Wednesday, August 02, 2006

A morte é um número par - Alan Luxardo

Sobre o quê – Barone é um delegado gostosão que, entre um mergulho na piscina e outro, investiga um crime, entre uma namorada e outra, desvenda um mistério e, entre um filme de ação de outro, lê Agatha Christie.

Crítica: Uma vez escrevi um artigo sobre a incapacidade de os clientes acreditarem que um anúncio bonito vende, calma, não fiquei louca, vou chegar lá. Isso tem a ver com a incapacidade humana de acreditar que no que parece “bom demais pra ser verdade”. Um anúncio bonito e inteligente não pode ser vendedor. Assim como o gatão italiano delegado solteiro com um sorriso lindo na orelha do livro não pode ter escrito um bom suspense. Mas a vida, como eu vivo comprovando, não é equilibrada. As piores coisas desse mundo acontecem com quem já está na maior pindaíba. Enquanto isso, dinheiro chama dinheiro, rico ri à toa e Alan Luxardo não só é um escritor muito bom, mas também é muito, mas muito bom escritor.
Se eu fosse uma centopéia, teria começado a ler com 99 pés atrás, era o primeiro livro dele, era um policial escrito por um policial e o título era esquisito. O texto não é poético, como diriam coleguinhas críticos, não é uma prosa elaborada, às vezes é até meio cru, ouve-se o barulho do motor acelerando antes de o carro esquentar, mas depois que ele esquenta, dane-se a prosa, dane-se a poesia, o que a gente quer saber é quem foi o assassino.
E o que, nesse mundo desequilibrado de Meu Deus, pode ser melhor do que um livro de suspense que deixa a gente morrendo de curiosidade? Cheguei a pensar nisso várias vezes durante o dia, pensei dirigindo, pensei tomando banho, era como se fosse um problema de verdade. Desde Agatha Christie não ficava tão curiosa. ( Ah, claro que também sou fã.)
É um suspense conciso, perfeitamente amarrado e energicamente narrado. Como se fosse um filme de ação mas com o cuidado que os bons mistérios devem ter, fatos logicamente desencadeados, como uma equação matemática, você faz a prova dos nove e tudo bate.
Além disso, Barone, cuja descrição faz a gente pensar num cara ridículo pelo simples fato de ser brasileiro, está longe de ser ridículo. Barone poderia entrar num filme de 007 e deixar o Bond morrendo de inveja. Ele tem aquela mágica de conseguir ser tudo, inclusive verossímil. Acho que vai virar filme, mas eu espero mesmo é a próxima aventura do delegado Barone. Só não sei se esse Barone é páreo pra um outro delegado, um tal de Alan Luxardo.

Gisela Cesario

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