Sunday, December 04, 2005

O segredo de Emma Corrignan - Sophie Kinsella

Sobre o quê – Emma é uma garota inglesa comum, pesa mais do que as pessoas imaginam, sabe menos do que o patrão imagina etc. Um dia, numa viagem de avião onde ela pensa que vai morrer, resolve contar todos os seus segredos ao cara sentado ao seu lado, o que ela não sabe é que esse cara é o dono da empresa em que ela trabalha.

Crítica – Escrever por inspiração e escrever sob encomenda sempre foram tidos como coisas opostas, um é o ápice da nobreza, a autêntica manifestação da arte nas pontas dos dedos de um ser abençoado chamado escritor. Outro é uma necessidade financeira, olhado com desdém e que jamais deveria ser comparado com arte. Por que estou dizendo isso? Porque Sophie Kinsella não conhece essa barreira. Ela simplesmente ignora essas definições. Por isso, seu primeiro livro, provável fruto de simples inspiração, é simplesmente tão genial quanto o segundo que é tão genial quanto o terceiro que é, PASMEM, tão absolutamente genial quanto “O segredo de Emma Corrignan”. Como ela faz isso? Não sei. Isso deve ser o segredo de Sophie Kinsela. Depois do sucesso de “Os delírios de consumo de Becky bloom” ninguém esperava uma coisa igual da autora, nem eu. O segundo me surpreendeu, o terceiro idem, mas o quarto, no qual ela abandona a sua personagem consumista e parte para outra, o quarto me deixou aterrorizada. Sophie tem poderes sobrenaturais. As palavras dessa autora nos enfeitiçam de uma forma que 300 ou 400 páginas de repente parecem um bilhete. De repente, nada mais importa, nem a sua própria vida, só faz diferença saber qual será a próxima confusão do romance. É incrível como ela consegue manter um suspense permanente, mais concreto e perene que a maioria dos livros policiais, uma situação totalmente inusitada vai se sucedendo a outra até o final da história. E o leitor se pega querendo saber só como vai terminar determinada confusão e depois vai tratar da sua própria vida, mas quando vê, a confusão não termina nunca e quando mais confusão, mais a gente gosta, mais páginas a gente quer o livro tenha. Vou confessar. Nas últimas 50 páginas dos livros de Sophie, eu tento diminuir o ritmo, como um praticante de sexo tântrico literário, tento aumentar a distância entre eu e o final. Sei que a última linha vai me provocar um enorme vazio, uma solidão gigantesca, uma sensação de abandono completo. Terminar um livro dela é como ser expulsa do útero materno, passa-se de um mundo de sonho a nossa realidade inóspita. Só uma coisa nos consola. Sophie é muito, muito jovem. Se Deus quiser e nos rezarmos bastante, ela ainda há de escrever muito.

Gisela Cesario

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