Wednesday, November 09, 2005

Mandrake - a bíblia e a bengala – Rubem Fonseca

Sobre o quê: Mandrake é um advogado criminal que já apareceu em dois livros: “E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto” e “A grande arte”. Agora o autor nos aproxima da vida pessoal e profissional e de Mandrake, contando suas diversas aventuras de detetive.

Crítica: Me perdoem se eu estiver errada (perdoem também esse começo ), continuo, mas esse livro não era para ser um romance, quer dizer, uma história só? Li na contracapa: “nova aventura de mistério e suspense”. Uma relação tão estreita quanto a de um livro com o leitor não pode começar com uma mentira. Senão a primeira coisa que o leitor sente é decepção. Sou fã de carteirinha do Rubem Fonseca, mas foi isso que senti quando percebi que o livro é quase um livro de contos, como as aventuras de Ed Mort. Claro que isso não desmerece em nada o livro, mas quem compra uma banana quer uma banana, por mais que goste de maçãs. Fruta por fruta, o livro também não é um abacaxi, mas precisava registrar esse fato que teria mudado minhas expectativas e conseqüentemente minhas opiniões, que é melhor eu dizer logo quais são. Vamos lá. Ninguém abre um livro do Rubem Fonseca sem um grande tesão. Como também sou fã de romances policiais, estava maravilhada com o fato de um de meus autores preferidos ter escrito um e mais maravilhada porque ele estava nas minhas mãos, pronto para ser devorado. Fui devorando até o meio quando percebi que havia uma grande divisão entre a bíblia e a bengala. São duas histórias distintas que tem o personagem principal, Mandrake, e alguns outros em comum, mas são duas e não uma como se induz o leitor a pensar. Se você compra um livro cujo nome é Romeu e Julieta, você não acha que primeiro vai ler a história do Romeu, depois a da Julieta, e, no meio da última, algumas outras. Isso doeu. E doeu mais porque é o Rubem Fonseca. Respirei fundo e me conformei. Não foi difícil porque o Mandrake é o personagem mais Rubem Fonseca de Rubem Fonseca, engraçado, cínico, amoral, o detetive por quem se apaixona todo aquele que ama histórias policiais. As do Mandrake são divertidas, mas (infelizmente) não têm a estrutura que um policial classe “A” deve ter. Principalmente a da bengala, onde há falhas que bons detetives de história de detetives certamente vão encontrar. Quer um conselho? Fique com a vida do Mandrake e esqueça os mistérios. Ele é o lado Rubem Fonseca do livro. Quer outro? Espere o próximo livro do autor e torça para que esse seja inteiramente Rubem Fonseca.

Gisela Cesario

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