Thursday, April 05, 2012

A outra namorada- Lucy Dawnson e Quem vai dormir com quem - Sophie Kinsella


Sobre o quê: Os títulos são autoexplicativos. “A outra namorada” trata da saga (é saga mesmo) de uma mulher que descobre que seu parceiro tem outra. "Quem vai dormir com quem" coloca dois casais numa situação imprevista justamente nas férias, sendo que a esposa de um já teve um caso com o marido da outra.

Crítica: No início do filme “Um crime perfeito”, o delicioso Clive Owen aparece sozinho na tela e se pergunta: “Por que eu fiz isso?”, depois ele se responde. “Porque eu posso.”

Essa introdução nonsense explica a razão de eu resolver fazer a crítica de dois livros simultaneamente, sem nem um parágrafo pra cada um. Estou fazendo isso porque eu posso. Porque, além de esse blog ser meu e eu poder fazer o que eu quiser, eles são tão parecidos que eu consegui ler os dois ao mesmo tempo, com apenas uma leve alteração de humor de um para o outro. Imagino que a avaliação vai ficar até melhor assim. Vamos ver.

O da Sophie Kinsella ( a autora da série dos "Delirios de Consumo") merece uma explicação. Eu também gostaria de saber por que ela assinou esse livro com outro nome e fez questão de colocar em baixo que era ela. Afinal, qual o nome real da Sophie Kinsela? Chico Buarque? O máximo que consegui imaginar foi a possibilidade de uma restrição contratual com a editora da série de sucesso, mas isso meio cai por terra depois que se admite um parêntese, onde se informa que aquela autora com nome nunca visto é a Sophie Kinsella.

Quando chegar ao meio de “Quem vai dormir com quem”, você vai descobrir que essa informação foi muito útil, porque ninguém podia imaginar a criadora da Becky Bloom e suas aventuras incessantes escrevendo aquele texto lenga-lenga. Lá pro final, há aquela sensação de se estar assistindo a uma novela mexicana, de longos diálogos, reflexões solitárias dos personagens e quase nenhum acontecimento. Um acelerar nas páginas, um pulo em alguns parágrafos e o leitor não perde nada, igualzinho a certas novelas em que não assistir um capítulo não faz a menor diferença.

Já em “A outra namorada” (Bom, estou fazendo um parágrafo separado para cada livro...), a pressa de virar as páginas no final não é resultado do tédio, mas da curiosidade. Até que a trama desse que parece ser o primeiro livro de Lucy Dawson soa comum, mas surpreende muito positivamente.

Não é uma simples traição no mundo de uma mulher ciumenta. Ela chega às últimas conseqüências, como era de se esperar. O diferente é que não são conseqüências trágicas, como assassinar a outra ou tentar o suicídio. São confusões bem hilárias. Não sei se foi o fato de ter o lido os dois juntos, mas esse livro sim parece ter sido escrito pela Sophie Kinsela. O ritmo é absurdamente acelerado, do tipo que faz o leitor ter vontade de ler no elevador, no sinal fechado, cada segundo é algo novo e excitante que a protagonista apronta em busca da verdade e do seu namorado.
Sim, porque nessa história, há várias questões. A outra existe? Eles têm um caso? É sério? Vale a pena ficar ou largar o cara? Por mais a sério que se leve tudo isso, o tom do livro, pelo menos até as últimas páginas, é de um humor muito gostoso. Porém, o que prometia ser uma bela surpresa, uma abordagem nova de um tema batido, vira uma feia decepção.

Pense na maneira que os americanos tratam o adultério. Lembre dos filmes “Beleza americana” ou “Atração fatal”. Você vai ter exatamente essa lição de moral no fim de “A outra namorada”. Não quero estragar nada, mas esse bordão de mocinho e bandido enlatado de “o crime não compensa” já nasceu estragado, não estou exatamente contando tudo, estou deixando espaço pra sua imaginação e pra você ler com seu próprios óculos. Tanto que vou mudar de assunto.

Então, voltando a “Quem vai dormir com quem”, acho que cheguei a uma definição apropriada. Imagine que a revista “Caras” ou a revista “Quem” virou um livro. Sem figuras! Meio chato, né? Pois é, esse livro não promete, não cumpre, não surpreende, não irrita e, claro, não agrada. Apenas a chama da esperança (esse termo é o clima do romance) de aquele texto ser da Sophie Kinsella obriga o leitor a prosseguir até o melancólico final.

Pensando bem, a razão do pseudônimo não deve ter sido um contrato, deve ter sido vergonha mesmo. Talvez fosse um arquivo morto no computador que ela escreveu quando tinha dezesseis anos e algum editor malvado obrigou a autora a publicar.

Isso basta, vou me poupar de comentar a capa de um deles. Prometi não falar mais de capas.

Finalmente, em primeiro lugar fica “A outra namorada”, em segundo lugar, “Quem vai dormir com quem”. Mas, com certeza, em algum outro lugar, vamos encontrar um livro melhor do que esses dois.

Gisela Cesario.