Sobre o quê: A obsessão dos fãs por seus ídolos é o tema que embala essa jornada do
autor à vida de um casal que não está junto por amor. O que realmente os mantém
unidos é o trabalho que o marido desenvolve sobre a breve carreira de um cantor
recluso. E para descobrir essa verdade, eles precisam pesquisar mais que discos
antigos.
Crítica:
Conheci Nick Hornby lendo "Alta Fidelidade", romance tão bom que continou
incrível ao virar filme. Tentei ler
outros livros do autor, mas simplesmente me pareceram autobiográficos demais,
como “Febre de bola”. Em “Juiet Nua e Crua”, que não sei quando foi escrito,
reencontrei o Nick de “Alta Fidelidade”.
O distanciamento, que parece existir de maneira
simples com a voz de um narrador ausente, ganha um papel maior ao longo da
história, fazendo com que o leitor se sinta observando a vida de um casal e de
um ex-ídolo de rock pela fresta de uma janela.
O marido é um daqueles fãs que, de tanto se dedicar a
seu ídolo, transformou isso em profissão e se autodenomina um especialista na
vida do ex-cantor de rock, uma estrela parecida com bob dylan e que teria
terminado sua carreira de forma abrupta e, no mínimo esquisita, após uma ida
ao banheiro em uma boate.
As milhares de divagações a respeito do que haveria
acontecido no banheiro para que o cantor abandonasse sua carreira nos levam a
perceber o quanto de loucura acomete quem resolve se dedicar a entender uma
pessoa sem o mínimo amparo na realidade.
Sobre o fato, há uma passagem no livro em que o
próprio cantor observa melancolicamente que ele se esforçou tanto para
construir um grande trabalho musical e seu mais famoso feito acabou sendo uma ida ao
banheiro.
É essa ironia do autor, que nos fornece lentes para
enxergar o o ridículo de toda realidade, o grande trunfo de "Juliet Nua e Crua".
Todos sabemos que a realidade não existe ou que
existem muitas realidades, mas nenhum de nós está preparado para a surpresa que
isso causa quando algo ou alguém que a gente considerava mítico se desfaz em ser humano
diante dos nossos olhos.
Não é à toa que as revistas de fofocas de
celebridades ganham tanto dinheiro com aquela seção idiota chamada “eles são
como nós”, onde os famosos aparecem indo ao supermercado ou enchendo o tanque
do carro. Óbvio que eles são como nós! Ou alguém imaginava que as atrizes
acordassem maquiadas e de salto alto como bonecas barbie? No entanto, todo
mundo fica surpreso quando descobre que seu ídolo é um ser humano.
No fundo, isso signifca que, por mais que você
esforçe, ainda que você ganhe o big brother ou case com o príncipe da
inglaterra, você continuará na sua condição de ser humano.
E ser humano significa ser inseguro, errar, botar
tudo a perder, falhar não só uma, mas repetidas vezes. Trair quem se ama ou
mesmo duvidar da existência do amor também são caracterísicas nossas que não
podem ser exatamente definidas como virtudes.
E que chatice! Somos todos a mesma coisa! É exatamente isso que o casal do livro não quer descobrir a respeito do ídolo das antigas. Eles querem pensar que os amores do cara não foram casinhos sem importância e as idas ao banheiro tiveram um grande significado oculto.
O que eles acabam descobrindo é: talvez ser uma
celebridade e só fazer coisas brilhantes pode ser muito mais chato que ser
humano e ter atitudes absolutamente imprevisíveis.
Sim, é possível ser real e ser incrível ao mesmo
tempo em que se é gente. E o amor verdadeiro pode se revelar muito mais
devastador que o amor de um romeu e julieta de mentira.
Mas não pense que estou estragando a surpresa do
livro. A única parte que estou contando é o que você já sabia. Nick Hornby
sempre pode ser surpreendente.
Um comentário:
Eu gostaria de seguir seu blog mas não encontrei link algum!
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