tag:blogger.com,1999:blog-146270162024-02-08T06:10:25.668-08:00EuleiopravoceEste é um blog de crítica literária. O objetivo é puramente entretenimento. Todas as críticas refletem apenas a opinião e o gosto pessoal da autora do blog. Não há, em momento algum, pretensão de julgar a obra exposta. Se qualquer autor(a) se sentir ofendido por essas palavras, pedimos desculpas por nosso erro, pois certamente não escrevemos com esse intuito.
PS - Eventualmente, você também poderá encontrar aqui resenhas de filmesgigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.comBlogger62125tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-35923883494397149122015-11-10T21:57:00.003-08:002015-11-10T21:57:42.114-08:00Becky Bloom em Hollywood - Sophie Kinsella<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Sobre o quê</span></b><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; text-align: justify;"> –
Advinha? É sobre a Becky em Hollywood? Você não sabe quem é Becky? Então vá ler
os “Delírios de Consumo de Becky Bloom” e depois volte pra essa resenha, sério,
é por lá que você deve começar. Bom, o título é auto explicativo, Beky vai
morar em Los Angeles porque o marido arrumou um emprego lá. Aí tudo é confusão, quase como sempre.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Crítica</span></b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">- Se
tem uma coisa que sempre me impressionava na Sophie Kinsella era o fato de ela conseguir
manter a qualidade em todos os seus livros, não só o que têm a Becky como
protagonista, mas todos, absolutamente cada um deles.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Infelizmente,
pra nós e pra ela, isso era verdade até esse título. O problema com o livro é
justamente esse, ele tem tantas imperfeições que parece ter sido escrito por
outra pessoa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Dá
impressão que a Sophie Kinsella somente assinou. E sem ler.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">De
cara, se nota uma quantidade enorme de infantilidades que destoa da obra da
autora. Veja bem, detesto o termo literatura “mulherzinha”, mas consigo aturar,
agora se houvesse um termo para esse livro, seria literatura “adolescentezinha idiotazinha”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É
absurdo o fato de Rebecca ( a nossa Becky) ter ficado mais infantil com o
passar dos anos, tão infantil a ponto de ter discussões tatibitati com a melhor
amiga. Só faltou as duas irem brincar num parquinho. Juro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Como
eu sou fã da autora, a ponto de ficar toda empolgada quando vejo um lançamento
na livraria, imaginava que ia haver uma reviravolta típica dos seus livros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ora,
estamos falando da mulher que escreveu mais de 5 livros da Becky impecáveis,
sem falar nos que tinham protagonistas diferentes, pois outro ponto de destaque
da autora sempre foi justamente saber que determinadas histórias não combinavam
com a personagem dos “Delírios de Consumo”, por isso, era criada outra, como
foi com a executiva Samantha Sweet, se não me engano, e mais com mais umas duas,
pelo menos</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Uma história bem contada sempre pareceu ser a
prioridade de Sophie, ainda que Becky tivesse que ficar de molho.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Por
isso, durante as não sei quantas páginas de “Becky Bloom em Hollywood”, achei
que algo mágico devia estar para acontecer, íamos descobrir que ela estava sob
o efeito de anti depressivos ou drogas pesadas ou viriam situações tão hilárias
que nem iríamos lembrar de tanta bobagem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mas
nada disso acontece.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Além
de parecer um pesadelo infantil, e, pra mostrar que é sempre possível piorar, o
livro termina com um monte de problemas estranhamente não resolvidos, como se
alguém decidisse tomar a prova da aluna antes de ela conseguir responder tudo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Dá a
impressão que um apito tocou e a edição foi entregue, só deu tempo de escrever
“fim”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Sei
o quanto o mercado editorial é cruel e que a vida também não tá fácil pra
ninguém, mas como não perceber que um miserável ( no sentido mais triste da
palavra) título pode comprometer toda uma obra escrita de forma artesanalmente
perfeita? E estou me referindo a livros com mais de 300 páginas cada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Acho
que foi isso e não o fato de ter lido um livro bobo, porque o livro é isso
mesmo- bobo, feio e chato- com seus diálogos idiotas- isso que me deixou triste
a ponto de voltar a esse meu espaço de resenhas tão abandonado!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Eu
precisava contar para o mundo ou para os meus pouquíssimos (mas selecionados!)
leitores que Sophie Kinsella não é assim. Becky Bloom não é retardada, nem seus
livros são uma sucessão de piadas mal contadas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Isso
foi um engano terrível, somente isso, um escorregão, uma pisada em falso
seguida por um tombo monumental. E todas
as fãs da Becky vão torcer muito para que jamais volte a acontecer.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Gisela
Cesario.<o:p></o:p></span></div>
gigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-68215603651852760192014-11-22T08:30:00.002-08:002014-11-22T08:30:50.609-08:00E aí, comeu? - Marcelo Rubens Paiva<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<b>Sobre o quê</b>: Três amigos enfrentam os
diversos altos e baixos de suas vidas amorosas sempre se encontrando e fazendo
divertidas reflexões sobre o que acontece, especialmente porque um deles acabou
de se separar ainda está decidido se come a vizinha menor de idade ou volta com
a ex.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<b>Crítica</b>: Ainda bem que não vi o filme.
É isso que estou pensando agora que acabei de ler o livro. Eu sempre penso
ainda bem que não vi o filme quando gosto do livro. Normalmente porque o filme
dura uma hora e meia ou duas e o livro leva pelo menos uns dias, dessa vez não
foi bem assim. Vou começar do fim, do fim do livro que me levou a esse começo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Tava na
livraria, no estágio desespero III, quando você já olhou todos os lançamentos,
todos os policiais, todos os romances estrangeiros e mergulhou na literatura
brasileira em busca de algum João Ubaldo esquecido, uma coletânea de contos do
Rubem Fonseca, qualquer coisa pra esquecer o mundo. Aí bati de frente com “E
aí, comeu?”. Juro que não sabia que esse livro existia, pensei que tinha
nascido peça de teatro,virado filme, na hora pensei, claro, estão explorando o
último filão da comunicação, fazendo o caminho inverso, o filme ou peça que
vira livro. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Dei uma
rápida folheada pra ver se não era uma peça escrita, tipo cenário, entra alguém,
sai cortina preta, ler peça é o fundo do poço. Não era, alívio, não tive
vontade de ler a orelha pra ver sobre o que era, já sabia, ou pensava que sabia,
porque já tinha visto milhões de vezes falarem sobre a peça no jornal. Porém,
sou tarada por orelhas de livros em busca de informações novas e foi aí,
justamente aí que descobri. Marcelo Rubens Paiva casou. Quando? Não sei. Não
diz. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Você, amiga
leitora, que cresceu achando que um dia daria pro Marcelo Rubens Paiva, ouça
essa. Ele está com 55 anos, tipo quase 60, e tem um lindo bebê, sério, estava
escrito um lindo bebê chamado Joaquim. Será que teriam dito se o bebê fosse
feio? Marcelo Rubens Paiva é casado e tem um bebê horroroso, careca,
desdentado, chamado Joaquim. Pra que dizer lindo bebê? Parece uma tentativa de
elogio, tipo, esse cara, finalmente, aos 45 do segundo tempo, com 55 anos,
conseguiu ter um filho. Um lindo bebê. Deve ter uma linda esposa. Uma linda
vida. Nem dá pra entender por que ele escreveu isso e não “O apanhador no
campo de centeio”. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Tive uma
raiva absurda quando li essa maldita orelha. Uma raiva que me fez tomar uma
atitude ainda mais ridícula que a orelha. Ridícula e vingativa. Pensei, vou
ler, tenho que ler. Adoro tudo que esse cara escreve desde quando eu tinha 13
anos, li até “ua brari”, acho que é isso, um livro muito chato, que eu só li
porque tinha a foto do Marcelo na contracapa. Faço parte de uma geração que
iniciou a vida lendo “Feliz ano velho” e sonhando em beijar o Marcelo Rubens
Paiva, uma geração feminina que se derreteu lendo as sacanagens dele em todos
os livros, que riu de todas as frases meio machistas e ainda achou uma
gracinha. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Para minha
geração, se é que ela existe, se é que não sou só eu essa geração, esse cara
nunca podia casar, muito menos envelhecer e jamais, em tempo algum, ter um
lindo bebê. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
E pra
terminar de dissolver minhas fantasias, ele coloca no lindo bebê um nome de
dono de padaria! Na boa, não vou usar uma hashtag dizendo prontofalei, mas acho
que expressei perfeitamente minha opinião pessoal, pra dizer o mínimo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Comprei o
livro com raiva, acho que com raiva da realidade, mandei embrulhar pra presente
e colocar uma etiqueta de troca. Claro que tava pensando em ler em duas horas e
devolver no dia seguinte, só de raiva, vingança, queria ver o livro se
empoeirando até ir pra última prateleira da literatura brasileira, aquela onde
ninguém se abaixa pra ver o que tem.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Porém, são
cinco da manhã (não li de noite, e sim de madrugada) e estou vindo a público,
se é que se pode chamar meus leitores de público, para me redimir. Fizeram uma
enorme injustiça com “E aí comeu?”. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Todas as
vezes que eu li sobre a peça ou o filme era sempre a mesma coisa, amigos num
bar revelam seus sentimentos machistas sobre os novos tempos, as mulheres,
blábláblá, sempre tive a impressão de uma cena única, com várias lembranças que
dariam umas cenas paralelas e sempre imagineis diálogos cheios de palavrões e
baixarias, uma coisa meio idiota mesmo, e aí via uma mulher falar da peça ou do
filme e dizer que ficou envergonhada, que tem que ser liberal pra gostar. Ou eu
sou muito maluca, ou o mundo é feito de papagaios ou as duas coisas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
É uma
história, preciso repetir isso. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
“E aí comeu”
é uma história. Não é uma divagação sobre os tempos modernos e as comidas
modernas, é uma história em primeiro lugar, é um romance, uma narrativa, coisas
acontecem do começo até o fim. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
E claro que não
foi descriminado por causa do título ou porque era machista, mas sim porque tem
como fio condutor o dilema de um cara mais velho em comer ou não uma
adolescente menor de idade. Só isso. Será que ninguém podia ter dito?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Só isso já me
surpreendeu, ver que não eram contos, ou um papo eterno, mas algo linear, uma
sucessão de acontecimentos. Li em menos de duas horas, o livro se vingando do
filme, e, repetição das repetições, adorei.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Adorei porque
não é machista, não é vulgar, não é bobo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
É sensível,
tem horas que é até mulherzinha, e é engraçado, muito engraçado, de um humor
fino, a ironia que fez o autor ser quem é, a mesma ironia, um tema pouco novo,
mas de uma diversão incansável, assim como não se enjoa de amor, não se enjoa
de sexo, não dá pra enjoar do estilo do Marcelo Rubens Paiva, que não mudou nem
um pouco nesse livro, graças a Deus. Não é baixo, nem evoluído, é simplesmente do
cacete, como sempre foi. Que bom.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Então, eu, ré
confessa e arrependida, vou arrancar a etiqueta de devolução, vou emprestar a
amigas de quem gosto, vou ficar com ele na prateleira anos, um dia vou doar
pruma biblioteca e anos depois vou comprar de novo num sebo, vou fazer o que
sempre fiz com os livros do autor, namorar eternamente.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
O dia está
clareando e estou me sentindo um pouco melhor, o mundo não mudou tanto só
porque o Marcelo Rubens Paiva foi chamado de machista por causa do título de
uma peça, tem 55 anos, é casado e tem um lindo bebê chamado Joaquim, o mundo
para onde ele nos leva continua igual e delicioso de se viver do mesmo jeito de
quando éramos todos adolescentes, solteiros e sonhadores.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Gisela
Cesario</div>
gigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-4780659951621644322013-10-07T08:29:00.001-07:002013-10-08T10:32:19.649-07:00O resto é silêncio - Carla Guelfebein<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><b>Sobre o quê:</b> Filho de um cardiologista, Tommy é um menino de 12
anos, que já se sente diferente por ter problemas de coração. Quando descobre que
sua mãe se suicidou, sua noção de estranhamento ganha novos contornos. A partir disso, ele se aprofunda em seu
próprio universo, aperfeiçoando o hábito de gravar conversas de adultos . E, da mesma forma que mantém esse segredo, também sua
família, formada pelo pai, a madrasta e a meia irmã, convive mais com o não-revelado do que com o que é dito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><b>Crítica:</b> No creo en prioridades, pero que las hay, las hay. Não
tenho a menor ideia por que comecei esse texto dizendo isso, mas imagino que é
porque estou há meses para escrever essa resenha e estava quase indo pra outra
quando pensei que seria muito injusto não registrar a excelência dessa obra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Depois de examinar as orelhinhas do livro antes de comprá-lo,
decidi que ia gostar de ler porque me identifico com pessoas esquisitas e
solitárias, como o menino do livro, pensei que fosse só mais uma daquelas
histórias cheias de reflexões, sobre como o mundo não é receptivo se você deixa
de preencher os padrões da sociedade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Porém, o livro de Carla é muito, mas muito mais que isso. Do
início ao fim, o texto transborda sensibilidade, como se ele fosse uma daquelas
drogas que surgiram nos anos 70 para aguçar os sentidos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">A percepção que nos é dada dos personagens ultrapassa o íntimo. Parece ser algo realmente lisérgico, e
as palavras de Carla nos conduzem por brechas de onde é possível enxergar a
alma de cada um deles. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O pai de Tommy faz de tudo para levar uma vida normal, mas não aceita o suicídio da esposa e ainda precisa
enfrentar o fato de ter de tratar de crianças com a
mesma patologia do seu filho, tornando impossível manter a distância
profissional médico-paciente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">A madrasta, Alma (vejam como o nome é sugestivo), parece estar
finalmente pisando em solo firme, tendo um casamento e um emprego, depois
de toda uma vida cercada de aberrações, tendo de conviver com uma mãe que, de tão
liberal, fazem os filhos desejarem ser caretas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Até a pequena Lola, filha de Alma, demonstra esperteza e uma capacidade
de compaixão no mínimo precoces, conseguindo, de
certa forma, penetrar um pouco no hermético mundo de Tommy.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Com tudo isso, não estou querendo falar que você vai ficar dizendo
“oh” e “ah” a cada página. “O resto é silêncio” te envolve de uma maneira
hipnótica, fazendo com que o leitor vá se emaranhando num labirinto de onde, de
repente, a gente percebe que não deseja mais sair.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><br /></span>
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Dá a sensação de que, quanto mais nos perdermos por esses caminhos estranhos, mais perto estaremos de nos encontrar, como se a busca do que te levou a ser o que você é pudesse finalmente te transformar no que você deveria ou queria ser. Doido, né?</span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Ao encontrar o fim desse labirinto (esse termo também faz parte da
história), sentimos que estar perdido pode ter um significado muito mais amplo,
um significado daquilo que não se diz em palavras, mas que cabe magistralmente no
silêncio do título. O resto é tudo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><br /></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Gisela Cesario<o:p></o:p></span></div>
gigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-55446557436666886272013-07-12T13:34:00.003-07:002013-07-12T13:36:07.919-07:00Hanói- Adriana Lisboa<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><b>Sobre o quê:</b> Um cara com uma vida pouco interessante
descobre que tem uma doença terminal e acaba entrando sem querer na vida de uma
jovem mãe solteira. Os dois são descendentes de estrangeiros, vivendo em Chicago,
e começam a descobrir que algumas desgraças podem ser boas coincidências.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><b>Crítica:</b> A vida não é justa.
Por que? Não sei. Por que estou dizendo isso? Porque li mais de dez livros
entre a última resenha e esta que escrevo agora, pelo menos a metade foi bem
impressionante, Hanói não foi o melhor, nem o mais bem escrito, mas talvez
tenha sido aquele com o qual eu mais me identifiquei, por isso é sobre ele que
estou escrevendo. Ou isso, ou a vida realmente não é justa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Essa introdução maluca, que
parece sem pé nem cabeça tem muito a ver com o livro de Adriana Lisboa. David,
o personagem central, que descobre ter poucos meses de vida, simplesmente não
sabe o que fazer do tempo que lhe resta. Talvez por isso acabe, sem querer,
mudando a vida de alguém que ainda tem muito tempo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ele começa um romance com
uma descendente de vietnamitas chamada Alex, que trabalha num mercado. Ele
mesmo é descendente de mexicanos e brasileiros e também tem o que costumamos
chamar de uma profissão banal, trabalha em construções, sem nenhum traço de
realização profissional.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Mas é justamente o modo de
olhar para as banalidades da vida que fascina na história de Hanói. As pequenas
e aparentemente indiferentes coisas nos unem muito mais que nossos grandes
feitos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Por mais importante que
alguém seja, ele terá muito em comum com o resto da humanidade, terá medo,
sono, fome e todos aqueles sentimentos que costumam nos reduzir a nossa eterna
insignificância.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os personagens de Adriana
são invisíveis nas suas vidas sem graça, são iguais a milhares numa multidão.
Porém, ao dar um close na vida de alguns desses seres, Adriana nos aconchega,
acho que essa é palavra, na sua narrativa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Estamos em casa quando
percorremos as expectativas e frustrações de todos, as mesmas que achamos ser
somente nossas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">É bom e reconfortante de
repente estar em outras pessoas, nos ver em vidas distintas e tão similares.
Viver a vida do outro sempre parece atraente, nem que seja só pela diferença. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Pensando dessa forma, o
nosso personagem principal decide, pro seu final de vida, realizar o sonho da
nova namorada, ir para Hanói, uma cidade onde nunca esteve, da qual não tem
nenhuma referência, nem motivo algum pra querer estar lá.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Alex, a descendente de
vietnamitas, ainda tenta dissuadi-lo, pela longa viagem, a língua
incompreensível e absoluta ausência de atrativos que Hanói teria para ele, como
se aquela cidade tivesse apenas um valor sentimental, impossível de ser
calculado por alguém “de fora”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Só que viver outra vida é
tudo que David quer pra sua despedida do mundo, outros sentimentos, ser um
pouco de alguém que ele não conhece, e a maneira de fazer isso é realizando o
sonho dessa pessoa, imaginando que impacto isso poderia ter na sua realidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">É claro que a verdadeira Hanói
não existe, nem pra ele, nem para Alex, nem para ninguém, a verdadeira Hanói é
uma ilusão de um lugar onde tudo estava certo, onde as banalidades eram
importantes e a vida era perfeita.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Assim, não ir ao encontro
dessa cidade é maneira de preservá-la da verdadeira cidade, de mantê-la no
pedestal do paraíso. Para não estragar um sonho, precisamos ter o cuidado de
não tentar transformá-lo em realidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nisso parece consistir o
sentido da vida que Hanói nos apresenta, na delicadeza de embalar ideais,
cuidar deles com esmero, cultivar como se fossem delicadas plantas, acariciar
como se fossem pequenos objetos de cristal, os quais um vento de realismo pode
destruir em um segundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Não vou contar o final de
Hanói, até porque, depois de tudo que eu já disse, é óbvio que Hanói não merece
ter fim.<o:p></o:p></span></div>
gigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-16456246285094532992013-02-26T14:17:00.000-08:002013-02-26T14:19:53.885-08:00Barba ensopada de sangue - Daniel Galera<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14pt;"><b>Sobre
o quê:</b> Depois do suicídio de seu pai e de saber das estranhas circunstâncias do
fim do seu avô, um professor de educação física decide se mudar para a Garopaba
a fim de investigar não só as razões da morte do antepassado, mas também as da
sua própria vida. Como companhia, a cachorra que era do pai e uma incapacidade
crônica de memorizar rostos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><b>Crítica:</b>
Já tinha ouvido falar em Daniel Galera. Sabia que era um autor novo, com um
estilo diferente, que havia aparecido num romance chamado “Mãos de Cavalo”,
muito embora a minha deficiente memória me impeça de lembrar se já o tinha lido
ou não. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">E
foi nesse clima de ódio ao esquecimento que comecei a me identificar com o
protagonista de “Barba ensopada de sangue”, um cara com um problema neurológico
que o impede de guardar o rosto de alguém por mais de 15 minutos. Não tenho
nada tão grave, mas experimente vir falar comigo depois de 15 meses...Além
disso, o título e capa, que dá vontade de espremer pra sair sangue, prometem
assassinar a monotonia com requintes de crueldade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Acontece
que “Barba ensopada de sangue” faz muito mais do que cumprir sua promessa e
acaba por trazer revelações bem mais profundas do que faria um esperado
suspense.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A
narrativa segue um ritmo enérgico e, ao mesmo tempo, incrivelmente firme, sem
atropelos, que confirma uma das críticas feita ao livro, a de que “o autor
caminha decididamente e sem pressa, na certeza de chegar aonde quer”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A
prosa do autor impecável flui daquela maneira deliciosa que nos dá saudade do
livro bem antes de terminá-lo. Sempre digo que existem histórias que nos fazem
querer habitar nelas pra sempre. Essa, sem dúvida é uma delas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">No
paradisíaco cenário de Garopaba, nosso protagonista ( que não tem nome e está
em busca da verdadeira identidade) vive casos de amor, brigas, momentos de paz,
alegria, desespero, mas vive principalmente o mistério que o traz ali: saber
como morreu ou desapareceu o avô que era a cara dele, cara essa da qual ele
mesmo não lembra e com a qual se espanta toda vez que encontra um espelho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Em
vários momentos, esperei que Daniel me decepcionasse e relatasse algo macabro
estilo história de terror ou então se perdesse em uma das muitas fugas do seu
personagem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Porém
a grande magia desse romance é nos conduzir com uma narrativa incólume e segura
por um universo que parece não ter nada além de dúvidas, onde somente o autor
detém impassivo o controle absoluto de um desfecho certo e inevitável.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Por
que niguém admite que conheceu seu avô? Por que a cidade inteira finge sofrer
de amnésia? Por que o protagonista não desiste? As respostas de tantas
perguntas parecem estar na falta de sentido em geral da vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Sem
se afastar da intensidade de sua busca, o professor de educação física
esquecido se embrenha por fascinantes rotas filosóficas, investigando o
destino, o livre arbítrio, a existência de Deus e o que mais você imaginar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Portanto,
pra quem espera somente um mistério, é bom avisar que o livro de Daniel Galera
traz muitos mistérios. E o maior deles talvez seja sua própria perfeição.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Gisela
Cesario<o:p></o:p></span></div>
</div>
gigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-30844980617723822802012-09-07T07:46:00.001-07:002012-09-07T07:46:12.896-07:00Juliet Nua e Crua - Nick Hornby<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial;">Sobre o quê: </span></b><span style="font-family: Arial;">A obsessão dos fãs por seus ídolos é o tema que embala essa jornada do
autor à vida de um casal que não está junto por amor. O que realmente os mantém
unidos é o trabalho que o marido desenvolve sobre a breve carreira de um cantor
recluso. E para descobrir essa verdade, eles precisam pesquisar mais que discos
antigos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial;">Crítica:</span></b><span style="font-family: Arial;">
Conheci Nick Hornby lendo "Alta Fidelidade", romance tão bom que continou
incrível ao virar filme. Tentei ler
outros livros do autor, mas simplesmente me pareceram autobiográficos demais,
como “Febre de bola”. Em “Juiet Nua e Crua”, que não sei quando foi escrito,
reencontrei o Nick de “Alta Fidelidade”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">O distanciamento, que parece existir de maneira
simples com a voz de um narrador ausente, ganha um papel maior ao longo da
história, fazendo com que o leitor se sinta observando a vida de um casal e de
um ex-ídolo de rock pela fresta de uma janela.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">O marido é um daqueles fãs que, de tanto se dedicar a
seu ídolo, transformou isso em profissão e se autodenomina um especialista na
vida do ex-cantor de rock, uma estrela parecida com bob dylan e que teria
terminado sua carreira de forma abrupta e, no mínimo esquisita, após uma ida
ao banheiro em uma boate.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">As milhares de divagações a respeito do que haveria
acontecido no banheiro para que o cantor abandonasse sua carreira nos levam a
perceber o quanto de loucura acomete quem resolve se dedicar a entender uma
pessoa sem o mínimo amparo na realidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Sobre o fato, há uma passagem no livro em que o
próprio cantor observa melancolicamente que ele se esforçou tanto para
construir um grande trabalho musical e seu mais famoso feito acabou sendo uma ida ao
banheiro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">É essa ironia do autor, que nos fornece lentes para
enxergar o o ridículo de toda realidade, o grande trunfo de "Juliet Nua e Crua".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Todos sabemos que a realidade não existe ou que
existem muitas realidades, mas nenhum de nós está preparado para a surpresa que
isso causa quando algo ou alguém que a gente considerava mítico se desfaz em ser humano
diante dos nossos olhos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Não é à toa que as revistas de fofocas de
celebridades ganham tanto dinheiro com aquela seção idiota chamada “eles são
como nós”, onde os famosos aparecem indo ao supermercado ou enchendo o tanque
do carro. Óbvio que eles são como nós! Ou alguém imaginava que as atrizes
acordassem maquiadas e de salto alto como bonecas barbie? No entanto, todo
mundo fica surpreso quando descobre que seu ídolo é um ser humano.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">No fundo, isso signifca que, por mais que você
esforçe, ainda que você ganhe o big brother ou case com o príncipe da
inglaterra, você continuará na sua condição de ser humano.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">E ser humano significa ser inseguro, errar, botar
tudo a perder, falhar não só uma, mas repetidas vezes. Trair quem se ama ou
mesmo duvidar da existência do amor também são caracterísicas nossas que não
podem ser exatamente definidas como virtudes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><br /></span></div>
<h2>
<span style="font-family: Arial;">E que chatice! Somos todos a mesma coisa! É
exatamente isso que o casal do livro não quer descobrir a respeito do ídolo das
antigas. Eles querem pensar que os amores do cara não foram casinhos sem importância
e as idas ao banheiro tiveram um grande significado oculto.</span></h2>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">O que eles acabam descobrindo é: talvez ser uma
celebridade e só fazer coisas brilhantes pode ser muito mais chato que ser
humano e ter atitudes absolutamente imprevisíveis.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Sim, é possível ser real e ser incrível ao mesmo
tempo em que se é gente. E o amor verdadeiro pode se revelar muito mais
devastador que o amor de um romeu e julieta de mentira.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Mas não pense que estou estragando a surpresa do
livro. A única parte que estou contando é o que você já sabia. Nick Hornby
sempre pode ser surpreendente.<o:p></o:p></span></div>
gigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-80809142145246964422012-04-05T11:41:00.006-07:002012-04-05T12:00:29.646-07:00A outra namorada- Lucy Dawnson e Quem vai dormir com quem - Sophie Kinsella<div align="justify"><br /><strong>Sobre o quê:</strong> Os títulos são autoexplicativos. “A outra namorada” trata da saga (é saga mesmo) de uma mulher que descobre que seu parceiro tem outra. "Quem vai dormir com quem" coloca dois casais numa situação imprevista justamente nas férias, sendo que a esposa de um já teve um caso com o marido da outra.</div><div align="justify"><br /><strong>Crítica</strong>: No início do filme “Um crime perfeito”, o delicioso Clive Owen aparece sozinho na tela e se pergunta: “Por que eu fiz isso?”, depois ele se responde. “Porque eu posso.”</div><div align="justify"><br />Essa introdução nonsense explica a razão de eu resolver fazer a crítica de dois livros simultaneamente, sem nem um parágrafo pra cada um. Estou fazendo isso porque eu posso. Porque, além de esse blog ser meu e eu poder fazer o que eu quiser, eles são tão parecidos que eu consegui ler os dois ao mesmo tempo, com apenas uma leve alteração de humor de um para o outro. Imagino que a avaliação vai ficar até melhor assim. Vamos ver.</div><div align="justify"><br />O da Sophie Kinsella ( a autora da série dos "Delirios de Consumo") merece uma explicação. Eu também gostaria de saber por que ela assinou esse livro com outro nome e fez questão de colocar em baixo que era ela. Afinal, qual o nome real da Sophie Kinsela? Chico Buarque? O máximo que consegui imaginar foi a possibilidade de uma restrição contratual com a editora da série de sucesso, mas isso meio cai por terra depois que se admite um parêntese, onde se informa que aquela autora com nome nunca visto é a Sophie Kinsella.</div><div align="justify"><br />Quando chegar ao meio de “Quem vai dormir com quem”, você vai descobrir que essa informação foi muito útil, porque ninguém podia imaginar a criadora da Becky Bloom e suas aventuras incessantes escrevendo aquele texto lenga-lenga. Lá pro final, há aquela sensação de se estar assistindo a uma novela mexicana, de longos diálogos, reflexões solitárias dos personagens e quase nenhum acontecimento. Um acelerar nas páginas, um pulo em alguns parágrafos e o leitor não perde nada, igualzinho a certas novelas em que não assistir um capítulo não faz a menor diferença.</div><div align="justify"><br />Já em “A outra namorada” (Bom, estou fazendo um parágrafo separado para cada livro...), a pressa de virar as páginas no final não é resultado do tédio, mas da curiosidade. Até que a trama desse que parece ser o primeiro livro de Lucy Dawson soa comum, mas surpreende muito positivamente. </div><div align="justify"><br />Não é uma simples traição no mundo de uma mulher ciumenta. Ela chega às últimas conseqüências, como era de se esperar. O diferente é que não são conseqüências trágicas, como assassinar a outra ou tentar o suicídio. São confusões bem hilárias. Não sei se foi o fato de ter o lido os dois juntos, mas esse livro sim parece ter sido escrito pela Sophie Kinsela. O ritmo é absurdamente acelerado, do tipo que faz o leitor ter vontade de ler no elevador, no sinal fechado, cada segundo é algo novo e excitante que a protagonista apronta em busca da verdade e do seu namorado. </div><div align="justify"> </div><div align="justify">Sim, porque nessa história, há várias questões. A outra existe? Eles têm um caso? É sério? Vale a pena ficar ou largar o cara? Por mais a sério que se leve tudo isso, o tom do livro, pelo menos até as últimas páginas, é de um humor muito gostoso. Porém, o que prometia ser uma bela surpresa, uma abordagem nova de um tema batido, vira uma feia decepção.</div><div align="justify"><br />Pense na maneira que os americanos tratam o adultério. Lembre dos filmes “Beleza americana” ou “Atração fatal”. Você vai ter exatamente essa lição de moral no fim de “A outra namorada”. Não quero estragar nada, mas esse bordão de mocinho e bandido enlatado de “o crime não compensa” já nasceu estragado, não estou exatamente contando tudo, estou deixando espaço pra sua imaginação e pra você ler com seu próprios óculos. Tanto que vou mudar de assunto.</div><div align="justify"><br />Então, voltando a “Quem vai dormir com quem”, acho que cheguei a uma definição apropriada. Imagine que a revista “Caras” ou a revista “Quem” virou um livro. Sem figuras! Meio chato, né? Pois é, esse livro não promete, não cumpre, não surpreende, não irrita e, claro, não agrada. Apenas a chama da esperança (esse termo é o clima do romance) de aquele texto ser da Sophie Kinsella obriga o leitor a prosseguir até o melancólico final. </div><div align="justify"><br />Pensando bem, a razão do pseudônimo não deve ter sido um contrato, deve ter sido vergonha mesmo. Talvez fosse um arquivo morto no computador que ela escreveu quando tinha dezesseis anos e algum editor malvado obrigou a autora a publicar. </div><div align="justify"><br />Isso basta, vou me poupar de comentar a capa de um deles. Prometi não falar mais de capas. </div><div align="justify"><br />Finalmente, em primeiro lugar fica “A outra namorada”, em segundo lugar, “Quem vai dormir com quem”. Mas, com certeza, em algum outro lugar, vamos encontrar um livro melhor do que esses dois.</div><div align="justify"><br />Gisela Cesario.</div>gigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-10022490032221242262012-03-20T08:52:00.003-07:002012-03-20T09:00:14.304-07:00A mulher de preto- Susan Hill<div align="justify"><br /><br /><strong>Sobre o quê:</strong> Numa noite de natal, em alguma linda e aconchegante cidadezinha da Inglaterra, uma família se propõe a fazer uma brincadeira aparentemente comum em lugares como esse. Reúnem-se em volta da lareira e começam a contar história de fantasmas. O único que não gosta da brincadeira é o homem da casa, e o motivo tem a ver com uma estranha mulher de preto.<br /><br /><strong>Crítica:</strong> Um dos primeiros mandamentos da vida, possivelmente após não matarás, é que não devemos julgar um livro pela capa. No entanto, mais difícil que não cobiçar o homem da próxima, é se abster desse tipo de julgamento. </div><div align="justify"><br /> Entender é fácil. No momento anterior ao segurar um livro, em que se pode pelo menos ler a orelha, o que se vê é a capa, claro. É a capa que atrai o leitor, junto com o título. Todo leitor julga primeiro pela capa, segundo pelo título, terceiro pela orelha e resumo, depois, se for uma pessoa consciente, lê algumas páginas antes de investir seu dinheirinho. É claro que outros fatores influem conhecer o autor ou o fato de o livro ter virado filme. Pronto, cheguei. Nesse dia, em que comprei “A mulher de preto” eu estava disposta a assistir o filme originado pelo livro, mas a sessão era num horário horrível e num cinema bem longe de mim. </div><div align="justify"> </div><div align="justify">De manhã, ainda com o jornal na mão, pensei que eu ia esperar o DVD. Depois, assunto devidamente esquecido, entro na Travessa, sempre ela, e está lá. “ A mulher de preto”. Agora chega a vez da capa. Não fosse tudo que eu já disse antes, a capa teria me feito desistir. Parece que essa edição foi feita na fábrica de livros para pessoas idiotas ou pré-adolescentes ou ambos. É preta, com jeito de folhetim, tem uns olhos azuis imensos de um homem, que nada dizem da história, e um aviso do tipo “cuidado, você vai se arrepiar”, junto aquelas frases estilo “ uma história eletrizante do início ao fim”. Ah, bom, porque se fosse eletrizante só até o meio...</div><div align="justify"><br /> Ok, isso não tem nada a ver com a história. A capa é uma grande injustiça à história e só corrobora o mandamento que diz “não julgarás o livro pela capa”. Fiel, ignorei as advertências ridículas e parti pra primeira página. Logo nas linhas iniciais, dá pra perceber o tom absolutamente altivo da autora, que nitidamente está se lixando pra quem fez, está fazendo ou fará a capa. No segundo parágrafo, um leitor razoavelmente experiente já pode deduzir que ali existe uma promessa de preciosidade disfarçada de bobagem.</div><div align="justify"><br />O texto, apesar de bastante descritivo, contém apenas o material suficiente para ambientar o leitor e trazê-lo do verão carioca para o inverno numa distante vila de um distante país onde neva, venta e a neblina é intensa. </div><div align="justify"><br /> O resto é uma narração tão bem desenvolvida que não se percebe o limite entre uma coisa e outra, num momento você é abduzido para dentro do livro, depois começa a passear junto com o personagem principal e vivenciar todos os seus sentimentos.</div><div align="justify"><br />A história se passa antes da metade do século passado, o que torna o frio mais frio ainda. Nosso personagem narrador é Arthur, um senhor de idade, no segundo e feliz casamento, com uma enorme família numa casa de campo daquelas em que se imagina um boneco de neve no quintal.</div><div align="justify"><br />Ele está feliz, aquecido e é noite de natal. Todos se divertem, comem, bebem e decidem que nada deve ser perfeito. Por isso, resolvem contar histórias de fantasmas. Isso definitivamente termina com a calma do nosso narrador. Adeus noite feliz, olá noite assombrada. ( Acho que esse título tem tudo a ver com a capa.)</div><div align="justify"><br /> A brincadeira provoca uma viagem num tempo literalmente enterrado, quando o narrador, ainda um jovem advogado, vivendo numa Inglaterra provavelmente mais úmida e lúgrube, precisa analisar os papéis de uma cliente que acabou de morrer. O problema é a que essa senhora morava num lugar chamado “ A casa do brejo da enguia”. Juro que não foi o cara da capa que inventou isso. </div><div align="justify"><br /> Tudo soa assustadoramente verdadeiro e sincero. Em linha alguma se percebe um tom divertido de uma história de fantasma. O negócio é sério e o bagulho é doido. Tanto que o advogado, tão racional, começa a se impressionar com o que parece uma concretização do absurdo.</div><div align="justify"><br /> Agora, se eu continuar, vou estragar uma das melhores histórias de suspense que meus raros leitores podem ter nas mãos. Li em menos de três dias e terminei bem no meio de uma madrugada.</div><div align="justify"><br /> Racional como o advogado do livro, pensei que era ridículo ter medo de ler uma história de terror durante a noite. Já li trocentos livros assim. Terminei às quatro e meia e só consegui dormir depois das seis. O pior é fiquei realmente arrepiada com o final. E percebi isso enquanto olhava o aviso idiota na capa. Confesso, idiota fui eu de não acreditar. Principalmente na única madrugada de frio e chuva do verão.<br /></div><div align="justify"> Então, minha dica é a seguinte, enquanto o filme não vira DVD, não se deixe assustar pela capa. Muito melhor é se assustar com a história.</div><div align="justify"><br /> Gisela Cesario </div>gigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-22599212578995186022012-02-24T19:22:00.001-08:002012-02-24T19:33:50.902-08:00A segunda vez que te conheci – Marcelo Rubens Paiva<strong><br />Sobre o quê</strong>: O término de um namoro coloca um jornalista meio canalha numa vida muito diferente, tanto que ele passa a exercer a profissão de agenciador de mulheres, tudo muda, menos o fato de ele ser meio canalha, inclusive na hora de cometer um crime.<br /><strong><br />Crítica</strong>: Sinceramente, eu me surpreendo comigo mesmo. Como pode nesse blog meu, só meu e de mais ninguém, não ter uma crítica a um livro do Marcelo Rubens Paiva? Ah, não vou ficar rasgando seda (ainda se diz isso?), falando que eu adoro o cara e tudo que ele escreve...Tem coisas que ele escreve que não são tão boas assim, mas esse livro não é uma delas. Esse livro é tão bom assim, já li “A segunda vez que te conheci” umas dez vezes e sempre parece só a segunda vez...<br /><br />Existe um ar amoral no texto do Marcelo, que lembra muito o Rubem Fonseca, outro autor que adoro, mas o Marcelo tem ainda um jeito de adolescente que não se conforma com a vida do jeito que ela é. A verdade é que ninguém se conforma, mas todo mundo finge, ele não.<br /><br />Mas vamos ao livro: no começo, vemos um jornalista egoísta, mas sensível( o livro faz isso parecer possível, acredite.), abandonado pela namorada e tendo de encarar o fato de voltar à gandaia. E pra ajudar, ainda há a amiga da ex-namorada...ah! As fantasias masculinas irreveláveis, tão descaradamente reveladas!<br /><br />Só que a dita gandaia toma proporções enormes, incalculáveis, cumuladas com a demissão do jornal, o que o torna realmente um cafetão. Mas não um cafetão qualquer. Um cafetão inexperiente o suficiente para parecer uma virgem no mercado do sexo.<br />O crime é um acidente, não estou adiantando nada, quer dizer, estou, mas não o principal. <br /><br />Estou só avisando que não é um livro essencialmente de suspense ou policial, o crime é ator coadjuvante de um romance, mais um romance sem vergonha do Marcelo Rubens Paiva.<br /><br />Uma história de amor temperada com sangue, suor e sarcasmo, um texto apaixonante, engraçado e gostoso como um canalha. Um texto ao qual essa crítica nunca será justa por mais que o elogie.<br /><br />Não é um livro novo, mas a resenha é nova e hoje prometi escrever resenhas de todos os livros do Marcelo Rubens Paiva. Você, claro, não precisa ler todas. Leia só os livros. <br />Gisela Cesario<br /><br />PS – Esse é o meu primeiro PS em resenhas. O primeiro livro que li dele quando era adolescente foi blecaute, passei uma madrugada inteira lendo e fiquei apaixonada. Só depois fui descobrir quem era o Marcelo Rubens Paiva e tudo o mais, o único livro dele que nunca li foi o mais famoso, ”Feliz Ano velho”, sou fraca demais, admito. Mas agradeço a Deus por tudo que, de bom ou ruim, tornou esse autor tudo aquilo que ele é hoje pra todos nós.gigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-44549592080240811212012-01-10T14:11:00.000-08:002012-01-10T14:16:58.767-08:00Tumulto em noites de blackout – José Nunes<strong>Sobre o quê:</strong> A luta por uma herança deixada em diamantes é ponto central desse suspense. Após a morte de seu marido, Rovena, nome e jeito de vilã, decide vir da África do Sul para o Rio de Janeiro, pela primeira vez em vinte anos, com o objetivo de cumprir as últimas vontades do falecido, o que acaba tumultuando noites e dias de envolvidos e herdeiros.<br /><br /><strong>Crítica:</strong> José Nunes é um escritor amador e isso salta aos olhos na sua obra de estréia. Amador no melhor e mais correto sentido da palavra. Aquele que escreve porque ama, fazendo disso não um ofício, mas a conseqüência natural de um sentimento explosivo, que inicialmente assusta para depois conquistar.<br /><br />Digo isso porque as primeiras duas ou três páginas do livro provocam uma intensa curiosidade. Logo depois, quase todas as informações relevantes para a história são praticamente atiradas na cara do leitor, que tem duas opções: desistir ou tentar organizar as idéias para continuar a leitura.<br /><br />Quem gosta de um bom suspense certamente vai escolher a segunda opção. Não sei se essa confusão inicial é proposital, mas talvez ela seja fundamental para alertar o leitor que, se ele deseja prosseguir, deve abandonar suas preocupações e permitir que seu cérebro seja inteiramente ocupado pelas reviravoltas da trama.<br /><br />Reviravolta é que não falta. E elas se passam num cenário clássico de mistério. Uma mansão à beira de um penhasco, com um casal ambicioso, uma sobrinha destrambelhada, a viúva e sua não tão fiel criada, sem falar no consagrado herdeiro, o sobrinho Walker.<br /><br />O cara é um músico mal sucedido, tirado de seu mundo de drogas e falta de dinheiro, para vir morar nessa mansão, receber sua parte em dinheiro e viver blackouts constantes, muito tumulto e também um grande amor.<br /><br />Com todos esses ingredientes na cabeça, não dá pra pensar em muitas coisas a não ser no que vai acontecer na próxima página.<br /><br />Findas as iniciais e bombásticas revelações, a história ganha um ritmo mais aprazível, embora não menos frenético. Isso porque, a partir de um determinado ponto (não sei bem qual), a concentração no texto torna-se absolutamente natural. Mentiras viram verdades, personagens se transformam, sentidos se alteram. Tudo parece moldado como uma perfeita armadilha para prender você na doideira de José Nunes e seus personagens.<br /><br />Em dois dias absorvi e processei o conteúdo de “Tumulto em noites de Blackout”. Bem que eu poderia ter lido em umas duas horas e meia ou três, porém, quando gosto de um livro e vejo as páginas acabando, sou forçada a parar e deixar pra depois. <br /><br />Mesmo assim, só consegui prorrogar o final mais 24 horas. Demorar mais teria sido como ver um filme em slow motion. E é claramente de filme o ritmo da narrativa. A gente não percebe mais que está lendo, porque as páginas contêm cenas e não dá pra dizer se você é leitor ou expectador. <br /><br />Mas o que tudo isso tem a ver com o que eu falei no início, sobre ser amador? É que, às vezes, o profissionalismo endurece o texto, burocratiza a escrita, faz do escritor um vendedor e do leitor um cliente. <br /><br />O texto de quem ama tem imperfeições, lacunas, incongruências. E isso o torna humano, real e verdadeiro, como o próprio leitor, que, ao se identificar, também se apaixona. Por isso, desejo que esse autor faça muito sucesso, ganhe muito dinheiro, mas continue muito, muito amador. Seus leitores certamente vão corresponder.<br /><br />Gisela Cesariogigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-75804417302276812052011-11-13T15:31:00.000-08:002011-11-13T15:32:43.381-08:00As esganadas – Jô Soares<strong>Sobre o quê: </strong>Gordas são esganadas. Essa frase de duplo sentido é o tema desse suspense. No Rio dos anos 30, um delegado carioca tem a ajuda de um delegado português ( e gordo) para desvendar o assassinato de gordas que morrem sempre depois de terem sido empanturradas com iguarias lusitanas.<br /><strong><br />Crítica</strong>: É claro que não estou aqui pra dizer que o Jô Soares é engraçado. Mas posso dizer que tinha esquecido o quanto o Jô Soares é engraçado.<br />Em algumas partes do livro dá pra visualizar o próprio Jô travestido num dos hilários personagens, como uma das vítimas gordas ou o delegado português que vem auxiliar o delegado carioca. É como se a gente estivesse lendo um script do saudoso “ Viva o gordo”.<br /><br />Porém tem um porém, nem tudo são risadas. Talvez querendo repetir o brilhantismo do Xangô de Baker Street, o autor faz várias e e cansativas viagens a momentos políticos e artísticos do final dos anos 30 e início dos 40. Acontece que no livro anterior do Jô, a história real completava a história da ficção, uma se misturava com a outra e viravam uma realidade nova e indivisível, uma realidade que era a própria ficção do livro. <br /><br />Na história das Gordas é diferente. O suspense não é melhor nem pior, mas ele se basta. Não precisa nos remeter à segunda guerra mundial. A ambientação no Rio antigo, a caprichosa descrição das ruas do centro é mais do que suficiente pra preencher o pouco espaço de que as gordas ainda poderiam necessitar pra brilhar. <br />O mistério das rechonchudas é ricamente substancioso em conteúdo. Altamente vitaminado em inteligência. Extremamente avantajado em criatividade. Numa história tão bem delineada, valia mais ter explorado a opulência da própria trama do que fazer remissões que mais parecem alegorias, falando de um passado que pouco tem a acrescentar.<br /><br />Estamos diante de um caso onde um filho assassinou a própria mãe, por odiar sua gordura e suas receitas portuguesas que ele mesmo jamais teve permissão de provar. Um filho magro, amargurado, com uma doença rara que lhe tirou as impressões digitais. Um filho que herdou uma funerária chamada Esfige e usa o carro como balcão de doces para atrair suas vítimas: gordas parecidas com a mãe dele, que ele faz questão de empapuçar cruelmente antes de assassinar. <br /><br />Com tudo isso como prato principal, pra que política? Isso não é gulodice, é desperdício. São coisas diferentes, porque com gulodice, a gente iria se fartar com mais detalhes mórbidos da fascinante trama das gordas, mas ir pra outro lado, desviando o assunto, é desperdiçar tanto o interesse do leitor quanto a capacidade do autor.<br /><br />Cortando essas gordurinhas, o livro do Jô fica até mais magro do que deveria ser, mas continua sendo um excelente suspense.<br /><br />Por isso mesmo, deixa os leitores famintos ou simplesmente gulosos da inteligência e do humor inigualáveis de Jô Soares. <br /><br />Rapidamente devorada, a história nos traz de volta a condição de saudade desse gordo que devia escrever sempre, todo dia e o dia todo.Esse livro é um canapé. Ele só abre nosso apetite pra querer mais desse Jô tão delicioso. Uma viva às gordas e muitos beijos no gordo!<br /><br />Gisela Cesariogigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-65138196398062758462011-10-29T09:30:00.001-07:002011-10-29T09:31:47.089-07:00Kafka à beira mar- Haruki Murakami<strong>Sobre o quê:</strong> Um menino de 15 anos que resolve fugir de casa simplesmente para ser livre. Um senhor que, depois de uma espécie de ataque nuclear, se tornou analfabeto, mas consegue se comunicar com gatos. Aparentemente paralelas, as duas história se encontram no infinito mágico criado por Murakami.<br /><br /><strong>Crítica:</strong> Sei que preconceito é feio e errado, mas infelizmente isso não me torna menos preconceituosa. Tenho um pé atrás com tudo que é japonês, filme, livro, nem amendoim japonês eu curto. No entanto, um grande amigo meu que tem ótimo gosto me jurou de pés juntos que “Kafka à beira mar” era maravilhoso, ótimo e ainda teve uma palavrinha decisiva. Ele disse que era absurdo. Não resisto a um absurdo, nem a um livro de presente, por isso, sem abandonar minha desconfiança, resolvi ler o livro do Murakami.<br /><br />Realmente absurdo é a palavra chave pra definir a história. E o engraçado é que quando você pensa, ah, era disso que ele estava falando quando usou o termo absurdo vem um absurdo maior ainda. Como assim? Bom, um menino de 15 anos ter um amigo imaginário chamado corvo é um pequeno absurdo se comparado ao fato de ter havido um tipo de ataque nuclear onde crianças ficam paralisadas e, minutos depois, voltam ao normal, todas menos uma. Isso também não é um grande absurdo quando se pensa que essa única criatura hoje em dia não sabe nem ler, refere-se a si mesmo na terceira pessoa (“Nakata não pensa direito..”), mas conversa com gatos e vive disso, pois ganha dinheiro encontrando gatos perdidos. E por mais que se imagine que a gente pode se acostumar com absurdos, isso é mentira, porque aqui cada absurdo tem o dom de surpreender o leitor e deixá-lo viciado, virando as páginas quase doentiamente em busca do próximo absurdo.<br /><br />Muito embora seja recheado de maluquices, o livro de Murakami nada tem de ficção científica ou conto de fadas, nem parece com Jaspion. O mundo de “Kafka à beira mar” não confronta a realidade. Ele a recria. Tudo se torna possível e faz muito sentido. Nessa viagem fantástica do menino Kafka e do senhor Tanaka em busca de um sentido para vida, existe algo que desvenda os lugares mais secretos da alma humana, onde a realidade de cada um nada mais é que uma inconfessável verdade. Seja inconfessável porque absurda ou porque sonho ou porque indistinguível das loucuras do mundo real.<br /><br />Kafka a beira mar só começa a fazer sentido quando o leitor deixa de procurar o sentido, quando, depois de ser açoitado por uma sequência de acontecimentos inacreditáveis, finalmente se entrega a um fato muito simples. A realidade não existe, portanto tudo pode ser normal ou absurdo. É exatamente quando as surpresas deixam de surpreender o leitor que ele percebe a grande e final surpresa do livro de Murakami, a de que ele, leitor, foi engolido pelo mundo louco ou absolutamente lúcido do livro. <br /><br />Mundo esse que, de tão mágico, não te abandona na última página, mas diz baixinho no seu ouvido que vai estar sempre ali, pronto quando você quiser voltar porque se cansou desse mundo real, tão chato e tão absurdo.<br />Gisela Cesariogigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-80766185996452595302011-06-22T08:09:00.000-07:002011-06-22T08:13:04.448-07:00Nunca vai embora - Chico Mattoso<strong>Sobre o quê:</strong> Um dentista cansado da sua rotina e apaixonado por sua namorada cineasta resolve atender a um pedido dela. Ir para Cuba explorar as possibilidades de um documentário. Mas a viagem se transforma numa busca incessante e totalmente inesperada.<br /><strong><br />Crítica:</strong> Coincidentemente ou não ( e não foi por coincidência que eu comecei assim), antes de ler esse livro me surpreendi com um poema que eu não conhecia do Paulo Leminsky sobre o barro. É assim: “ O barro toma a forma que você quiser. Você mal sabe estar fazendo aquilo que o barro quer.” O verso me deu um baque, daqueles que fazem ler várias vezes e sacudir a cabeça para entender o lugar onde o texto te fez parar. No mundo dessa poesia de Leminsky, é o destino quem manda e pronto. A gente só pensa estar fazendo o que quer. <br /><br />E foi assim que eu entrei numa livraria e agarrei “Nunca vai embora”. A primeira impressão foi que havia algo errado no título, como o livro parecia ser sobre um cara correndo atrás da mulher, imaginei que deveria ser nunca vá embora, mas resolvi comprar assim mesmo.<br /><br />A história é mais uma daquelas em que o texto fala mais do que a própria história. A trama, basicamente, é um pretexto para que você conheça as paranóias do personagem, a sua visão do mundo. <br /><br />O que acontece só é importante e fascinante porque acontece com ele , é a narrativa que transforma uma perseguição sob sol de Cuba na caça ao sentido da vida, tão comum a todos nós. <br /><br />No livro do Mattoso, os fatos não ocorrem simplesmente, eles atropelam o nosso já tão confuso dentista, que, claro, passa por uma crise existencial daquelas que não passa nunca. <br /><br />No meio da estadia, ou no pior da estadia, justamente no momento em que ele pensava em ir embora, ela faz isso primeiro. Desaparece da vida dele, ao mesmo que faz a vida dele aparecer pra ele. É só a partir disso, que Renato ( o nome do dentista) começa a se enxergar, é procurando Camila ( o nome da cineasta) que ele começa a ver o caminho escondido do seu destino. <br /><br />No começo do livro, há um momento marcante em que ele compara a namorada a uma barreira, a qual impede que o mundo chegue até ele, o que ele percebe depois é que ele também não tinha acesso a esse mundo. Mas o que isso tem a ver com o barro e o destino e o Leminsky? Hein? Calma, vou explicar. <br /><br />É preciso perceber primeiro que ele idolatra a namorada e parece ter medo que ela descubra o quanto ele é inferior e ela é incrível. Tentando descobrir o que ela teria visto nele, ele fala que a cumplicidade deles começou por causa dos comentários que ele fazia sobre o filme “Chinatown”, filme esse que deu origem a um outro chamado “Chave do Enigma”. <br /><br />Eu tinha dito calma, não tinha? Então, vou chegar lá. Enquanto os dois discutiam esse último filme ele interpetra uma frase do personagem principal: “Nunca vai embora” é a frase. Pra ele, esse foi o momento que fez ela se apaixonar. A interpretação é a seguinte: nunca vai embora se refere “à resignação de um homem cansado de se debater contra uma força que é muito maior que qualquer um de seus dons”. Pronto. Cheguei no Leminsky. É a força do barro, do destino, daquilo que, mais do que qualquer vontade, obriga você a fazer o que ele quer e nunca vai embora, pelo menos enquanto você viver. <br /><br />Não me espanta que a cineasta tenha amado um cara teoricamente sem graça por causa dessa frase. Ela, sem dúvida, me ajudou a amar o livro. E por isso também a história não importa muito, chega uma hora em que há muito mais descobertas a serem feitas do que o paradeiro da Camila. Descobrir o porquê de tudo, por exemplo. Descobrir por que eu escolhi esse livro, por que gostei e por que, depois de tanto tempo, me obriguei a escrever outra resenha. <br /><br />Talvez escrever não seja propriamente um dom, mas seja uma força muito maior do que todos os dons de quem escreve. E no fundo, estou fazendo somente aquilo que o texto quer.<br />Gisela Cesariogigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-63377195581956483732010-12-27T10:35:00.000-08:002010-12-27T10:48:51.793-08:00O fantasma de Stalin – Martin Cruz Smith<strong>Sobre o quê:</strong> O detetive Arkady ( do Mistério do Parque Gorky) recebe uma estranha missão: investigar o aparecimento de Stalin em uma das estações de metrô de Moscou bem na época das eleições.<br /> <br /><strong>Crítica: </strong>Como os meus seletíssimos leitores sabem, não costumo lembrar nem dos livros que li, nem das resenhas que escrevi. No entanto, lembro perfeitamente de ter lido O Mistério de Parque Gorky, livro que consagrou o autor no mundo do suspense, e me recordo o quanto é absurdamente bom.<br /><br />O problema é que não há nada pior para um livro do que um livro anterior do cacete. Li O fantasma de Stalin esperando no mínimo, o máximo. E me decepcionei feio. <br /><br />Imagine uma pessoa que tem um armário cheio de roupas incríveis, todas elas poderiam compor um traje lindo, só que ele fuça um monte de peças e faz uma combinação caótica e inesperada. <br /><br />Infelizmente, assim é o “Fantasma de Stalin”. A obra começa com o problema do aparecimento do fantasma juntamente com uma investigação de assassinato. Além disso, temos: uma criança de rua (exímio jogador de xadrez, adotado por Arkady), uma agência matrimonial cuja dona planeja o assassinato do marido, um triângulo amoroso entre Arkady, uma mulher da Chechenia e o candidato das eleições, um grupo de extermínio, agentes corruptos ( que não podiam faltar), ex-combatentes revoltados, marketeiros americanos e um monte de outras coisas que já esqueci, além de, claro, muita vodka, pois estamos na Rússia. Enfim, existem ingredientes mais do que suficientes para uma história incrivelmente inteligente ou incrivelmente enrolada. E infelizmente, o autor acabou por escolher, imagino que sem querer, a segunda opção. <br /><br />O personagem Arkady parece estar sofrendo de esquizofrenia, pois assume diferentes personalidades de detetives famosos ao longo da história, em nada se assemelhando a ele mesmo no Mistério do Parque Gorky. <br /><br />Como se não bastasse, a editora conseguiu realizar uma das piores traduções já vistas. Cheguei a marcar alguns trechos totalmente sem sentido pra reproduzir aqui, mas acabei desistindo de folhear o livro novamente.<br /><br />Concluí que a forma nem precisaria ter atrapalhado, pois o conteúdo é suficientemente confuso.<br /><br />Talvez tenha sido um erro querer reviver o Arkady. Talvez tenha sido o fantasma dele que matou “O fantasma de Stalin”.<br /><br />Apesar de tudo, eu acredito em vida após o fracasso ou após o fantasma. Por isso, vou continuar sendo leitora de Martin Cruz Smith. <br /><br />O autor, mesmo não tendo acertado dessa vez, ainda merece a nossa fé.<br />Gisela Cesariogigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-7511889551271945872010-11-23T09:09:00.001-08:002010-11-23T09:10:59.057-08:00No buraco – Tony Belloto<strong>Sobre o quê:</strong> Um roqueiro fracassado está literal e metaforicamente no buraco, sem dinheiro e enterrado na areia da praia de Ipanema. De lá, ele nos narra seus piores e melhores dias de fama enquanto vive uma perigosa história de amor com uma chinesa possivelmente mafiosa.<br /><strong>Crítica:</strong> Em primeiríssimo lugar, antes de mais tudo preciso dizer que tem algo sobre a voz do Belloto na orelha do livro, o próprio autor deu entrevista no lançamento dizendo que encontrou sua voz, a primeira e única crítica que li dizia a mesma coisa: a voz do autor...Peraí, cara, esse negócio de ler um livro e ouvir vozes é coisa de Chico Xavier. <br /><br />Pois é, o Tony Belloto é guitarrista e escritor, não necessariamente nessa ordem, e ninguém está duvidando disso. Isso de acreditar que existe a voz do autor, aquela que só é achada após um árduo trabalho literário é papo de escritor invejoso, crítico invejoso, jornalista invejoso ou ainda professor de português invejoso. Não há como chamar de preconceito com músico o que não passa de inveja. Aquele sentimento feio, sujo e malvadinho que só quer destruir o trabalho dos outros. Que a inveja exista, não me surpreende, me surpreendia pensar que um autor como Tony Belloto cairia nessa. <br /><br />Devo ter alguma outra resenha dele, é um caso óbvio de talento, quem não acredita que um guitarrista pode também e muito bem escrever que vá ouvir a voz do tempo ou então um disco dos titãs. Me revoltou esse burburinho de vozes sobre o Tony Belloto ter ou não encontrado sua voz, também fiquei incomodada vendo o autor falar sobre a opinião dos outros escritores, como se ele estivesse fazendo um teste pra pertencer a uma confraria secreta.<br /><br />Alguém com a capacidade narrativa dele nunca, jamais, em tempo algum deveria se preocupar com esse tipo de idiotice. Por isso, foi com um pouco de revolta que comecei a ler no buraco, esperando o autor escorregar na casca de banana dos críticos. Há diversas referências sobre escrever no livro e também sobre tocar, como se fosse finalmente o encontro de dois mundos. <br /><br />Isso é meio irritante, porque o mundo é um só e as pessoas não estão carimbadas com suas profissões. Não era só do Raul Seixas o direito de ser uma metamorfose ambulante. E ninguém tem nada com isso. Passada a irritação e torcendo veementemente que o autor esqueça essa história de voz, a outra história, aquela que Tony conta No buraco só não surpreende porque ele já tinha surpreendido antes no primeiro livro. E essa é exatamente como as outras histórias que ele já escreveu: engraçada, verossímil, imprevisível e perfeita.<br /><br />Não se engane pensando que não é um suspense, não se engane pensando que não é um deboche, não se engane, como eu, pensando que o Tony Belloto está ouvindo vozes demais. Tem piada, sacanagem, mistério, reflexão, amor, ódio, saudade, arrependimento, vício, alegria e, claro, tem surpresa também. Só pra surpreender quem achou que ia ouvir vozes. Está tudo lá “No Buraco”, no bom sentido..., do Tony Belloto.<br />Gisela Cesariogigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-34087686912582493642010-11-01T07:44:00.001-07:002010-11-01T07:44:54.736-07:00Livros de outubro: O vendedor de passados – Agualusa. O mistério das cabeças degoladas – Frei Beto.<strong>O vendedor de Passados –</strong> Imagino o porquê existem tantas resenhas a respeito desse livro enquanto estou aqui, escrevendo mais meia, porque esse parágrafo não pode ser chamado resenha inteira. Pontos a destacar: linguagem poética, português angolano, narrador animal. Ë isso mesmo, o livro é narrado por uma lagartixa, ou osga, como deve se dizer por lá. Gostaria tanto de um glossário de português de lá pra português de cá, mas tudo bem. A obra é um delírio, com cores vivas, bonitas, passado num canto do mundo que parece até a Bahia de Jorge Amado, um lugar onde o tempo passa diferente, as osgas falam, os sonhos se confundem com a realidade e mentira contada diversas vezes acaba por se tornar verdade.<br /><br /><strong>O mistério das cabeças degoladas- Frei Beto </strong>– Tente encaixar um quadrado perfeito num buraco perfeitamente redondo e você verá que nenhum dos dois tem nada de errado, eles simplesmente não se encaixam. Também não há nada de errado com a narrativa de Frei Betto, a história é verossímil, interessante, o texto tem a mistura de erudição e lirismo nas devidas doses . Porém a minha expectativa (só posso falar por mim) era redonda e o livro termina em quadrado. Tento explicar melhor: o nome frei Beto e a palavra suspense na mesma orelha de livro despertam uma esperança que não se satisfaz com o mistério das cabeças degoladas, falta algo ou talvez sobre. O autor nos sugere desvios para o mistério, como o assunto das crianças de rua ou uma possível história de amor, mas esses desvios são ruas sem saída, só nos resta voltar pro mistério depois de dar com a cara no muro. Acontece que, quando voltamos, estamos menos tensos e curiosos do que deveríamos, pois o autor mesmo nos distraiu. Um suspense deve ser inteiro pra ser perfeito, e inteiro é aquele em que tudo que se menciona na história se relaciona com o que se está desvendando. Não acho que isso seja fácil de fazer e se eu mesma soubesse como se faz não estaria aqui escrevendo essa mini-resenha. Porém era isso que eu esperava: perfeição. O mistério das cabeças degoladas é apenas humano, não é divino como seu autor.<br /><br />Gisela Cesariogigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-2518206425632497752010-10-09T10:10:00.001-07:002010-10-09T10:33:06.639-07:00O palácio de Inverno – Jonh Boyne<strong>Sobre o quê:</strong> Georgui, hoje com 82 anos, se lembra bem como as guerras e as mudanças na Europa transformam sua vida sem serem capazes de abalar seus sentimentos.<br /><br /><strong>Crítica:</strong> Quem vive num palácio de inverno tem pelo menos três certezas. Um dia ele não será mais palácio. Noutro não será mais seu. E, por fim, acabará o inverno.<br />Escrevi essa declaração enigmática quando terminei de ler o Palácio de Inverno de Jonh Boyne. Sinceramente, minha memória não me permite lembrar se escrevi a resenha de o menino do pijama listrado. Bom, pode-se dizer que ele começou absurdamente bem e não saiu do ritmo.<br />Mais: ele melhorou.<br />Ouso dizer que o Palácio de inverno é ainda melhor do que o menino do pijama listrado, simplesmente pelo fato de nos proporcionar mais momentos, de ser mais longo e complexo, demorar mais a terminar.<br />Normalmente, a complexidade não é algo que me atrai num livro. Prefiro histórias simples e lineares, menos prováveis de se cometerem erros. Porém, nem os nomes russos me afastaram dessa obra de John Boyne. Eu sabia que alguém que foi capaz de transformar o nazismo numa história de amizade não iria falhar diante um monte de nomes cheios de consoantes.<br />O Palácio de Inverno também fala das guerras e também fala da mesma maneira comovente, com os olhos, os ouvidos e principalmente a boca dos que vivem e não simplesmente emitem uma opinião.<br />Novamente, John Boyne nos mostra o lado real, onde não há o certo e o errado, os mocinhos e os bandidos, mas simplesmente seres humanos tentando tirar o melhor da posição que o destino lhes concedeu.<br />A sensibilidade do autor chega a parecer auto-biográfica. Se, no menino do pijama listrado, a historia era de amizade, aqui ela é de amor. Uma história mais forte que a guerra porque trata de um amor mais forte que todos os motivos da guerra. <br />O menino Georgui começa como um senhor de 82 anos e, sem querer estragar o livro para os que não leram, posso adiantar, ele conta somente uma história, a sua com a sua amada.<br />Dizer mais iria tirar um dos grandes prazeres de ler Jonh Boyne, saber que o amor é tão inevitável e tão inerente ao ser humano quanto a mais cruel das guerras. A diferença é que as guerras são como o inverno enquanto o amor, pelo menos segundo o autor, pode ser eterno.(rimou sem querer, juro.)<br />Gisela Cesariogigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-50789596113402676512010-08-29T16:45:00.000-07:002010-08-29T16:48:15.009-07:00Livros de Julho: O Guerreiro Solitário, Atestado de Óbito e outro que eu não lembro o nome por motivos óbvios.Aviso: Aos meus menos de 17 leitores, aviso sobre a mudança de formato nas resenhas que publico. Agora, em vez de falar sobre o último livro que li, farei um resumo do mês. Claro que, se algum exemplar valer uma resenha só pra ele, escreverei com prazer. Fora isso, pretendo apenas tecer breves comentários sobre cada obra, ficando calada também quando for o caso. É isso.<br /><br />Julho: Em algumas épocas de nossas vidas, o suspense faz mais sentido que tudo. Pode-se dizer que eu estou em uma dessas épocas. Meu objetivo com as aquisições que fiz foi não pensar nos meus próprios problemas. Para isso, seria preciso que alguém me apresentasse problemas bem mais interessantes e, claro, com uma solução possível. Vamos ver como cada um se saiu.<br /><br />Atestado de Óbito: Jenny, a atormentada personagem principal desse romance, proporciona excelentes momentos nos quais é possível se entregar totalmente ao texto, principalmente para quem se identifica com problemas psicológicos convivendo com problemas de trabalho e problemas de família. Porém, e infelizmente há um porém, nosso exemplar fica na média da maioria dos suspenses, com soluções pouco críveis, beirando o fantástico. Não que isso não seja normal. É. Por isso, o romance bate as asas, mas não decola.<br /><br />O Guerreiro Solitário: Não sei por que, ou melhor, sei mas vou fingir que não, esse autor está sendo tão aclamado juntamente com seu nada extraordinário detetive. Wallander, o tal detetive, não tem nada demais e ainda promete o que não cumpre, coisa também não rara em suspenses médios, como esse. Deve ser muito difícil construir um tipo com personalidade como Poirot. O problema com Wallander é o que não acontece, o que ele sugere, como o relacionamento com uma mulher chamada Baiba, a qual não tem uma linha de fala no livro. Por que nos fazer esperar algo quando nada virá? Em termos de história, novamente temos uma solução mágica para algo que parecia, durante algumas páginas, bem real. Leia, se quiser se divertir, mas não espere se apaixonar.<br /><br />Gisela Cesariogigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-34102947449173306912010-05-20T10:18:00.000-07:002010-05-20T10:19:36.053-07:00Tudo pode dar certo – Woody Allen<strong>Sobre o quê:</strong> Um velho inteligente e mal humorado conhece uma garota burra e bem humorada. Será que eles podem viver uma história de amor?<br /><br /><strong>Crítica:</strong> Tudo pode dar certo?<br /><br />Quando um filme começa com uma tradução tão propositalmente errada quanto essa, poucas são as chances de ele dar certo. O filme do Woody Allen se chama o que quer que dê certo ou qualquer coisa que dê certo ou ainda seja lá o que der certo e muitas outras opções de tradução, mas não, ele não se chama tudo pode dar certo.<br />Dito isso, vamos à crítica, se é que isso é necessário depois dessa introdução. Tudo pode dar certo tem tudo pra dar certo, afinal foi Woody Allen quem escreveu e dirigiu, fora isso, é passado em nova Iorque, tem uma atriz loura e bonita, tem diálogos engraçados. Será que Woody Allen é só isso? Foi o que fiquei pensando ontem depois de assistir ‘whaterver works”.<br />Talvez o fato que vou contar agora tenha me influenciado. Essa história não é nova.( E qual é???), Bom, ela estava no fundo da gaveta do autor há muitos e muitos anos quando ele resolveu desenterra-la e leva-la para o cinema. Não sei se foi isso que me fez ver o filme como se fosse um rascunho ruim de “noivo neurótico e noiva nervosa”. O que posso dizer do fundo do meu coração é: aquela coisa não é Woody Allen. É alguém que ele foi antes de ser ele ou alguém que ele é hoje em dia, depois de ser ele, entendem? Sei que é complicado, mas se tornar um diretor de sucesso numa Hollywood de cenas de ação, carros amassados e 007s não deve ter sido fácil. Por isso, os primeiros filmes dele são tão extraordinariamente bons, eles tinham que ser, ou não seriam nem filmados. Ser Woody Allen hoje, quase 40 anos depois, é bem diferente. Hoje ele é aquele cara que faz você rir antes de contar a piada.<br />Pra se ter uma idéia do que eu digo, das 5 pessoas que estavam antes de mim na fila, zero sabiam o nome do filme, só disseram que queriam ver o filme do Woody Allen, tanto que quando eu falei ingenuamente “tudo pode dar certo” pra bilheteira ela ficou me olhando e teve de racionar até ligar o nome à pessoa.<br />Foi exatamente isso que fez esse roteiro sair da gaveta. Hoje em dia, pouco importa, é dele, será visto, vende. As piadas não são ruins, mas algumas são vergonhosamente velhas. No entanto, a esperança woodyallenana nos faz acreditar que haverá um final ou algo que transforme aquele monte de diálogos e cenas engraçadinhas num filme do nosso diretor. É quando chega a hora de lembrar da frase inicial do filme, como um oráculo, ele prevê: você não vai se sentir melhor depois desse filme. Sabe por quê? Porque esse não é um filme digno dele. Todo mundo se sente melhor depois de um bom filme, não importa se é uma comédia hilariante ou um dramalhão, filme bom é aquele que faz você se sentir melhor, mesmo que isso lhe provoque lágrimas.<br />Depois de um filme bom, você sente que aquelas duas horas que passou no cinema foram extremamente importantes e, sem elas, você não seria o que é hoje, porque um filme bom te torna uma pessoa melhor.<br />Esse é ponto, é por isso que ele diz que você não vai se sentir melhor. E talvez essa seja a melhor parte do filme, pelo menos é a única que tem realmente a genialidade do Woody Allen. O resto é infantil, é pré ou pós algo que mereceu nossos aplausos. Normalmente, a velhice chega ridícula, mas pelo menos é mais sábia. Uma velhice com a inexperiência de um adolescente é, no mínimo, um vexame. Tristemente, essa é a minha definição para whatever works. Nothings worked.<br /><br />Gisela Cesariogigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-60117283162333070012010-04-09T14:21:00.000-07:002010-04-09T14:22:28.030-07:00O Olhar cingindo – Flavio Braga<strong>Sobre o que</strong>: Um apresentador de um programa de tv sensacionalista luta pela audiência com um rival similar, mas a verdadeira briga parece ser quem atinge o mais baixo nível com atrações bizarras, uma enorme coincidência com a nossa realidade.<br /><br /><strong>Crítica:</strong> Tenho andado preguiçosa para resenhas, se não me engano, já se passam 4 ou 5 livros desde a última, mas esse livro, de edição amarela, e a estranha palavra “cingido” no título me fizeram sentir obrigação de relatar a deliciosa experiência de ler Flavio Braga, autor até então desconhecido pela minha imensa ignorância.<br /><br />Vamos ao livro: a proposta de mostrar a disputa entre dois canais de baixo nível é tão promissora que a gente quase sente que a autor vai escorregar e cair de cara num lugar comum ou numa chatice sem fim. Leitores experientes e realistas como eu sabem que nem sempre uma ótima idéia resulta num ótimo livro. Pois nesse caso resultou. O autor não só cumpre sua promessa como nos surpreende criando um personagem tão real que quase esperamos vê-lo ao ligar a tv.<br /><br />Fredo Bastos, o tal apresentador-personagem, é um cara que você certamente conhece, você pode até ser um pouco Fredo Bastos. Ele é aquele cara que perdeu a noção, vestiu a camisa e a cueca da empresa, vendeu a alma, a mãe e a alma da mãe, tudo pelo sucesso, não só pelo dinheiro, mas pelo gostinho de se achar um ser de uma raça superior. E que ambiente seria mais adequado para se desenvolver um indivíduo dessa espécie do que a televisão?<br /><br />“O Olhar cingido” tem gosto do big brother do big brother, ou seja, é a baixaria que está por trás da baixaria que passa na tv, portanto é real e infinitamente mais divertido. Mas o Fredo, como toda caricatura, tem seus momentos angustiados, tristes, até humanos. Momentos esses que dão à história o realismo de dor que toda comédia precisa.<br /><br />Sei que tenho sido muito boazinha com meus autores, é que estou poupando as resenhas de livros ruins...(prometo ser cruel com o próximo), mas preciso dizer que o livro de Flavio Braga merecia um ibope altíssimo se tivesse sido adequadamente promovido.<br /><br />Como ele próprio nos mostra, muitas vezes, os melhores programas não estão nos maiores canais nem nas prateleiras de mais vendidos.<br /><br />Gisela Cesariogigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-91189609415596926842010-02-24T06:48:00.000-08:002010-02-24T06:49:17.966-08:00Amor sem escalas – Walter KirnSobre o quê: É a história da vida de um executivo que passa a maior parte do tempo viajando. Sua missão é demitir altos executivos de grandes empresas com o mínimo de estrago possível ( para a empresa, é claro). Sua maior preocupação é alcançar a meta de mil milhas viajadas.<br /><br />Crítica: O fato de eu ser publicitária não me impede de enxergar o estrago que a propaganda é capaz de fazer quando usada indevidamente. O livro de Walter Kirn rapidamente se transformou em um produto altamente vendável depois de ter virado filme, mas foi o filme o primeiro a estraga-lo, fazendo com que o consumidor esperasse romance onde a história é, literalmente, outra. Não somente o título em português não tem nada a ver com o inglês “up in the air’, como também as imagens que divulgam o filme (o qual não sei se vou ver) passam uma idéia que vamos assistir a uma linda comédia romântica com o charmoso George clonney. Acontece que não há romance em “Amor sem escalas”, veja bem, não estou dizendo que há pouco romance, estou sendo enfática: NÃO existe história de amor no livro. Óbvio que isso jamais teria me incomodado se eu não tivesse visto as propagandas do filme e lido o título em português. Foi o que me fez ficar esperando algum romance ou dar importância a trechos que não tinham importância, prejudicando inclusive o julgamento sobre a qualidade da história.<br />Como já vi muitos anúncios serem destruídos em reuniões até virarem um lixo completo, imagino que Walter Kirn não teve culpa, não foi ele quem me prometeu tanto amor. Seu “up in the air”, lido sem falsas expectativas, proporciona ótimos momentos.<br />Ryan, o personagem central, é simplesmente o resultado de tudo que a vaidade do mercado de trabalho faz com todos nós. Ele nos mostra toda a tristeza e a agonia que a felicidade de um ótimo emprego proporciona, como se suavemente removesse o véu de cinismo presente nos discursos de pessoas teoricamente bem sucedidas. É um processo incrivelmente doloroso, mas isso, a dor, somente é percebida no final do livro, quando as observações de Ryan já nos fizeram sorrir bastante, principalmente ao identificar momentos e pessoas conhecidas, que mudam de empresa, de país, mas não de personalidade.<br />O autor consegue realizar um verdadeiro raio x da alma humana quando o corpo está de terno. As ambições, os limites, os sonhos e, mais do que tudo, a tristeza de fazer parte desse jogo vão sendo lentamente reveladas. E enquanto o leitor vai rindo, vai também sentindo a angústia de vender a alma ao patrão, seja ele quem for. A parte mais engraçada, no entanto, é perceber que o próprio autor também teve seu momento de Ryan, de profissional, de todos os nós, ao permitir que sua linda história desse origem a uma bobagem hollywoodiana. Talvez ele soubesse, em algum lugar profundo da sua perturbada alma executiva, que quem quisesse encontrar a verdade iria procurar na livraria, não no cinema.gigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-50160417873227987392010-01-29T13:00:00.000-08:002010-01-29T13:01:03.011-08:00Um homem chamado Jesus – Frei BetoSobre o quê: Frei Beto conta uma história que todos conhecemos ou já ouvimos falar: o Novo Testamento. A diferença é tom de romance de ficção, onde Jesus é o personagem principal.<br /><br />Crítica: Me sinto meio idiota fazendo uma crítica da história de Jesus, então vamos deixar claro que o que avalio aqui é o texto do Frei Beto. Agora não me sinto mais ridícula nem idiota, só serei repetitiva em dizer o quanto o autor escreve divinamente. Confesso que nunca, apesar de inúmera tentativas, cheguei a ler a bíblia. Sou católica e tudo que conheço do novo ou do antigo testamento são os trechos que ouço na missa. Imagino que uma grande quantidade de pessoas sofra do mesmo mal: preguiça de entender melhor a história. Cada vez que ouvimos um pedaço do discurso do padre, tentamos juntá-lo a outros pedaços, mas na verdade não sabemos a ordem certa das coisas, pois a leitura dos textos segue o nosso calendário e não a ordem dos acontecimentos na vida de Jesus.<br />A cronologia é um dos grandes acertos do autor. Uma coisa tão óbvia e me parece que jamais alguém tenha pensado nisso. Ao contar a história de Jesus do início até os dias de hoje, Frei Beto nos espanta com a simplicidade que é reconhecer início, meio e fim numa trajetória que sempre nos pareceu conturbada, cheia de idas e vindas,num misto de narrativas dos apóstolos com ensinamentos de catecismo e homilias confusas. Na verdade, é errado falar em fim quando se trata da história de Jesus e, lamento estar estragando o final do livro, mas o maior acerto do autor é nos fazer entender a dimensão da eternidade da missão divina, ou, se não entender, pelo menos acreditar, já que também nos ensina o livro que a fé não se trata de compreensão e sim de crença. Por mais que eu fale, acho que não conseguirei contar todos os ensinamentos com que o autor nos presenteia, são coisas que todos nós pensamos que já sabemos, mas só descobrimos de verdade ao entender o quanto não sabemos. É como se, ao vislumbrar um enorme horizonte a ser percorrido, conseguíssemos finalmente perceber o quanto do caminho já foi feito. A história de Jesus contada por Frei Beto não é só a história de Jesus, é uma maneira de revelar a história da humanidade por um olhar diferente de tudo, inclusive da bíblia. Ao humanizar Jesus Cristo, Frei Beto repete a intenção divina de nos fazer entender nossa criação segundo Sua imagem e semelhança. Por isso, ler Um homem chamado Jesus promove uma verdadeira transformação do leitor em apóstolo, aprendiz de alguém muito sábio. Um autor chamado Frei Betto.<br /><br />Gisela Cesariogigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-76166729774379925922009-11-14T17:53:00.000-08:002009-11-14T17:55:34.019-08:00Uma longa queda - Nick Hornby<strong>Sobre o quê:</strong> Quatro pessoas com vidas completamente diferentes têm a mesma idéia na noite de reveillon: se suicidar pulando de um famoso prédio de Londres. O encontro, além de evitar suas mortes, muda suas vidas.<br /><br /><strong>Crítica:</strong> Li quase todos os livros desse autor, digo quase porque dois eu parei no meio, e, finalmente, alegremente e sinceramente posso dizer que ele conseguiu de novo o que já tinha conseguido com Alta Fidelidade. Escreveu algo absurdamente fantástico.<br />São quatro narradores, os quatros suicidas, por isso a história consegue ter aquela alteração necessária de ritmo pra não ficar monótona sem mudar de assunto. Todos eles são incrivelmente egoístas, mesmo vivendo em mundos tão diferentes, por isso o ponto de vista de cada um conta quase a mesma coisa de uma forma totalmente oposta. Vejamos o grupo: um apresentador de TV mal-sucedido, uma adolescente revoltada, uma religiosa casta e mãe de um inválido e um jovem músico desiludido que virou entregador de pizza. Quase impossível pensar em pessoas que tivessem menos em comum. No entanto, um grande, imenso vazio as une, do tamanho de uma queda de muitos andares. É a perspectiva de vida. Os suicidas, opinião minha, além de serem algo egoístas, são também grandes visionários. Eles sabem que nada de bom vai acontecer. Eles sabem que não adianta mais tentar, nem esperar, nem desistir, nem mudar de direção, nem porcaria nenhuma. Eles sabem que já estão mortos, só falta a alma abandonar o corpo. Em suma: eles sabem mais que Deus. Não que eu tenha algo contra quem pensa em pôr fim à vida, quantas vezes já tive a mesma idéia? Quem nunca teve? Todos nós temos nossos momentos de pular do prédio e algo que nos segura (tirando, é claro, aqueles que realmente pulam).<br /><br />Engraçado que só agora que estou escrevendo essa resenha percebo que esse livro me fez lembra de uma música, tema de um filme que esqueci o nome. O filme (calma, não vou mudar de assunto) era sobre um monte de gente ferrada que morava num prédio abandonado e a música começava assim (era em inglês): “Agora que eu pulei, eu vejo que a vida é boa, a vida é tem alegria, magia e televisão e surpresas, a vida é cheia de surpresas.” Acho que é nisso que um suicida não acredita mais. Em surpresas. Se você pensa na mera possibilidade de uma surpresa, você não se mata, nem que seja por curiosidade. Você espera a próxima surpresa.<br /><br />O problema com as surpresas é que elas às vezes demoram tanto, mas tanto pra acontecer, que o sujeito se convence que sua vida será para sempre aquela sucessão de dias e noites aparentemente sem sentido e, já que não vai acontecer nada de bom mesmo, por que continuar? É como quando você desiste de um filme no meio porque tem certeza que ele não vai melhorar. Diria que em 99% das vezes a gente tem razão, o filme não melhora mesmo, alguns livros também não. Mas claro que não estou falando desse livro. Nosso autor conseguiu de novo fazer personagens que conhecemos tão bem que parecem nós mesmos em algum momento de nossas vidas. Pelo menos adolescentes e mal-sucedidos todos já fomos um dia.<br /><br />Talvez ser velho não seja perder a esperança e sim acreditar nas surpresas, saber esperar por elas. Saber que um dia elas acontecem. Um dia alguma coisa pode mudar sua vida pra melhor. E pode até ser um livro.<br />Gisela Cesário.gigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-12047063354089202802009-10-21T08:33:00.000-07:002009-10-21T08:34:30.750-07:00Bárbara não quer perdão – Antonio Más<strong>Sobre o quê:</strong> Num aparente acerto de contas, um travesti que teve, na infância, seus pedidos ignorados pela polícia, volta à cena para complicar a vida do mesmo Delegado que não lhe atendeu. Só que agora o próprio travesti é o criminoso e a tarefa do delegado tornou-se muito mais complicada.<br /><br /><strong>Crítica:</strong> Raramente as orelhas têm razão. Se eu fosse uma pessoa que faz piadas idiotas, eu diria que não se deve dar ouvidos às orelhas, mas não sou. Tanto é que a orelha de “Bárbara não quer perdão” fala bem claro que o leitor não será capaz de parar quando começar a ler. Bom, já vi essa frase tantas vezes que perdi a conta, mas dessa vez a orelha fala sério. Li em dois dias, não contínuos obviamente, mas poderia ter lido em um se meus intervalos de leitura fossem maiores que uma hora. E chega de tempo, né? Vamos à crítica, que não existe. É uma crítica tão boa que deve se chamar logo elogio.<br />Antonio Más, até então um autor desconhecido no meu ignorante mundo, acaba de se tornar um ídolo. Confesso que ajudou o fato de eu ter abandonado pelo meio dois suspenses de autores famosos da companhia das letras por pura falta de paciência de continuar. Claro que isso influiu pra eu escolher um autor que fala minha língua literalmente e que narra um romance passado na minha cidade, o rio de janeiro. Aparentemente, isso é meio caminho andado, mas já vi esse meio caminho ser desandado várias vezes, por isso, creio que o mérito desse autor sobreviveria ainda que ele estivesse escrevendo em finlandês sobre algo acontecido na republica tcheca.<br />A história se passa com uma agilidade incrível, daquele tipo que faz você virar as páginas tão rapidamente a ponto de quem está a sua volta pensar se você está realmente lendo ou apenas olhando. Só que, além da vontade de devorar, ele desperta ainda a vontade de saborear. Por isso, voltei algumas páginas, principalmente as finais, pra fazer um slow motion das manobras literárias de Antonio Más que mereciam ser apreciadas devagarzinho, estilo degustação.<br />É um suspense perfeito, onde ninguém é totalmente bonzinho ou totalmente mauzinho, todos os acontecimentos são verossímeis e os personagens, como em toda boa história, não são meros personagens. São gente de verdade. E o final é surpreendente inclusive pra quem, como eu, já espera um final surpreendente. Enfim, pra não dizer que é tudo impecável, a capa da minha edição é meio brega, irrelevante, já que pra mim as orelhas são mais importantes que as capas, apenas um registro para as futuras edições. Afinal, tenho certeza que não sou só eu que vou querer mais ou, pra fechar com um trocadilho tão bobo quanto o do início, todo mundo vai querer Más.<br /><br />Gisela Cesariogigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14627016.post-78713931983486571092009-07-15T13:54:00.000-07:002009-07-15T14:03:09.074-07:00Um trem noturno para LisboaSobre o quê: Mundus, professor de línguas clássicas em um liceu na Suíça, resolve, por causa do encontro com uma portuguesa, mudar completamente de vida. Então,após uma aula, ele simplesmente se levanta e decide ir para Lisboa a fim de fazer uma investigação tão complexa quanto o sentido da vida.<br /><br />Crítica: Existem histórias cujas palavras nos acariciam, nos consolam, como um cafuné materno que afasta nossos problemas e nos certifica que está tudo bem. O fato de “Um trem noturno para Lisboa” ser uma dessas histórias não é o mais impressionante. O mais impressionante é que normalmente, histórias assim são “água com açúcar” e essa obra, apesar de doce, não tem nada de molenga, pelo contrário. É uma história principalmente de uma alma inquieta, que não encontra paz nem mesmo nos sonhos.<br />Mundus, o solitário professor, percebe que, abaixo da calma superficial de sua rotina de aulas, existe um maremoto de emoções a serem vividas, a serem ainda descobertas. E, para alguém absolutamente viciado em linguagem como ele, a percepção não poderia ter vindo de outra maneira a não ser por meio de uma palavra, uma simples palavra: português. Como não se identificar? Nosso personagem vinha passando por uma ponte quando vê uma mulher prestes a se suicidar. Ao iniciar uma conversa com ela, vem a resposta que indica a língua natal da possível suicida: português. Pronto. Ao ouvir o som da palavra com pronúncia lusitana ( muito diferente da nossa, é verdade), Mundus se apaixona perdidamente, não pela mulher, mas pela palavra. Não parece muito louco? Talvez não, todo bom leitor tem suas palavras prediletas, mas acho que poucos resolveram transformar suas vidas por uma delas.<br />Próximo passo, Mundus vai até uma livraria onde encontra, além de Fernando Pessoa, um livro de uma única edição, cujo autor chama-se Prado. Acostumado a traduções gregas e latinas, um dicionário de português não é nada para esse cara. E lá vai ele para casa, lutar com o texto, tentando entender a vida do português médico e revolucionário. Horas depois, ele está em um trem para Lisboa, a terra do português (sem piadinhas). É impossível não sentir um certo orgulho em ser um dos falantes dessa tão fascinante língua, pelo menos na opinião dele. Mas o autor faz muito mais do que nos mimar. Ao investigar a vida e os textos de Prado, Mundus nos leva por uma incrível aula de filosofia, pois cada escrito descoberto do português traz questionamentos ao mesmo tempo óbvios e surpreendentes, como quando uma criança nos faz perguntas desconcertantes para as quais já esquecemos de procurar as respostas. E é justamente essa inquietude dos questionamentos que pacifica a alma do leitor. Como pensar em nossos idiotas problemas quando as coisas mais importantes de todo universo, como a vida e a morte, estão ali, na nossa frente, descritas em belíssimas e deslizantes linhas, sugando nossa atenção?<br />Portanto, ler “Um trem noturno para Lisboa” não é somente lazer, é também terapia. Cheguei mesmo a tomar algumas decisões importantes levada pela impetuosidade dos personagens. Claro que não vou dizer como termina a busca de Mundus, simplesmente porque sua história não é daquelas que acabam no fim do livro. Ela fica conosco, nos reconfortando ou desassossegando, quando menos esperamos ou quando mais precisamos, em algum lugar entre o cérebro e coração.<br />Gisela Cesariogigi cesariohttp://www.blogger.com/profile/07664940545434355968noreply@blogger.com10