Monday, January 15, 2007

A última sessão de cinema – Larry Mc Murtry

Sobre o quê – Sonny passa de adolescente a adulto em uma pequena cidade do Texas. Um lugar onde parentes, amigos e vizinhos se confundem. Assistir a filmes no único cinema da cidade é uma das poucas opções de lazer.

Crítica – Todo mundo já ouviu falar desse filme, tanto que talvez nem precise ver pra saber como é. Uma espécie de cine paradiso americano. Mas, como as palavras tem sempre algo a mais a nos dizer do que as imagens, achei que deveria buscar minha avaliação de a última sessão de cinema no livro que deu origem ao filme.
É uma daquelas obras que, pela linguagem cinematográfica, parece predestinada a virar filme. Mesmo sem ser excessivamente descritivo, as paisagens tornam-se claras e vivas a cada página. É possível sentir o vento seco no rosto, o ar irrespirável, mistura de deserto e solidão, que atinge os personagens.
Envolvente como uma novela, não é daqueles livros que a gente não consegue largar porque precisa saber o final. Na verdade, seria até bom se o final não chegasse. Se a adolescência de Sonny, os seus casos amorosos, os porres com os amigos, tudo isso durasse para sempre.
Claro, a última sessão de cinema é o fim do sonho e o ínicio da realidade que a vida adulta representa. A história de Sonny não é diferente da de qualquer jovem, viva ele em Talia, Nova Iorque ou Bangadlesh. Ele é apaixonado pela namorada do melhor amigo, que só é apaixonada pela própria beleza, que tem uma mãe alcoolátra, que já foi namorada de um cara legal, que hoje é um velho triste, dono do único salão de sinuca, que é onde todos se encontram. Sonny também tem um caso com a mulher do treinador de futebol, que é um homossexual enrustido, cuja esposa insatisfeita se satisfaz pela primeira vez com a traição. Enfim, a cidade de Sonny poderia ser a cidade de qualquer um.
Vista pelos olhos do adolescente, Talia é o mundo inteiro, sábado à noite é o único momento que importa, a cerveja que ele está bebendo jamais vai terminar, o filme nunca terá um the end e o beijo da garota que está com ele vai continuar até que o universo se dissolva.
Talvez por isso, o livro dá a impressão de não acabar. Não há um final como um destino reservado para cada personagem. É como se a câmera fosse se afastando e depois da útlima página a gente simplesmente não conseguisse mais ver a cidadezinha nem o que está acontecendo com o Sonny.
Quando estamos num lugar que parece parado no tempo, a ilusão da eternidade toma ares de realidade. O texto de Larry McMurty faz a gente sentir esse gostinho novamente, o gosto daquela bala de hortelã que ficou perdido em algum filme da adolescência. Uma sessão de um cinema que a gente não lembra o nome porque ninguém nos avisou que seria a última.
Gisela Cesario

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