Friday, December 23, 2005

Cuba e a Noite - Pico Iyer

Sobre o quê: Em uma de suas muitas visitas a Cuba, um fotógrafo americano se apaixona por uma cubana, mas a situação política do país não permite que eles tenham um romance normal. Isso faz com que ele fique sempre em dúvida se a cubana quer realmente casar com ele ou apenas fugir de Cuba.

Crítica: Existem coisas às quais a gente só dá valor quando perde. Pessoas de quem a gente só percebe que gosta depois que vão embora. E livros que a gente sente mais vontade de ler depois do final. Talvez porque só o final, só as últimas palavras revelem a beleza do que passou e você não viu. E agora, com essa beleza nos olhos, o leitor se sente pronto a ler tudo de novo, dessa vez imbuído do espírito do final. Foi isso que fiz com Cuba e a Noite. Só que talvez tenha esperado tempo demais. Foram anos entre o final e o recomeço. O espírito se perdeu. Comecei a reler desinteressada, desconfiada de mim mesmo e do livro.
Não vou negar que, nas primeiras páginas, a história parece pegar no tranco. A visão do autor parece americana demais, a visão da cubana parece americana demais, tudo parece americano demais, cheguei a pensar que eu não entendia nada de política quando era mais nova e gostei desse livro. Mas, vencendo os buracos do caminho, descobri que esse negócio de americano demais estava mais na minha cabeça que na história. Estamos todos com um pé atrás com os USA desde a guerra do Iraque, mas não vamos punir Cuba e a Noite por isso. Enquanto Richard, o fotógrafo, vai se deixando conquistar pela cubana e pelas contradições desse país que nos lembra o nosso Brasil, a gente vai se deixando conquistar pela história, pelos personagens que já não parecem nem cubanos nem americanos e começam a lembrar nossos conhecidos. Mães preocupadas, gente que sempre dá um jeitinho em tudo, policiais não muito honestos e aquelas pessoas incríveis que sempre conseguem transformar a pior das situações em uma festa. É impossível não ficar deliciosamente embriagado, não só com rum, mas com os desejos revolucionários, as praias, as poesias de Martí...
E é aí, justamente quando tudo começa a ficar quase estranhamente perfeito, aí é que vem o momento: o livro acaba e eu fico do mesmo jeito que da primeira vez. Com vontade de ler de novo. Agora já sabendo o quanto de sensibilidade, pureza e beleza existe nesse romance. Mas eu tenho outras coisas a fazer na vida. Não posso passar a existência relendo Cuba e a Noite. Só que tenho certeza, algum dia no futuro vou passar por uma prateleira, que pode ser até a minha aqui de casa e ele vai me chamar outra vez. E outra vez eu vou reler pra me lembrar do que eu tinha gostado tanto. E outra vez só vou descobrir no final. E outra vez vou querer reler. Cuba e a noite é a vida. Feita de encontros importantes que a gente só dá importância quando se tornam despedidas.
Gisela Cesario

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