadoramente verdadeiro e sincero. Em linha alguma se percebe um tom divertido de uma história de fantasma. O negócio é sério e o bagulho é doido. Tanto que o advogado, tão racional, começa a se impressionar com o que parece uma concretização do absurdo.

Agora, se eu continuar, vou estragar uma das melhores histórias de suspense que meus raros leitores podem ter nas mãos. Li em menos de três dias e terminei bem no meio de uma madrugada.

Racional como o advogado do livro, pensei que era ridículo ter medo de ler uma história de terror durante a noite. Já li trocentos livros assim. Terminei às quatro e meia e só consegui dormir depois das seis. O pior é fiquei realmente arrepiada com o final. E percebi isso enquanto olhava o aviso idiota na capa. Confesso, idiota fui eu de não acreditar. Principalmente na única madrugada de frio e chuva do verão.
Então, minha dica é a seguinte, enquanto o filme não vira DVD, não se deixe assustar pela capa. Muito melhor é se assustar com a história.

Gisela Cesario

Friday, February 24, 2012

A segunda vez que te conheci – Marcelo Rubens Paiva


Sobre o quê
: O término de um namoro coloca um jornalista meio canalha numa vida muito diferente, tanto que ele passa a exercer a profissão de agenciador de mulheres, tudo muda, menos o fato de ele ser meio canalha, inclusive na hora de cometer um crime.

Crítica
: Sinceramente, eu me surpreendo comigo mesmo. Como pode nesse blog meu, só meu e de mais ninguém, não ter uma crítica a um livro do Marcelo Rubens Paiva? Ah, não vou ficar rasgando seda (ainda se diz isso?), falando que eu adoro o cara e tudo que ele escreve...Tem coisas que ele escreve que não são tão boas assim, mas esse livro não é uma delas. Esse livro é tão bom assim, já li “A segunda vez que te conheci” umas dez vezes e sempre parece só a segunda vez...

Existe um ar amoral no texto do Marcelo, que lembra muito o Rubem Fonseca, outro autor que adoro, mas o Marcelo tem ainda um jeito de adolescente que não se conforma com a vida do jeito que ela é. A verdade é que ninguém se conforma, mas todo mundo finge, ele não.

Mas vamos ao livro: no começo, vemos um jornalista egoísta, mas sensível( o livro faz isso parecer possível, acredite.), abandonado pela namorada e tendo de encarar o fato de voltar à gandaia. E pra ajudar, ainda há a amiga da ex-namorada...ah! As fantasias masculinas irreveláveis, tão descaradamente reveladas!

Só que a dita gandaia toma proporções enormes, incalculáveis, cumuladas com a demissão do jornal, o que o torna realmente um cafetão. Mas não um cafetão qualquer. Um cafetão inexperiente o suficiente para parecer uma virgem no mercado do sexo.
O crime é um acidente, não estou adiantando nada, quer dizer, estou, mas não o principal.

Estou só avisando que não é um livro essencialmente de suspense ou policial, o crime é ator coadjuvante de um romance, mais um romance sem vergonha do Marcelo Rubens Paiva.

Uma história de amor temperada com sangue, suor e sarcasmo, um texto apaixonante, engraçado e gostoso como um canalha. Um texto ao qual essa crítica nunca será justa por mais que o elogie.

Não é um livro novo, mas a resenha é nova e hoje prometi escrever resenhas de todos os livros do Marcelo Rubens Paiva. Você, claro, não precisa ler todas. Leia só os livros.
Gisela Cesario

PS – Esse é o meu primeiro PS em resenhas. O primeiro livro que li dele quando era adolescente foi blecaute, passei uma madrugada inteira lendo e fiquei apaixonada. Só depois fui descobrir quem era o Marcelo Rubens Paiva e tudo o mais, o único livro dele que nunca li foi o mais famoso, ”Feliz Ano velho”, sou fraca demais, admito. Mas agradeço a Deus por tudo que, de bom ou ruim, tornou esse autor tudo aquilo que ele é hoje pra todos nós.

Tuesday, January 10, 2012

Tumulto em noites de blackout – José Nunes

Sobre o quê: A luta por uma herança deixada em diamantes é ponto central desse suspense. Após a morte de seu marido, Rovena, nome e jeito de vilã, decide vir da África do Sul para o Rio de Janeiro, pela primeira vez em vinte anos, com o objetivo de cumprir as últimas vontades do falecido, o que acaba tumultuando noites e dias de envolvidos e herdeiros.

Crítica: José Nunes é um escritor amador e isso salta aos olhos na sua obra de estréia. Amador no melhor e mais correto sentido da palavra. Aquele que escreve porque ama, fazendo disso não um ofício, mas a conseqüência natural de um sentimento explosivo, que inicialmente assusta para depois conquistar.

Digo isso porque as primeiras duas ou três páginas do livro provocam uma intensa curiosidade. Logo depois, quase todas as informações relevantes para a história são praticamente atiradas na cara do leitor, que tem duas opções: desistir ou tentar organizar as idéias para continuar a leitura.

Quem gosta de um bom suspense certamente vai escolher a segunda opção. Não sei se essa confusão inicial é proposital, mas talvez ela seja fundamental para alertar o leitor que, se ele deseja prosseguir, deve abandonar suas preocupações e permitir que seu cérebro seja inteiramente ocupado pelas reviravoltas da trama.

Reviravolta é que não falta. E elas se passam num cenário clássico de mistério. Uma mansão à beira de um penhasco, com um casal ambicioso, uma sobrinha destrambelhada, a viúva e sua não tão fiel criada, sem falar no consagrado herdeiro, o sobrinho Walker.

O cara é um músico mal sucedido, tirado de seu mundo de drogas e falta de dinheiro, para vir morar nessa mansão, receber sua parte em dinheiro e viver blackouts constantes, muito tumulto e também um grande amor.

Com todos esses ingredientes na cabeça, não dá pra pensar em muitas coisas a não ser no que vai acontecer na próxima página.

Findas as iniciais e bombásticas revelações, a história ganha um ritmo mais aprazível, embora não menos frenético. Isso porque, a partir de um determinado ponto (não sei bem qual), a concentração no texto torna-se absolutamente natural. Mentiras viram verdades, personagens se transformam, sentidos se alteram. Tudo parece moldado como uma perfeita armadilha para prender você na doideira de José Nunes e seus personagens.

Em dois dias absorvi e processei o conteúdo de “Tumulto em noites de Blackout”. Bem que eu poderia ter lido em umas duas horas e meia ou três, porém, quando gosto de um livro e vejo as páginas acabando, sou forçada a parar e deixar pra depois.

Mesmo assim, só consegui prorrogar o final mais 24 horas. Demorar mais teria sido como ver um filme em slow motion. E é claramente de filme o ritmo da narrativa. A gente não percebe mais que está lendo, porque as páginas contêm cenas e não dá pra dizer se você é leitor ou expectador.

Mas o que tudo isso tem a ver com o que eu falei no início, sobre ser amador? É que, às vezes, o profissionalismo endurece o texto, burocratiza a escrita, faz do escritor um vendedor e do leitor um cliente.

O texto de quem ama tem imperfeições, lacunas, incongruências. E isso o torna humano, real e verdadeiro, como o próprio leitor, que, ao se identificar, também se apaixona. Por isso, desejo que esse autor faça muito sucesso, ganhe muito dinheiro, mas continue muito, muito amador. Seus leitores certamente vão corresponder.

Gisela Cesario