Monday, February 06, 2006

Um céu demasiado azul - Viegas

Sobre o quê: Desvendar o assassinato do filho de um importante membro do ministério. Com esse desafio, dois detetives amigos se reúnem e acabam fazendo um balanço das próprias vidas.

Crítica: Bom, no sobre o que me deu vontade de escrever “boa pergunta”.
Eu mesma me fiz essa pergunta várias vezes durante o romance. Com uma prosa bem envolvente, Viegas vai nos envolvendo pra não dizer nos enrolando e mistério que é bom, necas. Por ter um texto tão agradável, não chega a ser nenhum sacríficio ler as bem traçadas linhas desse autor, mas sobre o quê era mesmo que estávamos falando? É isso que acontece. A gente esquece o objetivo do livro se é que existe algum objetivo, se é que precisa existir algum objetivo num livro além do prazer de ler. Ou não. Um Céu Demasiado Azul é assim,ofuscante. O céu é tão azul que a beleza dessas descrições, das histórias paralelas ofusca o mal iluminado mistério. Sabe quando você entra num ônibus que dá tanta volta que te faz esquecer aonde estava indo? Dizer isso pode parecer meio vago, mas aí vai um dado concreto: os dois personagens principais somente se reencontram na página duzentos. Pelo amor de Deus, a história se baseia no reencontro deles ( leiam a orelha e comprovem!), é um pouco demais esperar até a página duzentos pra começar o que devia ter começado lá onde se começa um livro, nas primeiras páginas. A partir daí, o romance pára de entrar em todas as ruas que encontra e finalmente segue uma linha razoavelmente reta. Até senti algum interesse de saber o desfecho do suspense, quem era o assassino, porquê, esses detalhes que diferenciam um livro de mistério de outro. Só que já era tarde demais, várias vezes voltei as páginas para me lembrar o nome de um personagem, que era ele, por que estavam falando dele. Os nomes parecidos e o português de Portugal não ajudam muito. Alguns autores estrangeiros, normalmente os americanos, têm uma mania muito chata de colocar personagens com dois nomes como, por exemplo, Jack Smith, até aí tudo bem, mas tem horas que se diz Jack saiu, depois vem Smith voltou. Vaí aí um parentêse da minha opinião sobre esse hábito ( Repetir nome não é falta de vocabulário, é demonstração de clareza, o leitor deve ficar ansioso pra saber o final do livro e não de quem o autor está falando) Pronto, parêntese feito, volto ao céu azul de Viegas, onde a gente se perde e não se importa muito em se encontrar de volta, pois o caminho está tão bonito...Não é um romance empolgante, não é um suspense intrigante, mas mesmo assim, a gente tem vontade de continuar lendo, talvez por não acreditar que um texto tão bom simplesmente não vai dar em nada. Apesar dessa decepção, Viegas nos deixa um pouco poéticos e não posso deixar de lembrar daquele música: “Se eu quiser falar com Deus tenho que dar às costas, caminhar, decidido, pela estrada que ao findar vai dar em nada, nada, nada, nada do que eu pensava encontrar.”
Gisela Cesario

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