Tuesday, January 10, 2012

Tumulto em noites de blackout – José Nunes

Sobre o quê: A luta por uma herança deixada em diamantes é ponto central desse suspense. Após a morte de seu marido, Rovena, nome e jeito de vilã, decide vir da África do Sul para o Rio de Janeiro, pela primeira vez em vinte anos, com o objetivo de cumprir as últimas vontades do falecido, o que acaba tumultuando noites e dias de envolvidos e herdeiros.

Crítica: José Nunes é um escritor amador e isso salta aos olhos na sua obra de estréia. Amador no melhor e mais correto sentido da palavra. Aquele que escreve porque ama, fazendo disso não um ofício, mas a conseqüência natural de um sentimento explosivo, que inicialmente assusta para depois conquistar.

Digo isso porque as primeiras duas ou três páginas do livro provocam uma intensa curiosidade. Logo depois, quase todas as informações relevantes para a história são praticamente atiradas na cara do leitor, que tem duas opções: desistir ou tentar organizar as idéias para continuar a leitura.

Quem gosta de um bom suspense certamente vai escolher a segunda opção. Não sei se essa confusão inicial é proposital, mas talvez ela seja fundamental para alertar o leitor que, se ele deseja prosseguir, deve abandonar suas preocupações e permitir que seu cérebro seja inteiramente ocupado pelas reviravoltas da trama.

Reviravolta é que não falta. E elas se passam num cenário clássico de mistério. Uma mansão à beira de um penhasco, com um casal ambicioso, uma sobrinha destrambelhada, a viúva e sua não tão fiel criada, sem falar no consagrado herdeiro, o sobrinho Walker.

O cara é um músico mal sucedido, tirado de seu mundo de drogas e falta de dinheiro, para vir morar nessa mansão, receber sua parte em dinheiro e viver blackouts constantes, muito tumulto e também um grande amor.

Com todos esses ingredientes na cabeça, não dá pra pensar em muitas coisas a não ser no que vai acontecer na próxima página.

Findas as iniciais e bombásticas revelações, a história ganha um ritmo mais aprazível, embora não menos frenético. Isso porque, a partir de um determinado ponto (não sei bem qual), a concentração no texto torna-se absolutamente natural. Mentiras viram verdades, personagens se transformam, sentidos se alteram. Tudo parece moldado como uma perfeita armadilha para prender você na doideira de José Nunes e seus personagens.

Em dois dias absorvi e processei o conteúdo de “Tumulto em noites de Blackout”. Bem que eu poderia ter lido em umas duas horas e meia ou três, porém, quando gosto de um livro e vejo as páginas acabando, sou forçada a parar e deixar pra depois.

Mesmo assim, só consegui prorrogar o final mais 24 horas. Demorar mais teria sido como ver um filme em slow motion. E é claramente de filme o ritmo da narrativa. A gente não percebe mais que está lendo, porque as páginas contêm cenas e não dá pra dizer se você é leitor ou expectador.

Mas o que tudo isso tem a ver com o que eu falei no início, sobre ser amador? É que, às vezes, o profissionalismo endurece o texto, burocratiza a escrita, faz do escritor um vendedor e do leitor um cliente.

O texto de quem ama tem imperfeições, lacunas, incongruências. E isso o torna humano, real e verdadeiro, como o próprio leitor, que, ao se identificar, também se apaixona. Por isso, desejo que esse autor faça muito sucesso, ganhe muito dinheiro, mas continue muito, muito amador. Seus leitores certamente vão corresponder.

Gisela Cesario