Sobre o quê: Em seu leito de morte, um ancião de 100 anos e alguma coisa faz uma retrospectiva da sua vida. O passado tem como cenário um rio de janeiro marcado por grandes acontecimentos políticos, intensamente refletidos na vida da sociedade.
Crítica: Depois de tanto tempo sem fazer uma resenha, talvez essa seja a mais inútil das voltas. Elogiar o livro do Chico Buarque. Contar a todos a grande novidade: não há novidades. O autor fez o de sempre, foi brilhante.
E me faz feliz estar aqui, chovendo no molhado, dizendo que o texto de Chico é mais que prosa ou poesia, é musical de tão ritmado. Talvez por isso, da mesma maneira que desejamos ouvir várias vezes uma música boa, dá vontade de ler e reler os livros do Chico Buarque, como se estivéssemos simplesmente apertando o play.
Se antes o autor fazia músicas que contavam histórias, agora escreve história que cantam músicas. Palavras que, de tão perfeitas, soam como aquelas melodias que ganham novos sentidos e mais beleza a cada reprodução.
Há algo cíclico nos textos do Chico, que sacia uma sede que o próprio texto só faz aumentar. Ou aumenta uma sede que só o próprio texto pode saciar.
Um artesão de palavras. Assim é o autor que novamente nos presenteia com uma obra de arte. A vida de Eulálio, o velho moribundo que nas páginas vira menino inocente, jovem irresponsável, adulto ganancioso, sem nunca deixar de ser um homem apaixonado. Na história de seu amor perdido, ele perde também o poder, o dinheiro e a juventude.
Há algo de melancolia no livro de Chico, uma constatação cabisbaixa que a vida não se satisfaz em nos tirar a forma do corpo, os fios de cabelo, o brilho da pele, a vida faz questão, às vezes, de, antes de ir embora, nos tirar a própria dignidade.
A morte é o destino trágico de todas as vidas que, mesmo assim ou por isso mesmo, não precisam ser tão previsíveis e lineares. Podemos começar, terminar, recomeçar, parar no meio, voltar para outro ponto, como a memória caprichosa do velho personagem, como o texto perfeito de Chico Buarque. Cíclico, melancólico e irresistível como o próprio ato de viver.
Gisela Cesario
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